Há sete anos, quem precisa de um atendimento de urgência em psiquiatria no Hospital Regional em Ferraz de Vasconcelos, na Grande São Paulo, encontra dificuldades. A enfermaria psiquiátrica da unidade, que é de responsabilidade do governo do estado, está fechada desde 2014.
O Hospital Regional, além de atender a população de Ferraz de Vasconcelos, também serve de referência para a população das cidades vizinhas de Poá e Suzano.
Em 2017, o então secretário de estado de Saúde, David Uip, informou que a ala psiquiátrica seria reformada em 2018, ainda na gestão Geraldo Alckmin (PSDB). A reforma só começou efetivamente em 2019, já na administração de João Doria (PSDB), com previsão de entrega para 2020, o que não ocorreu.
Segundo a SES (Secretaria Estadual de Saúde), a reforma está em fase de conclusão, prevista para este semestre, e R$ 7,4 milhões estão sendo investidos nas obras em curso.
Ainda de acordo com a SES, apesar da enfermaria estar fechada, os pacientes que ingressam na unidade apresentando quadro psiquiátrico não ficam desassistidos.
Todos passam por atendimento no Pronto-Socorro, são mantidos em observação e, se houver necessidade de internação, são cadastrados no sistema Cross (Central de Regulação e Oferta de Serviços de Saúde), para transferência a serviços de referência.
Porém, o problema da ala psiquiátrica fechada vai além da falta de atendimento de urgência. Segundo o psicólogo Rafael Cislinschi, 35, que atua na rede pública de saúde da região, a não entrega da obra causa a falta de leitos para estabilização e acompanhamento dos pacientes.
“Não são todos os dias, mas há um plantonista para atendimento de urgência. Só que, muitas vezes, quando o usuário é medicado na hora, ele não tem condições de ter alta imediatamente, ele precisaria ficar mais alguns dias em observação”, afirma.
Segundo o psicólogo, os pacientes da psiquiatria vão para a estabilização nos leitos de enfermaria comum, com os demais pacientes, o que é inadequado. A falta de pessoal especializado, como enfermeiras e assistentes sociais, obriga a família a desempenhar esse papel dentro do hospital.
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Pedindo a reabertura da unidade, o Fórum de Saúde Mental do Alto Tietê, movimento do qual Rafael faz parte, organizou um ato no domingo (16). Cerca de 15 pessoas estiveram no local, entre eles trabalhadores e usuários.
Para eles, a unidade fechada é reflexo de uma política do governo estado, que privilegia a internação psiquiátrica, sobretudo de dependentes químicos, em comunidades terapêuticas, muitas vezes controladas por entidades religiosas. Questionado sobre essa afirmação, o governo estadual não se posicionou.
Os manifestantes também chamaram atenção para o Dia da Luta Antimanicomial, nesta terça (18). A data é o momento dos profissionais da saúde mental relembrarem a evolução no tratamento de pessoas com doenças ou transtornos psiquiátricos no país, que deram uma guinada a partir da criação do SUS (Sistema Único de Saúde).
Foi a partir do SUS que os manicômios, famosos pelas violações de direitos humanos, deixaram de ser um método válido de tratamento psiquiátrico.