Morador de Guaianases utiliza desenhos que provocam reflexões sobre questões políticas e dificuldades da população periférica.
“Ele rabisca tudo. Quando chego em casa, as paredes estão riscadas com caneta, aí minha mãe fala que foi o Pietro que desenhou e falou que era pra deixar lá para eu ver os grafites dele”. O pai do Pietro é o Todyone, ou João Paulo de Alencar, 27.
Pai de um menino em tempo integral, como costuma dizer, o artista pernambucano usa os sprays para falar da crise política brasileira, a situação dos haitianos e africanos que povoam Guaianases em busca de um emprego, a questão racial, a truculência da polícia, a poesia das ruas e os problemas sociais. Todos esses são temas comuns na arte urbana do Tody, como é popularmente chamado pelos amigos do Rap, da escola e seus vizinhos.
Se para grande parte das pessoas, o intervalo entre os trens e a falta de estrutura das estações são os únicos problemas na estação Tatuapé da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), para Tody a questão do local é mais delicada. O ambiente lembra o seu tio Gilson, segurança que foi assassinado à queima roupa na estação quando tentava bloquear um passageiro que invadiu a estação de trem. Gilson deixou três filhos e a esposa.
Artista plástico de formação, o grafiteiro conheceu a arte em 1997 por meio de um primo. “Desde lá, nunca mais parei”, afirma. Uma de suas obras mais famosas é o painel pintado dentro da estação de trem Dom Bosco, na linha 11 — Coral. A obra trata do universo infantil e acompanha a frase “criança não trabalha, criança dá trabalho”.
Tody fez de Guaianases, bairro onde vive há décadas, seu ateliê a céu aberto. Na estação de trem Guaianases tem obras suas nas saídas, onde retratou um vagão lotado dentro da estação, cotidiano muito comum de seus moradores. Também participou de uma ação para colorir as pilastras cinzas do lugar, e lá fez uma representação polêmica de Jesus Cristo perguntando “Jesus negro te incomoda?”.
Os direitos sociais e humanos são causas nobres para Tody em grande parte de suas intervenções artísticas; esses temas aparecem em formas de figuras muitas vezes marginalizadas, como negros, mulheres e imigrantes.
As respostas que as pessoas dão a seus grafites também interessam ao artista negro, que também milita pelos direitos da população negra através de outros elementos do Hip Hop, como o Rap e o Break, que segundo ele “são essenciais para provocar reflexão nas pessoas”.
Por Lucas Veloso, correspondente de Guaianases
Produção da série: Priscila Pacheco, correspondente do Grajaú
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