Nascida e criada a vida toda em Heliópolis, a gestora cultural Claudia Neves, 38, sempre votou em candidatos do PT. Conta que a escolha pelo partido de Bruno Covas (PSDB) foi algo novo.
Ativa no bairro em caminhadas e eventos, ela defende seu voto. “Acredito que muitas periferias têm mudado bastante essa questão de esquerda e direita. Desde a penúltima eleição a esquerda tem perdido muito nas favelas”, diz Neves.
A gestora cultural diz que o movimento aconteceu com outros amigos também. “Tinha um amigo que votava há 20 anos no PT e agora mudou o voto. Tenho muitos amigos de esquerda. Muitos brigaram comigo quando souberam minha decisão, disseram que eu tinha o poder de influenciar pessoas também na minha região”, explica ela.
Heliópolis, onde vive Cláudia, maior favela da capital paulista, faz parte da zona eleitoral do Ipiranga, onde o atual prefeito teve 64,49% dos votos, frente a Boulos que teve 35,51%.
Nas eleições deste ano, Bruno Covas (PSDB) e Guilherme Boulos (PSOL) tiveram resultados diferentes em cada bairro da capital, inclusive nos extremos da cidade. Boulos conquistou mais votos em zonas eleitorais do extremo sul e de alguns na zona leste.
Já Covas ganhou com grande diferença nas regiões centrais, mas também venceu em na maioria das zonas eleitorais das periferias, em uma eleição marcada pela pandemia de Covid-19 e por um aumento da abstenção em ">quase 1 milhão, se comparadas com as de 2016.
Ativa no bairro em caminhadas e eventos, ela defende seu voto. “Acredito que muitas periferias têm mudado bastante essa questão de esquerda e direita. Desde a penúltima eleição a esquerda tem perdido muito nas favelas”, diz Neves.
A gestora cultural diz que o movimento aconteceu com outros amigos também. “Tinha um amigo que votava há 20 anos no PT e agora mudou o voto. Tenho muitos amigos de esquerda. Muitos brigaram comigo quando souberam minha decisão, disseram que eu tinha o poder de influenciar pessoas também na minha região”, explica ela.
Heliópolis, onde vive Cláudia, maior favela da capital paulista, faz parte da zona eleitoral do Ipiranga, onde o atual prefeito teve 64,49% dos votos, frente a Boulos que teve 35,51%.
Nas eleições deste ano, Bruno Covas (PSDB) e Guilherme Boulos (PSOL) tiveram resultados diferentes em cada bairro da capital, inclusive nos extremos da cidade. Boulos conquistou mais votos em zonas eleitorais do extremo sul e de alguns na zona leste.
Já Covas ganhou com grande diferença nas regiões centrais, mas também venceu em na maioria das zonas eleitorais das periferias, em uma eleição marcada pela pandemia de Covid-19 e por um aumento da abstenção em ">quase 1 milhão, se comparadas com as de 2016.
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Eleito, Covas teve o seu melhor desempenho em 50 zonas eleitorais. As periferias da zona norte foram onde o tucano obteve o seu maior eleitorado. Com destaque para Tucuruvi, em que teve 65,35% dos votos no candidato e Santana com mais de 71%.
Mas o que levou a vitória de cada um nessas regiões? A reportagem conversou com eleitores da zona sul e zona leste de São Paulo para que eles comentassem os motivos que os fizeram escolher seus candidatos e o que esperam ou esperavam deles no atual ou em um possível mandato (No caso de Guilherme Boulos). E qual a relação deles [candidatos] com os bairros em que eles vivem.
Claudia que também trabalhava em uma rádio comunitária do bairro, se desentendeu com os amigos e deixou de fazer parte da equipe por conta da eleição.
Para ela o voto em Covas é justificado pela atuação em frente à pandemia do novo coronavírus, a entrega de equipamentos de saúde na região de Heliópolis e atuação do subprefeito do Ipiranga.
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“Na pandemia de Covid-19, os artistas da periferia foram contratados para fazer lives nas Casas de cultura e CEUs. Na região, terminou a UPA Sacomã que há dois anos estava com obras paradas e entregou moradias populares”, comenta Neves, que também cita o fato de Covas não ter tirado licença médica durante a pandemia e ter se hospedado no prédio da Prefeitura de São Paulo.
“O Caio Luz [subprefeito] fez uma gestão muito participativa, atuante em todos os sentidos e inseriu a favela em todos os projetos da Subprefeitura do Ipiranga”, completa.
Apesar da escolha por Bruno Covas, Neves considera que Boulos é um candidato ligado ao movimento de uma nova esquerda.
“Ele [Boulos] é um candidato forte e inteligente também, mas o Covas está com alianças que eram da época do PT que são muito fortes e trouxeram coisas importantes, como a da Marta Suplicy, que criou coisas importantes para periferia como os CEUs e o Bilhete Único”, completa.
Em Cidade Tiradentes, onde Boulos ganhou de 56,42% a 43,58% de Covas, a lembrança da gestão de Marta Suplicy é entendida como um avanço importante para a periferia, assim defende o motoboy Márcio Reis, 43, que também é professor de história e tem um trabalho que ">pesquisa a origem do bairro.
“O bairro só fica melhor, tem mais investimentos nos partidos de esquerda. Para quem mora no bairro e pegou o período da Erundina e Marta, sabe que foram um dos melhores”, defende Reis.
A escolha por Boulos de Márcio seguiu essas justificativas e também a busca pela renovação política, que ele não enxerga no PSDB. Para ele, o perfil do bairro também pode ter influenciado a escolha da população.
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“Boulos ganhou na Cidade Tiradentes porque é o único bairro da zona leste que resiste e é esquecido pela direita. É um bairro de trabalhadores, o trabalhador se lembra das coisas e não é influenciado por nada”, acredita Reis.
Cidade Tiradentes e São Mateus foram os únicos distritos da zona leste que Guilherme Boulos ganhou em diferença de votos em comparação com Bruno Covas.
Márcio revela que durante a campanha também tentou mudar o voto de amigos e conhecidos e teve alguns desentendimentos.
Afirma que escolheu o candidato do PSOL pois esperava por melhorias no acesso ao bairro. “Com o Boulos eu esperava que a obra do monotrilho, pudesse chegar um pouco mais rápido perto da CidadeTiradentes”, comenta Márcio sobre as expectativas com o candidato que escolheu.
Prometido pelo atual governador João Doria (PSDB) para chegar em Cidade Tiradentes em 2022, a Linha-15 Prata do Metrô, que faz conexão com a Linha Verde, é um acesso há muito tempo esperado por moradores do bairro, pois traria conexões por meio do monotrilho.
O projeto começou a ser construído em 2009 e tinha como objetivo ligar a Vila Prudente até a estação Cidade Tiradentes (que ainda não existe). A obra tinha previsão de entrega em 2012, mas as primeiras estações só saíram do papel em 2014.
As linhas férreas mais próximas do bairro de Cidade Tiradentes estão em São Miguel, José Bonifácio e Guaianases, mas os moradores necessitam de ônibus para chegar até essas estações da CPTM nos bairros vizinhos .
Em 2016, no entanto, o sonho da Cidade Tiradentes ter o monotrilho recebeu um balde de água fria. O Metrô voltou atrás e disse que a última estação seria a Jardim Colonial, na região do Iguatemi, bairro vizinho de Cidade Tiradentes.
Na ">Ragueb Chohfi, uma importante via de conexão com grandes avenidas da zona leste como Av. Aricanduva e Av. Sapopemba, há anos as vigas de sustentação, que darão vida à última estação do monotrilho, fazem parte da paisagem local junto com os tapumes, caminhões e interdições no trânsito.
Márcio diz acreditar que o processo de polarização em todo país aprofundou a ideia de um medo do comunismo associado à esquerda e também criou uma falsa sensação de ‘pertencimento à elite econômica’ por parte de algumas pessoas.
“Não tem como tirar da cabeça do cara que ganha um salário mínimo e agora acredita que é classe média. Na última eleição para presidente e agora para prefeito, os mesmos bairros tiveram resultados semelhantes entre quem votou no PSDB e no Bolsonaro”, comenta Reis.
Márcio diz acreditar no candidato e em suas propostas, mas enxerga que nas periferias ainda paira uma polarização muito forte. “Se associou tudo que é da esquerda ao comunismo e as pessoas não entendem isso e temem isso, por isso acho que no futuro as chances do Boulos ganhar não são tão altas”, comenta.
E aos risos completa. “Mas como brincam que toda previsão de historiador está errada, espero estar errado”.