O número de pessoas em situação de rua em São Paulo aumentou entre 2011 e 2015. É o que aponta o Observatório Cidadão, que mostra ainda que a maioria desta população se concentra na região central da capital, gerida pela subprefeitura Sé. Isto a classifica como a mais distante da referência de meta do Programa Cidades Sustentáveis – que é zerar a população em situação de rua.
Já o número de pessoas acolhidas por abrigos públicos diminuiu. Ainda segundo o Observatório Cidadão, os três distritos com o maior índice de moradores de rua são Santa Cecília, República e Sé – este último com percentual de 5,21.
Conforme informações do site Planeja Sampa, a meta do prefeito Fernando Haddad (PT) para atendimento desta população foi cumprida. A prefeitura informa que são ofertadas mais de 4.000 vagas em Centros de Acolhida, na região central, incluindo as vagas criadas em abrigos emergenciais para a Operação Baixas Temperaturas, que se encerrará em novembro. No entanto, no período da gestão Haddad, houve diminuição do número de pessoas acolhidas na região da Sé. Em 2011, quando a cidade ainda era governada por Gilberto Kassab (PSD) eram 3.085 pessoas. Já em 2015, sob a gestão de Haddad foram 2.439 acolhidos.
Para Renata de Mello, 27, que vive nas ruas desde os 11 anos, o principal problema dos abrigos públicos é a falta de higiene. Ela, que está grávida, permaneceu por 3 meses em abrigo e atualmente dorme em uma barraca na Praça da Sé. “No albergue, eles acham que morador de rua não gosta de tomar banho. Mas, a gente quer tomar banho, lavar nossas roupas. No abrigo emergencial, eles não trocam as cobertas, não tem onde tomar banho, então, quando a gente dorme lá pega piolho, fica com coceira e outras coisas. Morando na barraca, a gente limpa a barraca e pode se manter limpo. É melhor do que pegar doenças”, relata.
A falta de segurança é outro fator que colabora para a rejeição dos abrigos. De acordo com relatos de moradores de rua, nos albergues é impossível manter seus objetos pessoais protegidos. Outro motivo é a falta de liberdade. Eles contam que, nos Centros de Acolhida, devem assinar uma ficha de presença e, caso haja uma falta, são impedidos de retornar. “Às vezes, alguém não dorme lá numa noite porque precisa ir ver um parente e, quando volta no outro dia, não pode mais entrar”, comenta Sólon Castro, 45.
Segundo o padre Julio Lancellotti, coordenador da Pastoral de Rua da Arquidiocese de São Paulo, que desenvolve trabalho assistencial a esta população na capital, os programas governamentais de acolhida não se adéquam a essas pessoas e estabelecem pré-requisitos para atendê-las – consequentemente, excluindo as que não se enquadram nos regimentos destes locais.
“Todos esses programas que são chamados de ‘acolhida’ têm critérios para acolher, como ter documentos, não fazer uso de alguma substância química ou de álcool, ter determinado tipo de comportamento. A população de rua é bastante heterogenia, mas a resposta a ela é sempre a mesma e não tem flexibilidade”, argumenta Lancellotti.
Como conta Vanderlei de Freitas, 41, que optou por morar em uma barraca na Praça da Sé, os moradores de rua são frequentemente roubados, inclusive dentro dos abrigos públicos e, portanto, não conseguem manter seus próprios documentos, tornando incoerente a exigência de documentação para cadastro nos albergues da prefeitura. A principal demanda que relatam é falta de emprego ocasionada pela ausência de moradia fixa. “Vivendo no abrigo, há a promessa de ajuda para conseguir trabalho, mas isso não acontece”, diz um deles.
Outro lado
A SMADS (Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social), gerida por Luciana Temer, afirmou em nota que realiza ações preventivas e, durante as abordagens, são oferecidos encaminhamentos para os serviços da rede socioassistencial, como Centros de Acolhida. Segundo a nota, cada pessoa tem seu motivo para rejeitar o encaminhamento e os serviços oferecidos, porém, o trabalho da Secretaria é permanente e sempre com a missão de convencê-los a deixar as ruas.