Ícone do site Agência Mural

“Onírica”: exposição em Osasco une sonho, memória e arte periférica

Por: Laura Sales

Moradora do Rochdale, em Osasco, na Grande São Paulo, Gabriella Carvalho, tem na mãe uma das principais referências para se tornar artista. “Ela me ensinou o crochê, e isso me trouxe muito pro lado da manualidade”, afirma ela, que até 15 de  novembro está com a exposição “Onírica” no Gardê Brechó, no Jardim das Flores.

O trabalho dela une técnicas do crochê, grafite e pintura para mostrar a capacidade de transformar espaços urbanos em experiências culturais.

Gabriella, que adotou o nome artístico Rueda, sobrenome da mãe, é produtora cultural, artista visual, designer, videomaker e técnica audiovisual. Além da atuação individual, também faz parte do coletivo “Viela Vive”, que promove ações de cultura e educação nas periferias da cidade.

“O dia que o ermitão parou” exemplifica a aplicação prática da técnica de crochê ensinada pela mãe, como mencionado pela artista @Laura Sales/Agência Mural

A exposição reúne peças do acervo pessoal e obras inéditas criadas especialmente para a ocasião. Segundo ela, o conceito da exposição era falar sobre o processo individual de vivenciar as coisas às quais ela tem acesso, como o hip hop, a arte independente (underground) e a cultura popular.

Onírica, que significa algo relacionado a sonhos, foi o nome escolhido por conta da exposição estar ligada à experiência com a memória e o inconsciente: a artista mencionou que tem uma memória muito fraca.

O conceito inicial era tentar resgatar vivências de um lugar semi-inconsciente e trabalhar isso nas texturas e superfícies das obras. “Não tem como descrever melhor esse lugar que é ser inconscientemente consciente e vivenciando, juntando essas vivências”.

Um exemplo é a peça “Dançar com o corpo que tem”, produzida sobre um painel de disquetes, um suporte considerado obsoleto para conectá-lo com símbolos e expressões da cultura hip hop.

A mescla de técnicas presentes na exposição reflete as origens da artista como grafiteira, aleém a trajetória e identidade como mulher periférica.

“Queria muito que a exposição falasse sobre o meu processo individual, de vivenciar as coisas que eu tenho acesso hoje, muito no hip hop, na arte independente, nesse underground e também na cultura popular”.

Peça da exposição Onirica @Laura Sales/Agência Mural

Rueda reconhece que a variedade de técnicas vieram da prática de “fazer com o próprio corpo” e de usar os materiais acessíveis, ligando seu trabalho às lutas populares. “Muitas dessas novas texturas, assim como crochê, como couro de alfaia, vem desse lugar de fazer com o que se tem próximo”, conta.

A conexão com a atuação dela vem desde a infância. Após o crochê, Rueda se interessou por desenho e ilustração. Depois começou a trabalhar com audiovisual e produção cultural. “Foi um processo de descoberta, de vivenciar cada processo.”

Uma preocupação dela foi de manter a ancestralidade feminina, o que motivou a adoção do nome artístico Rueda, um protesto contra o apagamento das mulheres. “Foi uma forma de resgatar isso [o nome da família materna]. Uma forma de fazer e honrar para que ele não se extinguisse assim nessa linhagem”.

“Dançar com o corpo que tem” é produzida sobre um painel de disquetes, ressignificando um suporte considerado obsoleto ao conectá-lo com símbolos e expressões da cultura hip hop @Laura Sales/Agência Mural

A exposição está no ambiente do Gardê Brechó, no Jardim das Flores, em Osasco, tradicionalmente frequentado por jovens e conhecido como point noturno de arte e cultura.

A exposição conta com o trabalho da Produção Geral de Isabela Israel (ISRA), e a Assessoria de Produção de Mayara Duarte, reconhecida pelo trabalho na cultura preta. A cenografia e a montagem foram realizadas com o apoio de Iago Vasconcelos. A equipe técnica incluiu o cenotécnico João Batista, e a ambientação e registro audiovisual ficou a cargo de Lucas DS e Artur Andrade.

Onirica

Horário de funcionamento: De quarta a sábado das 18h às 23h e aos domingos das 16h às 22h, 

Endereço: Gardê Brechó: rua Gasparino Lunardi, 185, próximo à estação Comandante Sampaio, da linha 8-diamante

Sair da versão mobile