A Igreja da Matriz, de 1682, a Igreja Rosário dos Homens Pretos, de 1802, e os antigos galpões das fábricas do século 20 na Penha, na zona leste de São Paulo, recebem novos moradores. Milhares de imigrantes bolivianos vivem no bairro e explicam o porquê.
Segundo dados da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania em 2019 haviam mais de 360 mil imigrantes vivendo em São Paulo. A maior comunidade é a de bolivianos com mais de 75 mil pessoas.
Morador há 12 anos da Penha, o costureiro autônomo, Fábio Vitor Chicon, 37, está no bairro desde quando chegou a São Paulo. “A Penha tem tudo que a gente precisa. Não precisei ir a lugar nenhum para conseguir o que a gente quer”, conta.
No bairro é possível encontrar restaurantes de culinária boliviana, mercearias com produtos andinos, lojas de linhas e aviamentos e confecções de costura.
Há quatro meses o comerciante Oscar Canassa, 38, abriu um restaurante com pratos típicos bolivianos na rua Coronel Rodovalho. Ele explica o que o fez escolher a Penha. “Moro aqui há oito anos. Aqui tem acesso a tudo rápido. É fácil de chegar na Penha”.
Oscar tem 18 anos de Brasil. Antes de morar na Penha, ele viveu na Vila Medeiros, na zona norte da capital. “Na vila Medeiros demorava meia hora para o ônibus passar e nesse tempo não tinha carro. Eram dois ônibus para o Bom Retiro. Aqui [na Penha] tem mais transporte e mais facilidade”, argumenta.
Oscar comenta que o maior movimento do restaurante é aos domingos, quando os bolivianos estão de folga. O prato mais pedido é o Pique Macho – batata frita coberta com tiras de carne, salsicha e pimentões.
Novo perfil
A Penha fica no encontro dos rios Aricanduva e Tietê (assim como a avenida e a marginal), além da avenida Celso Garcia, que liga a zona leste com o centro de São Paulo e a Radial Leste. Em 1986, o bairro recebeu a estação da linha 3-vermelha do metrô.
Caracterizada por muito tempo pelo turismo religioso, além da relação com a cultura negra simbolizada pela Igreja do Rosário dos Homens Pretos, o distrito passou a receber mais imigrantes que antes se concentravam em regiões como Bom Retiro e Brás, no centro de São Paulo.
A comerciante Karolina Ticona Condori, 38, argumenta que o preço do aluguel tem pesado na hora de escolher onde viver em São Paulo.
“Os bolivianos trabalham muito, então [os locatários] pensam “muito vou explorar ele também”, afirma. Aqui [na Penha] tem uma casa de dois quartos, sala, cozinha, banheiro, na base de R$ 1.200, R$ 1.500. Lá no centro está R$ 3.000, R$ 4.000, com três quartos, eu acho um absurdo.”
Karolina está no Brasil há 23 anos e vive no bairro do Cangaíba. Em 2021, ela abriu uma mercearia com produtos bolivianos na rua Padre João, no centro da Penha. Os pães, feitos pela mãe de Karol, e as pipocas são os produtos mais procurados.
Em comparação com o centro, outro ponto levado em consideração é a segurança. O costureiro autônomo Fábio diz que a Penha é mais tranquila. “É mais seguro que no Brás e na Praça Coimbra, porque mesmo jogando bola na quadra e saindo à meia-noite é tranquilo. Nunca passei por nenhum acidente”, explica.
Mesmo com as facilidades da região, os bolivianos enfrentam outros problemas. “[Brasileiro] é bom, é um povo acolhedor, mas tem muita gente ignorante também. Não é que ela se é maldosa, é que ela ignora a história e a cultura de outra pessoa”, destaca Karolina.
Para unir a comunidade boliviana e se relacionar com os brasileiros, a Feira de Artesanato e Comidas Típicas Pueblo Andino é ralizada aos domingos das 9h às 18h no Largo do Rosário, local de presença da comunidade preta no bairro da Penha.