O professor de karatê e jiu-jitsu Gláucio Roberto Gonzales, 43, usa o ônibus em Ribeirão Pires, na Grande São Paulo, todos os dias para ir trabalhar. Morador há mais de 30 anos da cidade e atualmente morador do bairro Santo Bertoldo, ele afirma que ao longo da semana quando retorna de São Paulo, desce do trem e vai caminhando até a casa dele, em um percurso que dura cerca de 30 minutos.
“Prefiro ir andando do que ficar mais de uma hora esperando o ônibus que passa no Bertoldo. Algumas linhas foram cortadas e também diminuíram o tamanho do coletivo que está circulando em mais bairros da cidade”, explica Gláucio, que vê precarização no transporte público municipal.
A reclamação de Gláucio é a de muitos no município do ABC Paulista, região onde tem sido discutida a questão da tarifa zero. Em Ribeirão, por exemplo, há dois anos há gratuidade para o uso aos domingos e feriados. Porém, a situação não ameniza a falta de acesso, segundo moradores.
Usuários do transporte público reclamam da frota reduzida na região, que foi reduzida desde março de 2020, no início da pandemia da Covid-19.
Após esse período não houve aumento de coletivos, e os passageiros relatam que ficam até uma hora no ponto de ônibus esperando para seguir viagem. Além disso, a frota que circula pela região está com idade superior a seis anos (exigidos pelo contrato). A empresa concessionária que presta serviço é a Suzantur.
Apesar da gratuidade parcial, a prefeitura aumentou o preço do ônibus durante a semana em janeiro deste ano de R$ 4,85 para R$ 5,50, 25% mais cara do que a da cidade de São Paulo.
Para Gláucio o reajuste não veio acompanhado de mudanças para os usuários. “Ficou mais cara e nem tentaram diálogos com os movimentos sociais, simplesmente aumentaram e isso impacta na vida dos passageiros”, diz.
Para a estudante de história Giovanna de Oliveira, 23, o trajeto até a faculdade costuma ser longo. Nascida e criada na Vila Belmiro, ela precisa pegar o ônibus municipal Parque Aliança, o trem sentido Santo André e outro ônibus em Santo André.
“Tenho a possibilidade de pegar também o Jardim Serrano ambos passam em horários bem parecidos. Mas na volta da faculdade, se eu perder o Parque Aliança (linha de ônibus) das 23h19, o próximo só vem às 00h09 fico mais de 40 minutos esperando”, conta a estudante que gasta diariamente em torno de 3 horas dentro do transporte público.
Giovanna faz parte do comitê Regional Unificado contra aumento de passagens no ABC, o qual também atua pela tarifa zero para os passageiros. O grupo chegou a ser ouvido na Câmara Municipal de Ribeirão Pires pelos vereadores e apontaram contradições entre o contrato da prefeitura com a Suzantur, como a redução da frota no município, mas não tiveram um retorno.
Ela afirma que durante a semana é um “pesadelo” ficar aguardando as linhas de ônibus. Nos fins de semana, os intervalos são maiores. “Isso é ruim porque sobra menos tempo para lazer”, lamenta.
Para Rafael Calabria, coordenador de Mobilidade do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor), a cidade que adota a tarifa zero parcial aos domingos e feriados é um passo para a população ter acesso ao lazer.
“Tem uma justificativa muito importante nesses casos da gestão experimentar o projeto por algum tempo. Se tiver avanço prossegue também é necessário a vontade dos políticos para implementar todos os dias”, explica.
Redução da frota
A Agência Mural questionou a Prefeitura de Ribeirão Pires, que por meio do Departamento de Mobilidade informou o monitoramento permanente do transporte público junto à concessionária responsável pelo serviço a Suzantur para garantir o cumprimento dos termos de contrato e a qualidade do atendimento aos usuários.
Segundo eles, em relação à operação da frota, a concessionária apresentou à Prefeitura dados que demonstraram a quantidade de pessoas transportadas diariamente em linhas municipais se mantém abaixo do volume registrado antes da pandemia do coronavírus.
“Naquele período, a média de transporte era de 25 mil passageiros por dia. Em setembro deste ano, por exemplo, relatório apresentado pela empresa indica o número de usuários foi de 20.810 por dia, o que representa 80% do volume previsto por contrato celebrado antes da pandemia”.
Tarifa zero em São Caetano
Em São Caetano do Sul, no ABC Paulista, a prefeitura implantou no início deste mês a tarifa zero integral para todos os passageiros. O programa garante gratuidades nas linhas de ônibus municipais.
Com a medida, todos os usuários podem pegar os ônibus das oito linhas da cidade gerida pela VIPE (Viação Padre Eustáquio), concessionária do sistema.
O município é o terceiro da Grande São Paulo a instituir a gratuidade no transporte público. O investimento foi de R$ 2,9 milhões por mês para garantir a tarifa zero à população. Antes, cidades com menos habitantes como Vargem Grande Paulista e Pirapora do Bom Jesus anunciaram o benefício.
O valor exato será calculado mensalmente com base em georreferenciamento e pago diretamente à VIPE.
A aposentada Tânia Aparecida dos Santos Cordeiro, 57, moradora do bairro Cerâmica há 24 anos, utiliza a linha circular que vai até a estação de trem de São Caetano e na volta Oswaldo Cruz.
“Geralmente fico uns 20 minutos dependendo da linha que pego. Às vezes demora mais tempo, o que acho ruim da frota da Vipe”, conta.
Após o anúncio da gratuidade, Santos gostou da iniciativa de liberar as catracas dos ônibus municipais.
“São Caetano é uma cidade pequena, porém está intransitável andar pelas ruas. São muitos carros, então o trânsito fica caótico. Isso vai ajudar muitas pessoas no final do mês, no bolso aquele dinheiro para pagar a passagem vai sobrar mais”, disse.
O coordenador Rafael diz que a tarifa zero é uma ação importante, mas a cidade precisa investir em infraestrutura.
“É necessário investir nos corredores (linhas municipais) e também na frota do transporte público, dessa forma terá mais qualidade para os passageiros. Com isso evita os ônibus lotados em horário de pico.”