Andrea Jesus, 49, mãe de quatro filhos e diarista, sai de casa cedo e retorna tarde da noite, às 22h. “É uma correria, sabe?”, conta a moradora da Vila Piauí, na zona oeste de São Paulo, perto do limite com Osasco, na Grande São Paulo. “Enquanto estou conversando com você, vou esquentar minha comida, preciso acordar amanhã cedo.”
Residente do bairro há 34 anos, ela compartilha as frustrações com as poucas opções de transporte público da região.
“Esses dias, gastei uma hora só para ir da Vila Piauí para a Vila dos Remédios. Não mudou quase nada em todos esses anos. Eu trabalho às vezes em Pirituba e lá é uma região bem complexa também”, lamenta Andrea.
A Vila Piauí está localizada no distrito de Jaguara, que faz parte da Subprefeitura da Lapa ao lado da Barra Funda, Vila Leopoldina, Jaguaré, Lapa, Perdizes e Pompeia.
Embora ocupe o 10º lugar entre os distritos com maior pontuação geral de desempenho obtido na educação, cultura, mobilidade e habitação, de acordo com o Mapa da Desigualdade, o Jaguara é o 67º em termos de acesso a transportes de massa – apenas 3% dos 23 mil moradores está a 1 km de estações de trem e metrô. Há outros distritos em situação pior, porém, o dado exemplifica a dependência dos ônibus na região.
Hoje, três linhas servem a Vila Piauí, mas duas delas vão para o mesmo destino, a Lapa. A outra que vai para Pinheiros não funciona aos domingos e feriados. Lentidão dos ônibus, falta de linhas diretas para o trabalho e a ausência de rotas alternativas são reclamações constantes dos moradores.
O bairro está a uma distância de aproximadamente 6 a 13 km dos distritos vizinhos. Devido à falta de opções, os moradores gastam em média entre 30 minutos e 1 hora e 15 minutos para chegar a esses distritos ou bairros. Para sair da vila, é necessário passar pela rodovia Anhanguera ou pela Vila dos Remédios, onde o trânsito lento atrasa mais as viagens.
Vai baldear
Outra moradora da região, Claudia Mota, 46, atendente de comércio na Barra Funda, leva 1h20 para chegar ao trabalho. “É mais ‘trabalhoso’ o trajeto para chegar no meu trabalho do que o tempo que eu passo trabalhando”, diz a atendente que usa a linha 8001/10, que vai para a Lapa.
“Adoraria ter ônibus direto para a Barra Funda, já que é um distrito tão próximo daqui. Temos duas linhas que vão para o mesmo terminal, por que não ter uma que vá para outros lugares?”, questiona. Ela cita que com a necessidade de baldeação, não consegue se alimentar bem de manhã.
‘É cansativo. Desço, pego ônibus, saio do ônibus, pego trem, ando. Sem baldeações isso me ajudaria muito, gasto muito tempo no transporte, preciso sair às 6h10 para conseguir fazer todo o trajeto sem atrasar’
Claudia Mota, moradora da Vila Piauí
Além da lentidão em dias de semana, umas das linhas do bairro, o Terminal Pinheiros 846m/10, só funciona de segunda a sábado.
Esse ônibus vai em direção ao Alto da Lapa, Alto de Pinheiros, Vila Madalena e Pinheiros. Usuários citam que ela também passa por um percurso parecido com o 8060/10, fazendo com que os passageiros tenham opções limitadas, muitas vezes precisando fazer múltiplas baldeações no meio do caminho para conseguirem chegar mais rápido ao destino.
Para alguns moradores, uma das alternativas é tentar ir para a cidade vizinha e usar um ônibus intermunicipal para chegar ao destino.
O problema aí é que o preço é maior. A psicóloga Mayara Freire, 31, relata que já enfrentou situações em que empresas se recusaram a pagar as passagens de R$ 6,50 para ir até a Lapa ou Pinheiros. “Era melhor essa opção, porém os ônibus iam muito cheios”, ressalta a psicóloga.
Para SPTrans, falta demanda
Apesar dos relatos de dificuldades dos passageiros, a SPTrans (São Paulo Transporte) afirma não haver demanda para implantar mais linhas. “O dimensionamento projetado para a localidade atende aos critérios de oferta à demanda”, alega a empresa.
Segundo a SPTrans, a Vila Piauí é atendida por três linhas municipais, transportando em média 1.768 passageiros no 8001/10, 4.534 no 8060/10 e 1.893 no 846m/10 por dia útil.
As linhas 8060/10 e 8001/10 utilizam as principais vias de tráfego da região e, apesar da mesma origem/destino, realizam itinerários distintos ao longo do percurso, atendendo públicos diferentes para embarque e desembarque ao longo do trajeto.
“As linhas da cidade são influenciadas por fatores sazonais que influenciam na sua operação como: trânsito, chuva, interferências viárias, quebra de veículos etc., que podem interferir no tempo em que o percurso é realizado”, diz a SPTrans.
Sobre a linha 846M/10 não funcionar aos domingos e feriados, a gestão também diz não haver demanda que justifique o funcionamento. “Os passageiros têm como opção para o trecho até Pinheiros a linha 8060/10, fazendo conexão com a 847P/10, 7282/10 e 6262/10.”