Quando os sintomas de Covid-19 começaram, a assistente social Fernanda Bianca da Conceição, 31, decidiu esperar antes de procurar atendimento. Mãe de um filho de três meses, ela temia se expor na unidade de saúde de Heliópolis, na zona sul de São Paulo, e levar a doença para a casa.
“Os sintomas começaram a aparecer numa segunda-feira, mas avaliei se ir ao posto seria arriscado. Posterguei muito, com medo de filas, de lotação, e estava tratando como uma gripe”, relembra.
Vacinada com as três doses contra Covid-19, Fernanda conta que ligou o alerta quando percebeu estar sem olfato e resolveu procurar atendimento médico.
A região tem enfrentado um aumento na demanda da procura pelos serviços de saúde nos últimos dias com a maior busca de testes em meio ao surto de gripe e a variante ômicron.
“Na sexta-feira, fui com pensamento que era só uma gripe. Fiz o teste e deu positivo”, conta Fernanda. “Meu medo era de passar para o meu bebê, minha filha, de 10 anos, ou minha mãe, de 59. Chorei muito”.
“[A situação] nos preocupa, porque pode resultar acúmulo de funções dos profissionais de saúde da área e que acabam não dando conta do volume”, observa Reginaldo José, coordenador do Observatório de Heliópolis de Olho na Quebrada da Unas (União de Núcleos, Associações dos Moradores de Heliópolis e Região), ONG que atua na região desde 1978.
Ele é casado com Fernanda e tem visto com apreensão a situação dos últimos dias. Para exemplificar, ele conta que este mês o Hospital de Heliópolis teve o setor de triagem fechado. “Foi informado que a grande maioria dos profissionais que atuam ali estavam contaminados pelo Covid-19 e não tinham substitutos para atender a população”, diz Reginaldo.
Segundo reportagem do site G1, o caso ocorreu no último dia 9 de janeiro e um aviso com papel foi deixado na porta do pronto-socorro avisando que estavam sem o serviço de triagem e o hospital só estava realizando urgências.
Procurada, a Secretaria Estadual de Saúde negou a informação do fechamento do setor de triagem. Na última segunda-feira (17), a pasta disse que 40 profissionais de saúde do hospital estavam afastados por suspeita ou confirmação de Covid, mas que para garantir a assistência estavam remanejando equipes da unidade, autorizando plantões extras e convocando mais profissionais das equipes terceirizadas.
Para Fernanda, avaliar a Saúde na região também diz respeito à contribuição popular nesse momento. “Nós temos bastante equipamentos por aqui, até em torno de Heliópolis, mas não generalizando, a Saúde não anda bem por conta da consciência das pessoas também”, avalia.
“Você passa no bar e está cheio, está tendo fluxo de fim de semana e você vê pessoas sem máscaras. Os hospitais estão fazendo a parte deles na medida do possível”.
Queda nas doações
O agravamento da crise econômica em meio a alta de preços também foi citada por Reginaldo como uma preocupação na região.
A falta de doações atingiu a Unas. Na pandemia, a organização desenvolveu uma campanha para doação de cestas básicas e produtos de higiene pessoal para as famílias que sofreram maior impacto no período.
Contudo, nos últimos tempos essas doações têm diminuído, segundo Reginaldo José, coordenador do Observatório de Heliópolis de Olho na Quebrada da Unas. “Infelizmente, as empresas e pessoas que doavam pararam de doar”, conta, citando a piora na vida dos moradores.
“Muitos perderam emprego, estão sem renda, sem auxílio emergencial e não conseguiram outro emprego. Então a gente pede que as empresas continuem a doar para continuar desenvolvendo esse trabalho”, diz.
A queda nas doações também foi citada por lideranças de outras periferias da capital como a Brasilândia e Paraisópolis. A última tem buscado criar um novo plano para reduzir o impacto da Covid-19 na comunidade.
Para ajudar
Para doar ao Unas, de Heliópolis, você pode acessar o site www.unas.org.br/doe ou ir até a sede central na Rua da Mina Central, número 38;
Para ajudar a Amavb (Associação de Moradores do Alto da Vila Brasilândia – AMAVB), você pode entrar em contato pelo e-mail: amavilabrasilandia@gmail.com.