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Opinião: A que ponto leva um carrossel de preconceitos?

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Por Jéssica Souza | 16.02.2016

Publicado em 16.02.2016 | 15:47 | Alterado em 02.10.2018 | 18:15

Tempo de leitura: 2 min(s)
Crédito: Reprodução

Dia desses, ao passar pela sala escutei o seguinte trecho vindo do tablet que o meu priminho de 5 anos estava em mãos: “elogio de quem tem o pior cabelo do mundo não é grande coisa”. Parei, sentei ao lado dele e, inocentemente, perguntei o que ele estava assistindo. Ele pausou o desenho, me olhou e disse: Carrossel.

Passei os próximos 10 minutos ao lado dele para ver em qual ponto aquilo, que não posso chamar de desenho para criança, iria chegar. Para a minha surpresa, só piorou. Veja o episódio:

Quem disse a frase foi Maria Joaquina Medsen, que na novela é interpretada pela atriz Larissa Manoela. A personagem é “arrogante, pensa que por ser filha de médico, rica e bonita é superior aos seus colegas. Racista e preconceituosa, não mede palavras para ofender seu colega Cirilo, o qual despreza também por gostar dela. Costuma delatar os colegas a fim de prejudicá-los, é orgulhosa e sempre os humilha quando tem oportunidade”. A característica está em aspas, pois foi retirada do próprio site do SBT (link: http://www.sbt.com.br/carrossel/personagens/), onde o desenho e a novela são televisionados.

Decidi ir atrás de outras frases que a personagem costuma dizer para os seus colegas de classe, entre elas:

“Acredita que tem um menino negro na minha sala? Não acho bom que misturem a gente, como se fôssemos todos iguais”, Maria Joaquina para seu pai, o Dr. Miguel, reclamando de sua nova escola.

Em uma busca, no próprio site do SBT, encontrei as “frases da semana de estreia de Carrossel”, e notei que Maria Joaquina não é a única que usa e abusa do preconceito para ofender os seus colegas. A própria professora, “linda e meiga”, Helena Fernandes, interpretada por Rosanne Mulholland, também usa do mesmo artifício quando quer chamar atenção: “Um quilo hoje. Outro amanhã. Quando quiser recuperar a silhueta, será muito tarde”, Professora Helena para Laura, que devorava um lanche na hora do recreio.

Paulo Guerra (Lucas Santos), outro aluno da escola, também costuma atacar Laura, “Em vez de meter o nariz onde não é chamada, por que você não perde uns quilos?”.

(As frases, citadas acima, são de alguns personagens da novela televisionada às 21h30 pelo SBT (fonte: http://www.sbt.com.br/noticias/?c=10117).

Minha conclusão sobre isso, na verdade, vira um questionamento. Em um mundo onde rosa é para meninas e azul para meninos, padrão de beleza é ter o cabelo liso e vestir um manequim 36, colocar um boneco com o cabelo black power na cozinha para lavar louça é engraçado, e exibir esse tipo de conteúdo desde 2012 para crianças é considerado normal, em qual ponto iremos chegar embarcando nesse carrossel?

Jéssica Souza, correspondente de Guarulhos

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