Desde sexta-feira (3), os moradores do Jardim Ypê, no Capão Redondo, zona sul de São Paulo, estão sem energia elétrica, como várias regiões da cidade atingidas pelos ventos. Responsável pelo fornecimento de energia na Grande São Paulo, o presidente da Enel Brasil, Nicola Cotugno, disse à Folha de S. Paulo que “não é para nos desculparmos, foi um vento absurdo”.
Para a população, a fala só pode vir de quem não foi afetado pela falta de energia elétrica e não está tendo que guardar comida na casa de vizinhos para salvar o que restou.
“Não [é para se desculpar], então a culpa é nossa?”, questiona o vendedor Bruno Mattos, 34, morador do Capão Redondo. “Não deve estar passando sufoco, não deve estar pedindo para colocar comida na casa de vizinha, na geladeira de vizinho, não deve estar cinco dias tomando banho gelado, que é o que está acontecendo comigo e com muita gente.”
Bruno vive com a esposa e dois filhos no Parque Ypê e relata que a situação tem sido complicada desde a interrupção no fornecimento de energia. Há cinco dias sem luz, ele tem levado o celular para o trabalho para carregar e perdeu mantimentos. Na rua dele, uma parte do bairro ainda tem energia, que vem de um poste que não foi atingido. Ao contrário da casa onde vive, que segue às escuras.
‘Bem difícil, sabe, eu estou bem estressado. Com criança, perdi carne e perdi leite, perdi feijão, tá bem difícil mesmo. Não só para mim né? Infelizmente para muita gente ainda, né?’
Até esta segunda-feira (6), havia cerca 464 mil pessoas sem energia restabelecida depois do temporal, segundo o diretor de mercado da Enel São Paulo, em entrevista para a rádio Band News. Ele garantiu o restabelecimento total até esta terça.
Por conta da situação, Bruno não tem levado comida ao trabalho e tem evitado fazer compras para casa, já que não há certeza de quando a situação voltará à normalidade.
Ele questiona o argumento de que a responsabilidade é apenas do forte vendaval, que chegou a 104 km/h.
‘Eu entendo que foi complicado. Ninguém está falando do que aconteceu. O ponto não está aí. A questão está em levar cinco dias para arrumar. Tinha que ter equipamento, tinha que ter mais gente’
“Cinco dias é um absurdo. A gente paga por um serviço e não paga barato o serviço de energia e de água, entendeu?”, ressaltou. “Parece que a gente está pedindo um favor, sabe, e não é. A gente paga por um serviço e não paga barato.”
Quem vai pagar a conta?
Desde o dia do evento, tem sido um empurra empurra de quem é a culpa da demora na resolução do problema. A Enel diz que a prefeitura não realizou a poda das árvores, já a prefeitura atribui o atraso à empresa de energia. E até o clima foi responsabilizado pelos eventos.
Na segunda-feira (6), o governador de São Paulo, Tarcisio de Freitas (Republicanos) anunciou que a Enel junto às concessionárias de energia vão ressarcir os prejuízos da população e pediu agilidade no pedido dos clientes. Para isso, pretendem criar um plano espacial de atendimento, mas não forneceu detalhes nem prazos para isso.
Também falou sobre um plano de contingência para viabilizar a chegada das equipes para reestruturação da rede de fiação. Até o momento, apenas 0,3% foi enterrada em uma rede de 20 mil km de fios.
Em nota ao G1, a Enel disse que cumpriu 100% a meta de enterramento da rede elétrica, conforme contrato de contrato de concessão.
No entanto, o volume só abrangeu as regiões centrais. “65,2 km de redes, sendo 52 km no centro, 9 km na região do Mercado Municipal e 4,2 km na Vila Olimpia.”
Segundo o prefeito Ricardo Nunes (MDB), o enterramento total da rede elétrica teria um custo total de R$ 20 bilhões e que seria impossível fazer o aterramento de toda a rede. O prefeito não exclui a possibilidade de dividir essa conta com a população, o que chamou de “contribuição de melhoria”.