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Mulheres criam rede no Capão Redondo para oferecer apoio psicológico e doar alimentos

Por: Gisele Alexandre

Para conter a fome e acolher mulheres no Capão Redondo, periferia da zona sul de São Paulo, integrantes da Escola Feminista Aby Ayala criaram uma rede de apoio durante a pandemia da Covid-19. 

Por meio de uma vaquinha virtual, o grupo arrecadou R$ 15.810 que tem sido usado para apoiar 100 mulheres chefes de família, por no mínimo três meses, com doação de cestas básicas, alimentos orgânicos, água, produtos de limpeza, álcool 70% e máscaras. 

“Estamos assolados pela violência institucional e generalizada nesse território. A gente quer construir intervenções feministas, para fortalecer outras mulheres que ainda não estão com a gente”, diz a escritora Helena Silvestre, 35, ativista educadora popular, fundadora da Escola Feminista Aby Ayala.

A rede tem atuado de duas formas. Além das doações, as mulheres são acompanhadas por integrantes da coletiva feminista, que se dividem para estarem próximas como forma de acolhimento nesse momento de pandemia.

“É importante pensar que estamos passando por um processo de luto coletivo, que vai chegar de maneira muito individual para cada uma das pessoas”, avalia a psicóloga Andrea Arruda, 51, integrante da Escola Feminista Abya Yala e que atua voluntariamente na campanha.

“Ter um espaço mínimo de fala e de escuta, pode ser um sopro de vida para essas mulheres”, ressalta.

Mulheres da Escola Feminista em ação no Capão Redondo @Divulgação

Elas também abriram um canal para ajudar mulheres que precisarem no cuidado de crianças, realizando compras, coletando ou entregando doações ou com apoio jurídico.

Outra frente de trabalho que tem sido importante para as mulheres na zona sul é o auxílio psicoterapêutico oferecido àquelas que se encontram em situação de sofrimento emocional agravado, neste período de pandemia, e que não possuem recursos financeiros para pagar uma ajuda profissional. 

O acolhimento é feito por psicólogas credenciadas junto ao Conselho Federal de Psicologia, que integram a Escola Feminista. As consultas são feitas por meio de plataformas online como Whatsapp, Skype, Zoom, Whereby etc. As interessadas podem entrar em contato pelo e-mail saudemental.periferia@gmail.com.

“A gente sabe que as coisas estão ficando cada vez mais conflituosas, com pouquíssimo espaço de saúde mental, de poder continuar a vida sem esse tipo de acompanhamento. A ideia é que a gente esteja atuando efetivamente neste período”, diz Angela Quinto, 64, psicóloga participante da Abya Yala.

Famílias receberam cestas básicas, após campanha da Escola Feminista Abya Ayla @Divulgação

No Capão, a cada 20 minutos uma mulher é vítima de violência doméstica e pede socorro no número 180.

De acordo com dados obtidos pela Folha de São Paulo, via Lei de Acesso à Informação, em 2019 o Capão Redondo liderou ranking de violência contra a mulher em São Paulo, sendo responsável por 6% de todos os pedidos de socorro.

Diante do isolamento social, medida essencial para conter a pandemia da Covid-19, a violência contra às mulheres em todo Brasil se acentuou e as denúncias no número 180 aumentaram 9%, segundo o governo federal. 

Pela cidade, o número de denúncias aumentou durante a pandemia do novo coronavírus. A Escola Feminista também está recebendo denúncias de violência doméstica, situações no trabalho, no comércio ou serviço público por meio de um formulário.

Grupo se reunia uma vez por mês e agora seguem com conversas virtuais durante a pandemia @Gisele Alexandre/Agência Mural

FORTALECIMENTO E ORGANIZAÇÃO

Criada há cerca de um ano, a Escola Feminista Abya Yala conta com a participação de 50 mulheres, entre elas mães, donas de casa, ativistas, educadoras, artistas, psicólogas, a maioria moradoras de periferias.

Os encontros que eram feitos uma vez por mês, de forma itinerante, quando se reuniam para debater textos. Agora, elas têm conversado de de forma virtual sobre as ações durante a quarentena. 

“É desse lugar que a gente olha a realidade”, conta Helena, que é afroindígena feminista favelada, como ela mesmo gosta de se definir.

“A escola é um espaço de estudo em que nós, mulheres de quebrada, nos ajudamos a estudar e entender as discussões mais importantes sobre as engrenagens das opressões, como o processo de colonização que se realizou e as relações dessa colonização com o machismo e com o racismo”, diz Helena, idealizadora da escola.

Para a professora Lígia Harder, 54, moradora do Jardim Ângela, as reflexões geradas nos encontros permitem que novos horizontes se abram. 

“Depois que comecei a participar dos encontros mudei minha postura. Os estudos acrescentam e muito na minha prática diária, me faz entender todo o processo histórico”, conta Lígia.

O nome da escola, Abya Yala, é oriundo da língua da tribo Kuna, originária da Serra Nevada, no norte da Colômbia, significa Terra madura, Terra viva ou Terra em florescimento. Foi como os povos originários nomearam o continente hoje conhecido como América, antes da colonização européia. Desta forma, o grupo faz o resgate de uma história que foi apagada ao longo dos séculos.

Para Helena, é importante marcar que o feminismo periférico – aquele vivido por mulheres que estão à margem dos direitos sociais, que são pobres, negras, indígenas, afroindígenas.

“Vivendo nessa sociedade extremamente machista, onde temos que ficar se provando a todo tempo, estar junto com outras mulheres trocando vivências me deixa mais fortalecida”, conta Jucileide Macedos Dias, 36, publicitária e empresária periférica do Jardim São Luis.

Para saber mais sobre a Escola Feminista Abya Yala acesse a página no Facebook

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