Mesmo com nova identidade visual e promessas de modernização, moradores de Guarulhos, na Grande São Paulo, ainda aguardam melhorias nos ônibus municipais. Falta de ar-condicionado, lotação, redução de linhas e troca de veículos convencionais por micro-ônibus são questionados por passageiros das periferias da cidade.
Em maio, a prefeitura anunciou uma reformulação nas linhas de ônibus municipais. A proposta, segundo a gestão, era modernizar o sistema e torná-lo mais eficiente. No entanto, na prática, pouca coisa mudou para os passageiros, com exceção da imagem dos veículos.
As cores, que antes identificavam cada região atendida por diferentes viações, foram substituídas por uma padronização nas carrocerias: agora, todos os veículos circulam com um novo visual em azul escuro e amarelo.
Após determinação do prefeito Lucas Sanches (PL) parte da frota municipal teve renovação das cores, sendo azul e amarelo @Gabrielly Souza/Agência Mural
Um exemplo dessa mudança são as linha 711, que liga o Terminal Pimentas à Vila Operária, na região próxima ao centro da cidade. Ela já circula com as cores novas definidas pelo prefeito Lucas Sanches (PL), mas por dentro não houve alteração. O mesmo ocorreu com a linha 733, (micro-ônibus), que circulava com carroceria em azul claro e passou a ter novas cores.
Apesar da nova identidade visual na frota, problemas antigos permanecem: falta de ar-condicionado, ausência de Wi-Fi e, principalmente, a irregularidade nos horários.
‘Os ônibus aqui nunca têm horário certo. Dizem que saem de 20 em 20 minutos. Mas, quando você está no ponto pra ir trabalhar, cadê? Ou pior, quando você não precisa, vem dois ônibus grudados. Acontece muito isso’
Simone, moradora do bairro Cumbica
A gerente, Simone Cavalcante, 45, moradora do bairro de Cumbica, inicia a rotina diariamente às 4h30 da manhã, quando sai de casa rumo ao Aeroporto Internacional de São Paulo, onde trabalha. O primeiro obstáculo do dia surge logo na linha 731 (Terminal Pimentas / Praça da Saudade – via Cecap).
Mesmo fora do horário de pico, o ônibus já costuma passar lotado, e ela torce para conseguir um assento.
“Às vezes, a gente tem sorte e consegue ir sentada. Outras vezes, não. Tenho uma amiga que pega essa linha alguns pontos antes do meu. Quando vê que vai dar pra sentar, ela me avisa pra eu correr e conseguir entrar no ônibus antes.”
Ônibus da linha 731 rodando no Jardim Ansalca @Arquivo pessoal/Divulgação
A substituição de algumas linhas por micro-ônibus, também gera queixas por conta da superlotação.
A antiga linha 712, que antes fazia o trajeto entre o Terminal Pimentas e o Centro de Guarulhos com ônibus convencionais, onde cabem 80 passageiros, agora circula com veículos menores, cuja capacidade é de quase 40 – metade.
Além disso, a redução de algumas linhas também pegou os passageiros de surpresa. Houve a unificação da 717A (Circular Saúde via Dutra) e 717B (via Unifesp e Jurema), dando origem à linha 733. A extinção da linha 789 deixou os moradores dos bairros Cidade Satélite e Cumbica sem uma opção direta de deslocamento.
De acordo com a prefeitura, as mudanças fazem parte da avaliação da demanda, que calcula os repasses às empresas com base no número de passageiros transportados.
No entanto, usuários questionam os critérios utilizados e alegam que a qualidade do serviço piorou.
Para além do Terminal Pimentas
Moradora do bairro Bonsucesso, Hellen Macedo, 30, no Aeroporto Internacional de São Paulo, onde atua como vendedora no período noturno.Ela costuma sair de casa às 21h em direção ao Terminal Cecap, para entrar no aeroporto às 22:30h.
A principal opção de Hellen é a linha 812 Vila Carmela / Via Dutra. Quando há atrasos ou ela perde o ônibus, a alternativa é pegar a linha 821, que vai até o Terminal São João. “Se perco um, já me atraso. Então, pego o São João, mas acabo chegando em cima da hora para começar o serviço”, relata.
Aos domingos, o tempo de espera pode chegar a até 50 minutos. “Nem fico esperando, porque demora demais. Prefiro pegar o intermunicipal, e ir andando até o Cecap”.
No entanto, quando perde o ônibus municipal e o intermunicipal não passa, Hellen diz que a única alternativa é chamar carro por aplicativo. “O problema é que custa quase R$ 40, então não compensa. Acabo avisando meu coordenador que vou me atrasar”, conta.
Os micro-ônibus municipais também estão com envelopamento novo @Gabrielly Souza/Agência Mural
Linha 733 com as cores anteriores, azul e branco @Gabrielly Souza/Agência Mural
A entrada do Terminal Pimentas @Gabrielly Souza/Agência Mural
O jovem aprendiz Raul Silva, 20, é morador da região do Ponte Alta I. Todos os dias, entre 5h40 e 6h da manhã, ele sai de casa rumo ao trabalho, localizado no centro de Guarulhos.
Para chegar ao centro, Raul depende das linhas 441 (Jardim Santa Paula/Jardim Santa Clara – via Praça 8) e 410 (Santa Paula/Centro – via Dutra), ambas operadas pela Viação Vila Galvão. O trajeto, que passa pela Avenida José Rangel Filho, a principal da região, até o calçadão central de Guarulhos, leva em média 1h30.
Em dias quentes, o calor dentro dos veículos torna o percurso ainda mais exaustivo. “O cansaço não vem só do tempo de viagem, mas da superlotação. Tem dias que dentro do ônibus está mais quente do que na rua. Nem com as janelas abertas melhora”, relata Raul.
O que diz a Prefeitura de Guarulhos?
Ao ser questionada, a Secretaria de Transportes e Mobilidade Urbana de Guarulhos afirma que o controle do fluxo dos ônibus é de responsabilidade das viações.
Entramos em contato por telefone com as viações Campo dos Ouros e Vila Galvão, uma vez que não há um canal oficial de atendimento à imprensa.
Ambas afirmaram que a definição da relação entre oferta e demanda das linhas — nos dias úteis, finais de semana e feriados — segue diretrizes estabelecidas pela Prefeitura.
Segundo as empresas, alterações nas linhas também fazem parte desse planejamento municipal baseado na demanda.
A Viação Campo dos Ouros informou que há planos para a introdução de ônibus mais modernos no Terminal Pimentas nos próximos anos, mas ainda sem data definida. Já a Viação Vila Galvão declarou não ter informações sobre a possibilidade de veículos com ar-condicionado operarem no município.

