“O que você faria se recebesse informações oficiais de que o bairro ou a rua tem altas taxas de contaminação e mortes por Covid-19?”. Essa foi uma das perguntas feitas na pesquisa Viver em São Paulo – Especial Pandemia. 57% das pessoas responderam que ‘passariam a sair menos de casa para ficar o mais isolado(a) possível’.
Divulgada nesta terça-feira (9) pela Rede Nossa São Paulo em parceria com o Ibope Inteligência, o levantamento mostra a percepção dos paulistanos sobre os impactos do coronavírus nos bairros e as medidas adotadas na cidade para conter o avanço da doença.
Moradora de Cidade Tiradentes, na zona leste da cidade, a jornalista Rubia Mara Oliveira, 30, diz que as informações são importantes, mas que os dados chegam diferentes na periferia.
“A gente vive uma série de violência e a pandemia é mais uma das dores”, comenta. “Qual a porcentagem das periferias? A gente não sabe e muita gente desacredita”.
Rubia relata que no bairro não teve isolamento físico entre as pessoas. Nas suas palavras, ‘mercados viraram shoppings centers’, além disso, igrejas e bailes funk não foram interrompidos nas últimas semanas. “Não teve isolamento nas periferias e não foi diminuído o movimento”, acrescenta.
Apesar de dispensadas do trabalho, ela afirma que os vizinhos não ficaram isolados. A jornalista diz ainda que, sem testes e atendimento adequado nas periferias, a ausência de informação causa ainda mais danos na região.
Essa sensação começou ainda antes do processo de reabertura econômica, anunciado nas últimas semanas pelo governo do estado.
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No estudo, a Rede Nossa São Paulo contou com o suporte do Ibope Inteligência, responsável pelas entrevistas online. O levantamento ouviu 800 pessoas com idades a partir de 16 anos durante a quarentena na capital paulista, entre os dias de 21 de maio a 01 de junho de 2020, das classes A, B e C. A pesquisa tem margem de erro de três pontos percentuais.
O levantamento indicou entre outros fatores uma piora na avaliação da prefeitura, governos estadual e federal, no combate à Covid-19, e também que a maioria considera importante tentar reduzir a desigualdade social.
De acordo com o pesquisador em Planejamento e Gestão do Território, Aluízio Marino, 33, uma das falhas na cidade é a falta de informações específicas sobre a Covid-19 nos bairros. “Não dá para atuarmos no geral. Por exemplo, as ações da prefeitura, como o feriadão e o mega rodízio agiu como se os trabalhadores tivessem todos nas mesmas condições”.
Aluízio diz acreditar que as políticas de informação deveriam partir das casas e endereços onde os casos e óbitos da pandemia são registrados. “A informação é um elemento muito importante e fundamental para combater a pandemia”, alerta.
Para Aluízio, sem dados confiáveis e atualizados diariamente para acesso das pessoas, o poder público dá abertura para narrativas que negam a gravidade da doença e espaço para notícias falsas. “Com informação, teríamos como informar melhor as pessoas nos bairros e agir onde há mais casos com estratégias”.