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Nos últimos pontos de ônibus de São Paulo

Por: Luana Nunes

O bairro é Barragem, no distrito de Parelheiros, zona sul de São Paulo. São 5h30 da manhã e a diarista Estela Márcia, 48, sai de casa para mais um dia de trabalho. Antes de iniciar as três horas no transporte público, a viagem começa com 30 minutos de caminhada de casa até o ponto final do primeiro ônibus.

O percurso até o emprego, na Avenida Paulista, é feito por meio da linha 6L05/10 Terminal Parelheiros – Barragem. A parada final é na Estrada da Barragem e de lá o único jeito para chegar às moradias é seguir a pé em vias sem asfalto.

Para quem trabalha e estuda, as 24 horas do dia parecem insuficientes. Mãe de três filhos, Estela cursa serviço social na faculdade Uninove, em  Santo Amaro, por ser a opção mais próxima de casa a 30 km do bairro. A rotina de chegar tarde e sair cedo no dia seguinte fez com que ela optasse por estudar à distância.

Ponto final da Barragem, no extremo Sul da capital (Luana Nunes/Agência Mural)

Ela se mudou para a região há 16 anos e diz que, em todo esse tempo, foram poucas as melhorias no transporte público. Diante das dificuldades, dois filhos optaram por morar em outro lugar. O mais velho, Victor Augusto, 26, foi o primeiro a sair de casa, mudou-se para região de Santo Amaro. Samara Isabelle, 22, seguiu os passos do irmão e foi morar na região do Grajaú para concluir a faculdade de pedagogia e trabalhar.

“Criamos filhos para o mundo, mas normalmente queremos eles sempre dentro de casa, eu não dormia enquanto minha filha não chegava, então essa mudança me ajudou a ter mais tranquilidade em saber que ela estava bem e chegando em casa mais cedo”, diz.

A futura assistente social relata que se acostumou com a distância. Porém, por vezes, teve medo de sair na rua de madrugada para esperar a condução e já tomou sustos. 

“Eram 4h30 e estava indo para uma consulta, sozinha. No caminho que faço a pé para pegar o primeiro ônibus tinham homens parados, no escuro, esperando por alguém, e eu não tinha como voltar”, conta. “Consegui passar por eles, mas foi um grande susto, achei que iam fazer algo comigo”, conclui.

Estela mora no bairro Barragem há 16 anos e viu os filhos deixarem a região por conta da distância (Luana Nunes/Agência Mural)

DIFICULDADES

Um dos maiores desafios enfrentados por quem vive no extremo sul é a distância entre casa e trabalho. Os 131 mil habitantes de Parelheiros (dados do Censo 2010) contam com apenas seis linhas de ônibus que saem do terminal. Apenas três levam praticamente toda a população para o centro da cidade: 695Y/10 – Metrô Vila Mariana, 6000/10 – Terminal Santo Amaro e 6091/10 – Terminal Santo Amaro.

Segundo pesquisa do Ibope, realizada pela Rede Nossa São Paulo em setembro do ano passado, os bairros do extremo sul e extremo leste da capital têm o maior índice de tempo de viagem, chegando até a três horas.

Além de Barragem, outros bairros que ficam ao redor dela também exigem uma longa caminhada em vias sem asfalto para fazer o trajeto, por exemplo, Santo Antônio, Vera Cruz, Jardim Paulista, Cidade Luz, Evangelista de Souza e Krukutu.

A Estrada da Barragem é a única que vai até o bairro de mesmo nome e fica praticamente no final do distrito de Parelheiros, próximo à Serra do Mar. No passado, o local serviu de caminho para o litoral de trem – atualmente há apenas transporte de carga pelos trilhos. 

Moradores da região afirmam que já houve pedidos para a expansão da linha de ônibus pelo bairro, porém, nada foi feito. Mariana Santos, 22, mora com a família na região desde que nasceu e tem um filho de 2 anos. “Às vezes tenho que sair às 5h30, dependendo de onde é, para não perder o horário”, conta sobre quando precisa levar o filho a uma consulta médica.

A prefeitura regional de Parelheiros informou que não tem autorização para pavimentar ruas de grande parte da região por se tratar de uma APA (Área de Proteção Ambiental), o que impossibilita a expansão das linhas de ônibus para todos os bairros.

Luana Nunes é correspondente de Barragem
luananunes@agenciamural.org.br

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