Os moradores que moram no fim da Estrada do Cocaia no Jardim Gaivotas, distrito do Grajaú, na zona sul de São Paulo, vêm organizando petições desde 2014 para que a linha de ônibus se estenda até a altura do número 5900.
Atualmente, o ponto final da linha 6074-10 vai até a Rua Guilherme Role, 2270, próximo a Paróquia Nossa Senhora do Rocio e São Vicente de Paulo, e os moradores precisam andar de 15 a 20 minutos para chegar em casa.
Nessa parte do bairro, apenas a rua principal é asfaltada e existem três escolas que atendem 700 crianças da região. São elas os CEIs (Centros de Educação Infantil) Estrela da Manhã e São Francisco de Assis e a EMEI (Escola Municipal de Educação Infantil) Canal do Cocaia. A Agência Mural foi até o local para entender a situação dos moradores.
Mobilidade e segurança
Desde que o primeiro complexo de educação foi fundado na Estrada do Cocaia, em 11 de junho de 2014, a população passou a fazer abaixo-assinados em prol da extensão da linha de ônibus que liga o Jardim Gaivotas à Estação Jurubatuba de trem.
Para se ter uma noção da distância, quem mora no final da estrada, local conhecido como Jardim da Toca, precisa fazer mais de 1 km de caminhada para chegar ao ponto de ônibus mais próximo.
Para além desse trajeto, esses moradores demoram cerca de 1 hora para chegar ao Terminal Grajaú, que dá acesso ao trem da linha 9-esmeralda da ViaMobilidade que leva os trabalhadores ao centro da cidade.
“As pessoas que moram aqui se sentem jogadas, porque ninguém dá valor para quem vive no fundão. Estão à mercê de qualquer coisa e a gente que vem trabalhar é pior ainda, porque chegamos com medo”, conta Maria José de Moraes Rocha, 53, professora de educação infantil.
A educadora começou a trabalhar na CEI Estrela da Manhã no ano passado e conta que as dificuldades são ainda maiores durante os períodos de chuva, pois o transporte coletivo atrasa e atrapalha a chegada nas unidades escolares.
Os pais que moram longe da escola e não conseguiram o TAG (Transporte Escolar Gratuito) também enfrentam problemas, pois saem de casa de madrugada para deixar os filhos na escola às 6h da manhã e sentem medo pela falta de iluminação da rua.
Valdirene dos Santos, 43, trabalha no administrativo da creche e diz que a a falta de transporte também tem prejudicado a segurança por conta da falta de movimento no bairro. Ela diz que a viatura policial não costuma fazer rondas na região.
“Nos fins de semana, as ruas são desertas e já tivemos muitos casos de assalto. O transporte deveria vir aqui pelo menos durante o horário de pico, porque já ajudaria muito”, relata.
“É um descaso com a população. As pessoas levantam às 4h da manhã, chegam a meia noite em casa e são assaltadas neste caminho”, diz Taniara Ferreira, 39, que vive na região há 3 anos.
As moradoras também relatam que serviços de transporte por aplicativo e o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) também não vêm ao local quando chamados, por ser considerada zona de risco. Em casos de emergência, a pessoa precisa aguardar até o dia seguinte para conseguir a locomoção para o atendimento médico.
“Parece que os governantes esqueceram dessa região aqui. A gente precisa de alguém com o olhar que nos ajude. São muitos anos que estamos pedindo respeito”
Taniara Ferreira, 39, moradora do Jardim Gaivotas
Respostas negativas
A SPTrans alega que, constantemente, realiza estudos para as melhorias de infraestrutura para o transporte público na região do Grajaú para que tenha uma redução significativa das distâncias percorridas na interligação com determinados polos da cidade, bem como dos respectivos tempos de viagem.
Em relação à mudança de localidade do ponto final, a companhia diz que realizou estudos e vistorias onde foi detectado que as vias internas do bairro apresentam larguras variando entre 4,50 e 8 metros, calçadas sem pavimentação e veículos estacionados ao longo da via em ambos os sentidos, fatores que inviabilizam o tráfego de coletivos.
Os moradores questionam essa justificativa. “Eles falam que aqui não tem como o ônibus virar, mas é mentira, porque dá muito bem pra fazer o retorno. Até o caminhão de lixo consegue fazer isso. E se não dá pra estender, que pelo menos façam o ônibus circular”, indica Joselma Pereira dos Santos, 41, moradora do Jardim Gaivotas há mais de 30 anos.
Todos os abaixo-assinados foram encaminhados ao vereador Arselino Tatto (PT). O último foi enviado em março de 2023, quando a SPTrans respondeu ao pedido com a resposta negativa novamente.
“Esclarecemos que o local sugerido para instalação do ponto terminal localiza-se lateralmente à Represa Billings, em área de manancial”, diz a empresa.
“Acrescentamos que no local solicitado inexiste infra-estrutura de apoio aos operadores e espaçamento suficiente para acomodação e manobra dos veículos ou viário alternativo, impossibilitando o remanejamento de ponto terminal de linha e/ou a mudança de itinerário.”
Fernanda Vicente da Silva, 37, diretora do CEI Estrela da Manhã, aponta que vêm notando o crescimento da população nas áreas de mananciais, mas isso ocorre por conta da necessidade de moradia.
Pela falta de assistência das políticas públicas, essas famílias acabam se refugiando para áreas de condições precárias.
“Existem casos das crianças que estão matriculadas e frequentando a escola, e de repente ocorre o despejo dessas famílias. É super doloroso para nós e para as famílias quando dizem que perderam a casa e agora vão ter que se mudar para outro lugar”, desabafa.