Minha história com o câncer é longa. Na minha família, seis pessoas enfrentaram algum tipo da doença (câncer de mama, pâncreas, pulmão, estômago, cérebro, coluna e pele) entre os quais houve cinco óbitos. Fui a sétima pessoa a ter o diagnóstico, aos 32 anos.
Em janeiro deste ano comecei a sentir muita dor na mama direita e uma queimação que me irritava muito, mas fui deixando de lado. Afinal, poderia ser resquícios de uma menstruação. Pessoas que menstruam sabem o quanto nosso corpo pode se alterar por conta disso.
Mas em fevereiro resolvi averiguar essas dores, já que o autoexame não detectava nada. Passei com o Dr. Fábio, ginecologista, em uma consulta online. Relatei o que acontecia e assim foram pedidos os exames. Fiz um primeiro ultrassom de mamas, que não identificou “achados suspeitos para câncer de mama”.
O autoexame de mama é indicado para todas as mulheres a partir dos 20 anos. Olhe, palpe e sinta suas mamas no dia a dia para reconhecer suas variações naturais e identificar as alterações suspeitas. Em caso de alterações persistentes, procure o posto de saúde ou um profissional.
Com pedido de acompanhamento em seis meses, voltei com o ginecologista e reclamei novamente. Um mês depois refizemos o exame e já havia tido um crescimento significativo e com um resultado maior de achados suspeitos para malignidade (o sistema Bi-Rads define o grau de suspeita nessa categoria e varia muito, de 5% a 90%, segundo informações do site Câncer de Mama Brasil).
Ao chegar com esse novo resultado (Bi-Rads 4) para o ginecologista, ele imediatamente pediu uma biópsia. Minha consulta de retorno demoraria, e como uma pessoa ansiosa que sou, li o exame e acabei mandando e-mail para o Dr. Fábio.
Ele respondeu de imediato, pedindo que eu procurasse um mastologista, e me indicou um colega de trabalho, o Dr. Leonardo Baruki. No dia seguinte entrei em contato e o mastologista disse que leu todos meus exames. Depois, pediu para que eu fosse naquele mesmo dia (era um 12 de abril) ao consultório. Me arrumei e fui.
Mil coisas passavam pela minha cabeça naquele momento. Afinal, se não fosse algo sério ele não me pediria para ir ao seu consultório. Em 18 de abril, fiz a primeira cirurgia, foi retirado o quadrante da mama onde a malignidade do câncer estava, a recuperação foi muito chata e dolorosa, dreno, pontos e tudo mais.
Após essa cirurgia, precisei procurar um oncologista para ver o seguimento do tratamento, então conheci a Dra. Laryssa. Ela foi uma benção e tem sido cada vez mais. É uma médica completamente competente e muito humana, na primeira consulta fiquei uma hora e quarenta minutos em sua sala, foi feito autoexame e muita conversa, me acalmou muito.
Mas, infelizmente, naquele primeiro contato não teria como dar o próximo passo, já que o que foi retirado da axila (linfonodos) saiu apenas gordura, então em 5 de julho fui submetida a uma nova cirurgia. Precisaríamos desse resultado para saber se a célula cancerígena estava se espalhando pelo corpo ou não.
No final, o exame veio positivo, me submetendo a quatro sessões de quimioterapia com intervalo de 21 dias. Diferente de minha família, que fez e faz tratamentos pelo SUS (Sistema Único de Saúde), meu tratamento é particular, por conta do convênio do trabalho.
Montanha-russa
Aprendi o quão difícil é lutar contra tudo isso. Quando pensamos em quimioterapia, já ligamos a enjoos, vômitos e a queda de cabelo, mas vai muito além disso. São dores físicas insuportáveis, enjoos ao sentir qualquer cheiro, dores no peito, falta de ar, formigamento nas mãos. São vontades de desistir por se cansar de estar sempre numa montanha-russa.
Tomava banho e caía tufos de cabelo, acordava e tinha tufos de cabelo no travesseiro. Quando perdi o cabelo foi uma dor muito forte, e apesar de ouvir o tempo todo “cabelo cresce”, “cabelo é o de menos”, não, não é o de menos.
Perder o cabelo é sentir que aquilo está sendo concretizado, está acontecendo comigo
Também ouvi diversas vezes, de pessoas próximas e de quem nunca me viu na vida, que sou forte, que preciso ser forte. Mas eu não sou forte, estou sobrevivendo da forma que dá, com dias bons e outros nem tanto, com dias produtivos e outros totalmente sem conseguir sair de uma cama.
Sei que queremos sempre mostrar o lado bom da vida, mas não precisamos dizer para o outro ser forte. Ninguém sabe o que o outro aguenta. Já pensei em desistir diversas vezes, pensei em abrir mão da quimioterapia por não suportar o pós-tratamento, é doloroso e ninguém fala sobre isso.
Mas, durante esse processo, consegui relatar algumas coisas nas redes sociais e tive um retorno absurdo de mulheres que diziam nunca ter feito um exame de ultrassom ou o autoexame. Vendo a minha história, foram ao médico e falaram que se cuidariam mais, para ter um diagnóstico precoce.
Durante o tratamento, também me senti muito mal com a minha careca. Foi então que encontrei o projeto Cabelegria, localizado em Santana, na zona norte de São Paulo. Entrei em contato e fui até o ateliê. Ali ganhei uma peruca linda, um lenço que me deixa muito confortável e uma ecobag com a escrita “força na peruca”.
A ONG não cobra nada, a única coisa que eles pedem é para que a peruca seja devolvida após o tratamento para que outras pessoas também possam ter essa oportunidade.
Cura
É outubro e estou caminhando para a cura, de forma lenta, mas com fé de que tudo dará certo. O processo ainda está pela metade, após as quimioterapias, terei que fazer radioterapia e tomar uma medicação por cinco anos para controle hormonal.
Se não houver esse controle, a chance do câncer voltar é de 95%. Durante esse tempo, não poderei ter filhos, e ainda estou no aguardo do resultado genético para ver se precisaremos fazer mais alguma cirurgia.
Para além do Outubro Rosa, é preciso se prevenir, fazer os exames e pedir aos médicos que façam análises complementares. Você, mais do que ninguém, conhece seu corpo. Então, qualquer coisa errada ou dúvida sobre algo, procure um especialista. A nossa saúde é frágil e importa.
Quais são os sinais e sintomas do câncer de mama?
Qualquer caroço na mama em mulheres com mais de 50 anos deve ser investigado. Em pessoas mais jovens, qualquer caroço deve ser investigado se persistir por mais de um ciclo menstrual.
Caroço (nódulo) endurecido, fixo e geralmente indolor. É a principal manifestação da doença, estando presente em mais de 90% dos casos.
Alterações no bico do peito (mamilo).
Pequenos nódulos na região embaixo dos braços (axilas) ou no pescoço.
Saída espontânea de líquido de um dos mamilos.
Pele da mama avermelhada, retraída ou parecida com casca de laranja.