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No Campo Limpo, comerciantes denunciam falta de manutenção e limpeza de praça

Por: Livia Alves

Conhecida pela variedade de comércios, a praça Affonso Vieira da Silva, chamada de “Pracinha da Adega”, tem recebido manutenção dos próprios comerciantes, que denunciam a ausência da subprefeitura do Campo Limpo para cuidar do espaço.

A praça fica localizada no Parque Arariba, no distrito de Campo Limpo, na zona sul de São Paulo. Maria das Dores*, 55, é comerciante há mais de 15 anos na região, e junto aos outros lojistas, faz a preservação diária da Pracinha da Adega.

“A nossa praça é onde fica a maior concentração de comércio e gastronomia do Arariba: tem o pessoal da adega, do churros, da batata, tapioca, açaí”, conta a moradora.

‘A gente se reúne e faz a limpeza, poda as árvores e planta quando necessário, consertamos algumas coisas quando está ao nosso alcance’

Maria das Dores, comerciante

Jocielma, atendente em frente ao banco reformado @Livia Alves/Agência Mural

Uma das queixas é que faltam lixeiras, equipes de limpeza e, até dois meses atrás, um dos bancos estava quebrado, colocando em risco quem frequenta o local.

“Reclamamos do banco quebrado na praça desde fevereiro, eles vieram (em agosto) e arrumaram. Ele (funcionário da prefeitura) disse que toda quinta-feira vinham limpar, mentira. Eles vieram só uma vez limpar.”

A atendente Jocielma Palma, 19, que começou a trabalhar como freela nos comércios da região em agosto, conta que nunca viu trabalhadores do poder público no local para atividade de limpeza. “Quem faz a limpeza da praça é a tia Val da barraca de tapioca, o pessoal do churrasco, o Baguinho e o pessoal da adega. Sempre fica para quem trabalha aqui mesmo”, comenta Palma.

A situação não passa despercebida pelos consumidores. Ana Cláudia Pereira, 29, que mora no Jardim Ingá e visita a praça há 10 anos, demonstrou surpresa ao notar que o banco havia sido consertado, pois havia meses que o móvel era um problema e causava acidentes.

Depois de muitas reclamações dos moradores, a Subprefeitura do Campo Limpo colocou um banco sem acabamento na praça e deixou o anterior danificado @Livia Alves/Agência Mural

“Só vi agora que o banco estava arrumado, ele vivia caindo para os lados. Vejo os garis fazendo o recolhimento do lixo, mas nunca vi o pessoal da prefeitura fazendo a manutenção preventiva de limpeza, cuidado com as plantações ou objetos quebrados. Nunca presenciei, passo aqui todos os dias”, relata Ana.

Francisco Dias, 65, foi um dos primeiros moradores do bairro e frequenta as barracas há 15 anos. E conta que também só viu os cuidados públicos na época de eventos políticos.

“Vieram aqui outro dia homenagear o Affonso, um dos primeiros moradores também, tanto é que colocaram o nome dele aqui na praça, mas a manutenção aqui nunca vi não. Quem cuida são os barraqueiros”, pontua Francisco.

Caio César, 32, engenheiro de segurança do trabalho, costuma ir à praça desde os 18 anos e ressalta que as ações de zeladoria, mesmo que mínimas, são realizadas apenas no período de eleições, e as praças vizinhas só recebem cuidados por serem palco de eventos políticos.

“Só em época de eleição vejo as manutenções acontecerem, antes disso é muito raro de ver. O banco só foi reformado porque o pessoal ‘perrecou’ (discutiu com) o irmão do vereador que vem aqui direto, que é o irmão do Isaac Felix.”

Sem lixeiras na praça Affonso Vieira da Silva, os frequentadores improvisam com caixas de papelão @Livia Alves/Agência Mural

Caminhando pela Pracinha da Adega é possível encontrar uma lixeira, porém, de acordo com os lojistas, há dois pontos de descarte, mas o segundo lixo fica virado para a rua em uma área em que os carros estacionam, sendo um local de difícil acesso.

Durante um domingo à tarde, data onde tem menos comerciantes no espaço, a única forma de descartar o lixo é nas caixas de papelão jogadas pela praça, já que as duas lixeiras ficam com acúmulo de resíduos não recolhidos. Maria, que esteve em contato com os funcionários da prefeitura, questionou isso. “Quando perguntei das lixeiras eles disseram ‘é que precisa de postes para colocar lixeira’”.

Diferenças entre praças

A praça Geraldo Félix dos Santos, nome dado em homenagem ao pai do vereador eleito Isaac Felix (PL), está localizada a poucos metros da praça Affonso Vieira da Silva. Nela, o cenário é outro: o espaço contou com reforma este ano, que trouxe a inclusão de espaço pet, academias públicas, área de brinquedos cercada para crianças e lixeiras.

Já na praça ao lado de mesmo nome, a pista de skate foi reformada e houve a inclusão de novos brinquedos para crianças, além de colocarem várias lixeiras que são avulsas aos postes.

Comerciantes relatam que a praça Geraldo Félix recebeu lixeiras avulsas, porém a Affonso Vieira da Silva continua sem manutenção @Livia Alves/Agência Mural

Maria conta que o espaço, usado como palco para os políticos da região, sempre teve mais atenção. “Naquela praça acontece a concentração dos eventos, principalmente políticos. Ela foi toda reformada, eu sempre vejo o pessoal da limpeza varrendo lá, principalmente na parte de cima onde tem a pista de skate”, analisa.

Para a lojista, o cuidado com esses espaços é fundamental e que a periferia precisa de opções de lazer, por isso, defende que essas ações devem ser iguais em todas as áreas.

“O que eu não acho certo é que lá tem uma manutenção, um cuidado que aqui a gente não vê. Parece que essa praça aqui é isolada do outro lado. É uma pena, mas essa é a minha visão”, pontua Maria.

Outro lado

A Subprefeitura de Campo Limpo afirma que as reformas beneficiaram todas as praças e que a limpeza ocorre todas as semanas de duas a três vezes.

“Quanto à zeladoria do local, a limpeza ocorre todas às terças-feiras, enquanto a varrição do entorno é realizada nas segundas, quartas e sextas-feiras. Além disso, na última sexta-feira (20/09), a Secretaria Executiva de Limpeza Urbana (SELIMP) instalou quatro novas papeleiras nas proximidades da praça.”

Após a resposta da Subprefeitura, a Agência Mural apurou que de fato as praças foram limpas, porém, a praça Affonso Vieira da Silva permanece com as mesmas duas lixeiras.

*Maria das Dores é um nome fictício, já que a entrevistada pediu para não ter identidade revelada por receio de represália

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