Há sete meses, na manhã de 20 de junho, o policial negro Jefferson Ferreira foi vítima de uma emboscada na frente de casa, no Jardim Helena, extremo leste de São Paulo. O crime aconteceu próximo a casa do artista plástico Chuck Mendes, 36, amigo da família.
Em resposta ao caso, Chuck lançou um mural em forma de grafite para prestar uma homenagem. A criação pode ser vista no quarteirão da estação de trem do Itaim Paulista.
Além do policial retratado, o grafiteiro também fez Alberto Freitas, negro assassinado por seguranças de uma unidade da rede Carrefour, em Porto Alegre (RS), caso que teve grande repercussão com protestos em todo o país contra o racismo estrutural e o assassinado de negros e negras.
Em seus grafites, Chuck costuma retratar personalidades do bairro e misturar a realidade da periferia com referências de grandes nomes da história da arte, como Vincent van Gogh, Claude Monet ou Edvard Munch.
O trabalho demorou cerca de duas semanas para ser finalizado, e o retrato do policial militar foi o último a ser feito. “O militar era irmão do meu amigo, fiquei triste com a sua partida, uma figura muito importante para o bairro”, completa.
“Quando vi o mural pela primeira vez, fiquei muito feliz, não sabia de nada”, diz Everton Ferreira, 39, irmão do policial. Ele conta que Jefferson planejava ir embora para morar com os pais no interior, depois que se aposentasse. Ele atuou por 18 anos. “Levei meu filho, que também quer ser militar, igual ao tio, e prestamos continência em seu retrato assim como era em vida”.
De acordo com dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2020, produzido pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, dois a cada 3 dos 172 policias assassinados em 2019 eram negros, mesmo com os brancos representando 53% dos integrantes.
Pardos e pretos representam 65,1% dos policiais militares e civis vítimas de crimes violentos letais intencionais, quando estavam em serviço ou em período de folga.
Alberto Freitas mais conhecido como “Beto” pelos seus amigos e familiares também recebeu a sua homenagem no mural. A sua morte ocorreu em um mercado da rede Carrefour, em Porto Alegre.
Após um desentendimento com uma funcionária, Alberto, que fazia compras com a esposa, foi conduzido ao estacionamento do Carrefour por dois seguranças.
Após dar um soco em um deles, foi espancado. Ele estava imobilizado no momento em que um deles permaneceu com a perna em suas costas por quatro minutos. Um laudo inicial aponta asfixia como provável causa da morte.
“As duas notícias me afetaram à sua maneira, recebi aval da CPTM para fazer o grafite em celebração ao Dia da Consciência Negra”, diz o artista. “No dia que grafitei o Beto Freitas era o seu sepultamento, acompanhei pelo noticiário foi bem triste pra mim”, relembra Chuck.
Outras iniciativas que lembram a morte de negros e negras no país têm sido feitas nas periferias de São Paulo. Em 2019, um muro em Cidade Tiradentes recebeu o desenho de Ágatha Felix, criança morta no Rio de Janeiro naquele ano.