Perto do fim da segunda gestão Ney Santos (Republicanos), a eleição em Embu das Artes, na Grande São Paulo, chega a reta final com a saúde como uma das áreas mais criticadas pela população, e com apenas quatro das promessas concluídas nesta área. Além disso, o risco de verticalização dos prédios da cidade, em meio ao desmatamento, tem sido tema de preocupação nos últimos anos.
Santos está no fim do segundo mandato e por isso não pode disputar a reeleição. Ele apoia o vice Hugo Prado (Republicanos) .Nesse cenário, três candidatos entraram na corrida eleitoral: a principal opositora é Rosângela Santos (PT), mas há também David Orlandi (PCO) e Antonio Cavalcante (PRD).
Das 113 propostas apresentadas em 2020 por Ney, 16 foram concluídas, de acordo com levantamento feito pela Agência Mural. No entanto, não há informação sobre o atual estágio de execução de 61 das metas e outras 15 não foram finalizadas.
A Mural tentou contato por telefone e por email com a Prefeitura de Embu das Artes para disponibilidade do relatório de gestão, mas não teve retorno. Na última ligação, realizada no dia 17 de setembro, os funcionários se recusaram a enviar o material. Um email foi enviado no dia 26 de agosto e outro no dia 1º de setembro.
O assistente social Otávio Silva, 29, mora no bairro Jardim Valo Verde e explica que saúde, educação e segurança são os principais problemas na cidade. “Havia uma expectativa por ele ser daqui, mas concretamente os serviços públicos essenciais ficaram aquém. Não teve educação, saúde e segurança. Essas são as grandes dificuldades que existem por aqui’’, conta.
Saúde e meio ambiente: problemas recorrentes
Na saúde, apenas a implantação do CER (Centro Especializado de Reabilitação) foi concluída. A atual gestão propôs reforma das UBS (Unidades Básicas de Saúde) e aumento do número de médicos. Até o momento, foram inauguradas UBS nos bairros Parque Esplanada, Jardim Santa Tereza e Jardim Santo Eduardo.
Em abril deste ano, dezenas de médicos acusaram as empresas contratadas para gerenciar plantões na região metropolitana de São Paulo de atraso nos pagamentos pelos serviços prestados em 2023. O INCS (Instituto Nacional de Ciências da Saúde) explicou que não conseguiu pagar os servidores pela falta de repasse do município de Embu das Artes.
Residente do Jardim Vazame, o ator Samuel Santos, 23, reclama que já chegou a esperar três horas para ser atendido na UPA Santo Eduardo, unidade construída no segundo mandato de Ney. “Foi péssimo. As pessoas deitavam no chão, estavam horas esperando”, diz ele, que viveu o episódio durante o aumento de casos de dengue.
Embu também vive um processo de verticalização acelerado, com galpões industriais e novos prédios destinados à moradia. Na proposta de governo, a construção de novos imóveis no município é vista de maneira positiva pela atual gestão, que atrela a verticalização desenfreada à valorização imobiliária e aumento de empregos.
No entanto, há preocupação quanto às áreas verdes de Embu. Em 2022, a cidade registrou o maior número de áreas desmatadas na Grande São Paulo, com 14,29 hectares de Mata Atlântica perdidos. A cidade também tem sofrido com denúncias de loteamento clandestino e de atividades ilegais em aterro sanitário.
Além disso, moradores questionam se o município tem infraestrutura necessária para receber mais veículos. Para Samuel Santos, residente do bairro Jardim Vazame, o entorno do bairro foi afetado.
‘As ruas desses bairros que estão recebendo prédios não são feitas para isso. Se o ônibus não passa com o carro de um morador estacionado, não vai passar com o carro saindo de um prédio’
Samuel Santos, morador de Embu das Artes
Não por acaso que a mobilidade urbana também é uma queixa recorrente dos moradores. A construção da rotatória entre as ruas Marcelino Pinto Teixeira, Rotary e Sebastião Aniceto de Jesus é uma das propostas concluídas do governo Ney. Samuel cita que o trânsito melhorou, mas que a dificuldade com o transporte persiste.
Embu das Artes foi uma das cidades que aderiu a Tarifa Zero nos fins de semana e alguns ônibus novos começaram a circular neste ano. Ainda que a qualidade do transporte tenha melhorado, o tempo de espera irregular entre um ônibus e outro ainda é um dos pontos a serem resolvidos.
Samuel ressalta que o deslocamento até os postos de saúde faz parte do drama diário dos munícipes. Ele utiliza como exemplo o trajeto até o Hospital Leito Irmã Annete. “Quem vai de ônibus, além de ter que esperar uma hora pra ele chegar, pega só o ônibus que passa por lá. E ainda tem gente que precisa ir até o centro do Embu pra pegar outro ônibus.“
Ele fala que durante a semana nota essa demora especialmente no horário de pico. “Tem ônibus com ar condicionado agora, mas o ônibus demora duas horas pra passar. É humilhante. Se você pegar entre 11h30 e 13h30 não tem ônibus. Se você começar às 16h, até 18h, eles diminuem o número de ônibus na rua.”
Por onde andam as propostas para a juventude?
A juventude é pouco citada na proposta de governo de Ney Santos (Republicanos). Entre as metas, estão a criação da Primeira Delegacia Especializada da região da Infância e Juventude, a retomada das atividades do Centro de Referência da Juventude e a implementação do Projeto Trampo na Hora.
A atual gestão não firmou um projeto com o nome Trampo da Hora, mas tem oferecido cursos para formação e capacitação e empregabilidade para os adolescentes e jovens.
Otávio critica a oferta de cursos de desenvolvimento e capacitação profissional como única via. O assistente social conta que o cursinho popular era uma oportunidade para os estudantes de escolas públicas romperem as barreiras sociais. A iniciativa gratuita foi descontinuada e não está mais disponível no momento.
“O cara sai do ensino médio e, na maioria das vezes, roda a moto pra trabalhar de aplicativo, para conseguir se virar de algum jeito”, afirma. “Não dar oportunidade para um jovem sonhar é a mesma coisa que matar ele no nascedouro da sua vida.”
O Centro de Referência da Juventude se tornou Coordenadoria da Juventude. O espaço público faz parte do pacote de serviços da Casa da Família Embuense, que também inclui Centro de Saúde da Mulher, Centro de Especialidades Médicas, UBS , CRAS e uma segunda unidade do Conselho Tutelar.
Para Otávio Silva, a juventude está muito atrelada ao lazer do ponto de vista da atual gestão. Ele cita como exemplo a contratação de shows pela Prefeitura de Embu das Artes no segundo mandato de Ney. Em fevereiro, o vereador Abidan Henrique (PSB) denunciou que a prefeitura havia destinado R$ 2,5 milhões das áreas da Saúde e Segurança para a contratação de shows.
“Vejo que a juventude é um nicho que eles acabam convencendo, só que de uma maneira errada, porque é só festa. Claro, movimenta muito mais a juventude, mas não é só isso que a gente precisa. A juventude periférica também é trabalhadora, ela quer ter a oportunidade de estudar’’, conta Otávio.