Sou Lucas Veloso, moro em Guaianases, no extremo leste de São Paulo. Com mais de 200 mil moradores, meu bairro sofre com diversas negligências, como falta de equipamentos culturais, e de saúde. Nos últimos dias, a ausência de informações têm sido mais uma.
Como jornalista, há cinco anos escrevo na Agência Mural sobre o cotidiano do meu bairro. Nas últimas semanas, a pandemia do novo coronavírus nos pegou de surpresa. Eu vivo de informação, dos moradores, pesquisadores e também do poder público, como a Prefeitura de São Paulo, mas nas últimas semanas isso tem sido negado.
Para produzir matérias e pautas sobre o vírus que está no centro da cidade, e que já tem chegado com mais intensidade nas periferias. No dia 9, pedi dados de Covid-19 confirmados na cidade, divididos por distritos, à prefeitura da capital, mas não fui respondido.
Aliás, em 20 de março, mandei um e-mail solicitando as unidades de saúde em que os exames poderiam ser feitos, e também não fui atendido como deveria. “Olha no site”.
Neste momento, em que autoridades médicas pedem isolamento social e indicam medidas de higiene e proteção, as pessoas das periferias sofrem com a obrigação de ir trabalhar (para não perder o emprego), com a dificuldade de isolamento em casas pequenas e a falta de álcool gel para se proteger ainda mais.
Somado a isso, faltam dados do poder público, que deveria priorizar essas informações já que é a periferia quem mais vai sofrer com os danos da Covid-19, seja pelo número de moradores ou por falta de serviços básicos como água e de saneamento básico.
Conversando com alguns colegas, eles também relataram dificuldades em acessar os dados, como é o caso da Paloma Vasconcelos, jornalista da Ponte Jornalismo, ou de Ronaldo Matos, da zona sul, criador do portal Desenrola e Não me Enrola. “A secretaria de saúde está negando acesso aos dados da pandemia. Tentei por duas vezes e não tive sucesso”, disse.
Sem responder aos veículos, a prefeitura divulgou durante a semana dois mapas nas redes sociais sobre os casos na cidade por região. Cada um informava uma coisa diferente. Um dizia o número de mortes por subprefeitura, o outro o número de óbitos e óbitos suspeitos em um mapa.
Porém, não discriminava quantos são as mortes confirmadas e quantos são as suspeitas.
No final da semana, foi publicado o segundo boletim mais detalhado sobre a situação da cidade. Novamente, os mapas disponíveis não discriminam número de mortes suspeitas e de confirmadas. Não considera as populações de cada região.
Esses dados parciais causam sensações duvidosas. Alguns bairros dos extremos da capital, por exemplo, chegaram a imaginar que estão em ‘situação mais tranquila’, com poucos casos, mas a gestão não coloca que eles também fazem parte da subprefeituras menos populosas. Nem compara o número de casos para termos ideia da letalidade.
A gestão assusta ao dizer que o vírus provocou 28 mortes aqui em Guaianases, mas nega qual o caminho que o vírus está percorrendo e, assim, conscientizar os moradores sobre como contribuir para frear o avanço da Covid-19. Pedimos a planilha com esses dados do mapa. Também sem resposta. Sigo contando quantos dias vou dormir sem ser respondido.
Segundo uma pesquisa Datafolha, divulgada pelo jornal Folha de S.Paulo, TVs e jornais lideram confiança do público sobre coronavírus. Nos sites de notícia, 38% declararam que confiam.
Esses números indicam que a informação pode ser uma das armas contra a pandemia. Uma população bem informada vai lidar melhor com a crise, mas parece que o governo municipal ainda não se atentou a isso.
Na Mural, estamos dedicados a cobrir os impactos da pandemia nos bairros que nós moramos. Aliás, criamos o ‘Em quarentena’, um podcast para reforçar a cobertura. Tudo para não faltar informação.
Afinal, ter dados precisos nos ajuda a combater a desinformação que está circulando diariamente pela cidade. A gestão municipal, infelizmente, parece não se importar com isso.