A 30 km do centro São Paulo mora o educador social Weslley Silva, 23, no Grajaú, na zona sul de São Paulo. Na região, ele conta que apesar das medidas de isolamento social para evitar o avanço da Covid-19, é comum ver crianças nas ruas, praças e quadras da região, medida não recomendada pelos profissionais da saúde.
Foi quando surgiu a ideia e materialização do “Livro pra colorir, repintar, repensar e recriar“. Outros artistas do coletivo “O Corre” montaram a cartilha que tem brincadeiras, espaço para pintar e também uma parte para que as próprias crianças desenhem. “Um dos nossos objetivos é alertar sobre a importância de se manter em casa. A cartilha ajuda nisso”, conta Weslley.
Ficar em casa tem sido um mantra, enquanto os casos seguem avançando pela cidade. No Grajaú, eram 162 ocorrências de Covid-19, no último balanço da prefeitura em 30 de abril.
Com a pandemia, o cenário em parte do Grajaú, no extremo sul da capital, é de pessoas sem renda para pagar as contas, preocupadas com a falta de arroz e feijão e com dificuldades para lidar com as crianças em casa.
Preocupado com a situação, Weslley e outros amigos do “O Corre” participaram de ações que distribuíram centenas de cestas básicas a desempregados, além de itens de higiene, como álcool em gel e máscaras. “Articulamos os alimentos e a higiene e procuramos entender outras necessidades da comunidade”, diz Weslley.
Para ele, além de pensar em comida e higiene, oferecer opções às crianças também é prioridade. Sem aulas, o coletivo viu que crianças e adolescentes também precisavam interagir durante o período de isolamento social. Foi quando pensaram em fazer a cartilha.
O livro é uma colaboração de 12 artistas do território que disponibilizaram suas artes, sem cobrança de dinheiro, em preto e branco para colorir. Além das ilustrações, o livro têm poesia, recortes e quadrinhos.
“Para nós é muito importante a materialização desse livro, justamente para exaltar a potência, não só da arte, mas da arte educação no território, da articulação e da força de vontade de cada pessoa que somou com esse projeto”, define Weslley.
“Apoie trabalho de artistas e articuladores periféricos, movimente a economia local, divulgue e fortaleça microempreendedores locais”, diz agradecimento da publicação
Com a ideia de valorizar a produção na periferia, as artes disponíveis na cartilha são de artistas que vivem e trabalham no Grajaú, como a arte-educadora Ana Paula de Resende e o grafiteiro William Trindade.
“Temos que entender que o impacto acontece no território. Esses artistas entenderam que crianças são vetores e são leques para desenvolver trabalhos bons”, comenta Weslley. “Minhas referências surgem do bairro, e quero mostrar isso”.
Além de disponibilizar o livro para baixar no site do coletivo, o grupo pretende firmar parceria com gráficas que imprimam o material. A ideia é distribui-lo para famílias pobres que foram beneficiadas com cestas básicas.