Paixão pela arte, aliada ao que se acredita. Foi movido por esses sentimentos que o desenhista Manoel Taylor, 29, chegou à Perifacon, a convenção nerd das favelas, realizada na Fábrica de Cultura do Jardim São Luís, entre 25 e 26 de outubro. Pela terceira edição seguida, ele apresentou suas obras no Beco dos Artistas.
Focado em um conteúdo educativo e antirracista, o gaúcho de Caxias do Sul faz releituras de super-heróis pretos, além de exaltar figuras negras fundamentais para a cultura e para a história do Brasil – e do mundo.
Em encontro com a escritora Conceição Evaristo, Manoel a presenteou com uma de suas obras @Arquivo pessoal
“Meu intuito é dar destaque para raça, classe e gênero também. E aí eu faço releituras de ícones como Carolina Maria de Jesus, Malcolm X e Muhammad Ali”, conta.
Mas eles não são retratados apenas como as personalidades que eram. O artista apresenta os ícones negros como super-heróis, para dialogar e despertar a curiosidade de quem muitas vezes não conhece suas histórias.
‘É muito difícil ver uma criança que saiba quem é Carolina Maria de Jesus ou Machado de Assis. Então eu os apresento de uma forma mais fantasiosa, mais super-heróica, para aguçar o interesse’.
Os desenhos também dialogam diretamente com o artista. As interpretações de super-heróis feitas por Manoel fazem com que ele retrate os personagens como gostaria de tê-los visto na infância.
O artista lembra que, quando brincava de super-heróis com os amigos, a maioria dos personagens eram brancos. A falta de representação era um obstáculo.
Manoel Taylor apresentou suas criações na Perifacon 2025 @Daniel Santana/ Agência Mural
Por isso, além de reinterpretar, Manoel também cria novos heróis pretos, alinhados com os gostos da nova geração, mostrando que no dia a dia também existem muitas pessoas negras que poderiam ser heróis.
“Isso também é sobre as crianças. É dizer que elas podem se enxergar [nos desenhos], que podem fazer parte desse processo”.
Uma vida no traço
A paixão de Manoel pelo desenho vem da infância, mas a atuação profissional nas artes começou apenas em 2019. De lá pra cá, ele não parou mais.
Com um estilo que mistura ciberpunk e afrofuturismo, o artista desenha com inspirações na ficção, próximo do abstrato, buscando dialogar com o público jovem.
Atualmente morando no Campo Limpo, zona sul de São Paulo, ele ressalta a importância do espaço cedido pela Perifacon para a exposição de sua arte e de sua forma de pensar.
Muhammad Ali em uma releitura afrofuturista @Arquivo pessoal
Além de suas obras, ele também mediou a palestra sobre a HQ “Gezebel”, que contou com a participação de Fred Ouro Preto (diretor e co-produtor de séries e longa-metragens como “AmarElo – é tudo pra ontem) e Sandrão RZO (rapper, ator e diretor) .
Para ele, o evento aproxima um público muitas vezes deixado de lado quando o assunto é cultura geek: os moradores das quebradas. Por isso, na sua opinião, a Perifacon traz um sentimento de acolhimento.
Trocar ideias sobre quadrinhos, ilustrações e outras artes se torna, assim, uma forma de conexão com as periferias.
“Eu não preciso explicar o que está nas minhas obras. É uma coisa fantástica: você bate o olho, se reconhece e vê que isso pertence à nossa cultura, faz parte do nosso dia a dia. É sensacional.”

