A construção do novo corredor de ônibus elétricos, o BRT-ABC, em São Bernardo, no ABC Paulista, tem gerado opiniões divididas entre a esperança de melhoras e a descrença no projeto que já teve a data de entrega mudada várias vezes.
Nos últimos dias, a estrutura do Corredor Metropolitano ABD, da EMTU/SP (Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos de São Paulo), no centro da cidade, começou a ser demolida para dar início à criação do novo sistema.
O antigo terminal de São Bernardo percorriam trólebus das linhas Ferrazópolis, Santo André e Jabaquara @Daniela Ferreira/Agência Mural
Segundo o Censo de 2022 realizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 37,9% dos habitantes no ABC recorrem ao transporte público para chegar ao ambiente de trabalho. Ao todo, são 395 mil pessoas utilizando trem, metrô ou ônibus.
Wellington Coelho dos Santos, 31, é uma dessas pessoas. Morador de Diadema, ele é operário no ramo de construções e utiliza diariamente o corredor de ônibus para trabalhar em diferentes cidades do ABC.
Segundo ele, a mudança para o BRT-ABC não será o suficiente para solucionar os problemas no transporte. Especialmente quando se trata das superlotações.
A nova entrada do ponto provisório para os passageiros @Daniela Ferreira/Agência Mural
“Por que não colocaram um metrô? Eles querem tampar o sol com a peneira com o BRT-ABC. A passagem é um absurdo de cara e ainda temos que enfrentar lotação”, diz o homem sobre a tarifa de R$ 6,05.
Segundo a empresa responsável pelo empreendimento, a Next Mobilidade, o BRT-ABC será um corredor exclusivo de 17,3 quilômetros, com 16 estações de ônibus.
Percorrerá os municípios de Santo André e @São Caetano do Sul@,conectando o Terminal São Bernardo ao Terminal Sacomã e à estação Tamanduateí, da Linha 2-Verde do Metrô de São Paulo.
Para o jovem aprendiz Ryan Souza, 19, contudo, era necessário um investimento maior em transporte de alta capacidade. Ele argumenta que ao invés de se investir dinheiro em um novo corredor de ônibus, a administração pública deveria se concentrar em criar uma linha de metrô no município. “Outras cidades possuem trem e São Bernardo não. É meio que uma vergonha”, afirma o jovem aprendiz.
O ABC tem acesso a uma linha de trem da CPTM (Companhia Paulsita de Trens Metropolitanos), mas os trilhos passam por Santo André, Mauá e @São Caetano do Sul@. Para os moradores de São Bernardo e Diadema, o acesso às estações ocorre por meio do trólebus.
Os passageiros foram deslocados para pontos provisórios, enquanto a obra não é finalizada @Daniela Ferreira/Agência Mural
A aposentada Miriam Magda da Silva, 53, moradora de São Mateus, na zona leste da capital, também reclama dos ônibus lotados. Ela recorre ao coletivo com frequência para ir a consultas médicas e tem esperança que o novo sistema possa resolver o problema.
‘Agora o transporte é complicado, está sempre cheio. E para a gente que está na terceira idade, a situação piora. Espero que com o BRT de uma desafogada’
Miriam Magda, aposentada
Moradores da região ouvidos pela Agência Mural também questionam se as promessas de melhora no tempo de trajeto e o cumprimento do prazo de entrega serão mantidos.
Inicialmente, a finalização da BRT-ABC estava prevista para ser feita em julho de 2023, 18 meses após o início das obras em fevereiro de 2022.
Contudo, a data de conclusão do corredor de ônibus já foi alterada cinco vezes, de acordo com a contagem feita por jornais como o Diário do Grande ABC. A previsão mais é de entrega em junho de 2026.
Trabalhadores foram posicionados na parada provisória para orientar e auxiliar os passageiros @Daniela Ferreira/Agência Mural
Na região do terminal central é possível ver mudanças. Atualmente, o entorno foi derrubado e conta com divulgações de vagas de trabalho disponíveis para atuar na obra. Há também placas direcionando a população para um ponto de ônibus provisório.
Essa orientação é feita na localidade apenas por cartazes e faixas, já que os funcionários contratados operam exclusivamente nas dependências da parada. O local de embarque temporário é coberto, oferece rampas e piso tátil para pessoas com deficiência.
O vendedor Vanderlei Lopes Teixeira, 42, residente de Diadema, tem dúvidas sobre a melhora mesmo após a entrega, em especial se haverá diminuição do tempo de trajeto.
“Investir na mobilidade urbana é obrigação do governo. E mesmo com o novo corredor o atraso dos ônibus será o mesmo, nada vai mudar”, diz Lopes.
O que diz o poder público?
Em fevereiro deste ano, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), anunciou a autorização do desenvolvimento de um projeto inicial da Linha 20-Rosa, visando conectar as cidades do ABC ao metrô de São Paulo.
A Agência Mural entrou em contato com a STM (Secretaria dos Transportes Metropolitanos) para questionar se há alguma preocupação do governo do Estado de São Paulo com a possibilidade de novos atrasos. A pasta afirma que o BRT-ABC está sob responsabilidade da Artesp (Agência de Transportes do Estado de São Paulo).
A Artesp, por sua vez, diz que “com a liquidação da EMTU, a Artesp passou a regular e fiscalizar o contrato, que se encontra em atraso de execução”.
“A Agência recentemente publicou no Diário Oficial do Estado uma série de notificações à Concessionária ABC Sistema de Transporte SPE S.A. – Next Mobilidade, devido ao não cumprimento de cláusulas contratuais, que são passíveis de processos sancionatórios”.
Procuramos a Next Mobilidade e questionamos se a população terá acesso a relatórios sobre custos e andamentos, mas até o momento da publicação desta reportagem não houve retorno.
