“Um candidato precisa fazer coisas legais, igual a minha professora faz”, explica Alícia de Aguiar Miranda, 8. Ela mora no Jardim Pantanal, em Diadema, na Grande São Paulo, e deseja que nas eleições de 2022 os próximos governantes tragam melhorias para o bairro, como uma praça com mais brinquedos e menos lixo nas ruas.
“Coisa legal” para Samuel dos Santos Sanches, 9, seria a construção de mais hospitais e unidades de saúde. “No Rio de Janeiro tinham 200 pacientes e só cinco médicos para ajudar as pessoas”, descreve o morador do Parque São Lucas, bairro da zona leste de São Paulo, sobre uma reportagem que viu na televisão.
A relação entre saúde e educação também importa para a jovem Clara Letícia Cerqueira, 10, residente no bairro Veloso, em Osasco, na região metropolitana de São Paulo. “A pandemia [de Covid-19] prejudicou bastante o estudo das crianças”, diz.
Ela espera que os próximos governantes estejam mais preparados para situações como a da pandemia, de modo que as escolas sejam as últimas a fecharem e as primeiras a serem reabertas.
Neste domingo (2), os brasileiros vão às urnas votar para presidente, governador, senador e deputados federal e estadual. Para entender como as eleições dialogam com as crianças das periferias de São Paulo, a Agência Mural perguntou para três delas sobre o que elas esperam dos candidatos.
Mais material escolar e menos queda de energia
Em Osasco, Clara Cerqueira revela que a quantidade de materiais escolares do ensino fundamental, fornecidos pelo governo estadual, tem diminuído no decorrer dos anos.
Ela quer que os governantes voltem a oferecer um kit completo, com massinha de modelar para os alunos mais novos, e que substituam os materiais faltantes por mais cadernos e lápis para os mais velhos, como ela.
No que diz respeito à situação econômica do país, a menina conta que percebeu o aumento nos preços dos alimentos nas idas com a mãe aos supermercados e feiras. Ela sugere a redução no valor da cesta básica para que as famílias possam se alimentar.
“Arroz, carne, tomate, muita coisa que a gente precisa para o dia a dia está cara. Me preocupo com as pessoas que têm um, dois, três filhos e não têm tanto dinheiro”
Clara Letícia Cerqueira, de 10 anos
Alícia Miranda acha que, para combater essa situação, os políticos eleitos devem fornecer marmitas e cestas básicas. E para pessoas em situação de rua, além da alimentação, também é necessário distribuir cobertores e colchões. “Eles ficam comendo um monte de coisas do lixo”, acrescenta.
Melhorias no bairro foi um ponto citado por Samuel Sanches. Ele acha que a pracinha perto da casa onde mora precisa ser reformada e que o bairro deveria ganhar uma quadra para as crianças. Além disso, o garoto sugere a construção de mais estradas.
“Tem muito trânsito e isso atrapalha as pessoas que querem viajar. Quando eu vou no dentista ou no médico, pego muito transito”, relata o estudante.
Ainda em relação à infraestrutura, Clara diz que não quer ficar mais no escuro com as frequentes quedas de energia no bairro. Caso fosse presidente do Brasil, ela resolveria esse problema usando o orçamento anual.
Talvez Samuel votasse nela, já que passa pelo mesmo problema. “Às vezes quando volto do futebol, quase 9 horas da noite, as luzes do bairro inteiro estão apagadas. Fica uma escuridão e eu tenho medo de ser assaltado”, diz o menino.
Clara explica que se tivesse a verba do governo, também resolveria os problemas habitacionais do país. “Em vários lugares do Brasil está tendo muita casa sendo destruída. Gastaria [o dinheiro] para ajudar o máximo de pessoas que perderam 100% da casa e mandaria fazer abrigos para os sem teto”.
Se fizesse parte do quadro de deputados e senadores, Samuel criaria uma lei para que as crianças pudessem votar.
“Acho interessante a criança saber sobre as eleições, porque a gente também tem o direito de votar em quem a gente quer que governe o nosso país”
Samuel dos Santos Sanches, de 9 anos
Já Clara lançaria uma lei para despoluir rios e mares, e proibir as pessoas de jogarem lixo neles. “A gente só tem 5% da água potável para beber, então quanto mais poluírem, mais a gente fica sem água”, justifica.
Propostas dos presidenciáveis para as crianças
De acordo com o IBGE Educa (portal de educação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 17 em cada 100 pessoas que moram no Brasil têm entre 0 e 12 anos. Embora não sejam cidadãos votantes, as crianças são grande parte da população com direitos garantidos na constituição.
A Agência Mural levantou as propostas direcionadas a esse público por parte dos 11 candidatos à presidência nas eleições de 2022, por meio de consulta na plataforma DivulgaCand do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Dentre as ações listadas, a maioria é relacionada à educação e ao ensino básico: melhora do conteúdo pedagógico, ensino em tempo integral, redução da evasão escolar, inclusão escolar de crianças com deficiência, criação de vagas em creches, capacitação e valorização dos profissionais da educação, entre outros pontos.
A seguir, confira um resumo das propostas que diferem entre os candidatos e que são direcionadas às crianças nos planos de governo.
Ciro Gomes, do PDT (Partido Democrático Trabalhista), promete colocar a educação brasileira entre as dez melhores do mundo em 15 anos; e criar o Programa de Alfabetização na Idade Certa.
Felipe D’Avila, do PN (Partido Novo), pretende colocar o Brasil entre os 20 melhores do mundo em educação em sete anos; e incluir escolas ensino básico e creches conveniadas na verba do Fundeb (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização da Educação).
Jair Bolsonaro, do PL (Partido Liberal), dispõe-se a combater a ideologia nas escolas; enfrentar a violência institucional das crianças; e promover o ensino híbrido.
José Maria Eymael, do DC (Democracia Cristã), quer introduzir ao ensino fundamental a disciplina de Educação Moral e Cívica; e promover a municipalização do ensino fundamental.
Léo Péricles, do UP (Unidade Popular), propõe um plano nacional da Escola Básica Integral; distribuir recursos para escolas por critério de maior precariedade para menor precariedade; e aumentar o PIB (Produto Interno Bruto) da educação básica.
Luiz Inácio Lula da Silva, do PT (Partido dos Trabalhadores), se compromete a criar um programa de recuperação educacional devido aos impactos da pandemia; combater a pobreza e a miséria para garantia do direito ao brincar; e enfrentar a exploração do trabalho infantil, violência, exploração sexual, preconceitos e discriminações.
Padre Kelmon Luis da Silva Souza, do PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), garante a gratuidade para a educação pré-escolar e o ensino fundamental; e a obrigatoriedade de ensino da educação básica a todos os brasileiros.
Simone Tebet, do MDB (Movimento Democrático Brasileiro), propõe recompor a aprendizagem decorrente dos impactos da pandemia; criar a Secretaria Especial da Criança e Adolescência; incluir a criança com deficiência no esporte, cultura e lazer; e prevenir e combater o trabalho escravo e a exploração infantil.
Sofia Manzano, do PCB (Partido Comunista Brasileiro), lista criar um programa nacional de alimentação escolar para toda a educação básica; ampliar os serviços de assistência para a infância, como conselhos tutelares, creches e orfanatos; e combater a exploração do trabalho infantil.
Soraya Thronicke, do UB (União Brasil), propõe estimular participação dos pais nas reuniões e divisão das responsabilidades na educação dos filhos; promover o ensino híbrido; implantar a disciplina Cidadania e Brasilidade (com educação ambiental, financeira, sexual e cívica); e implantar uma política de lazer esportivo e de recreação.
Vera Lúcia, do PSTU (Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado), promete uma educação pública, gratuita para todos, em todos os níveis de educação; e expropriação dos grupos privados da educação.
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