Ainda estava escuro quando a equipe do 32xSP chegou ao ponto onde a recepcionista Aline Alves, 21, costuma pegar ônibus às 6 horas da manhã para ir ao trabalho. A intenção? Acompanhá-la no trajeto. Moradora do Grajaú, zona sul, praticamente desde criança, a recepcionista trabalha há dois anos em um prédio localizado na Vila Olímpia. A distância até o local de destino é um pouco mais de 20 km. Todavia, a questão que implica na viagem que acontece de segunda a sexta-feira é o desempenho do transporte público e do trânsito. A garota depende de uma lotação, um trem e mais 15 minutos de caminhada quando desce na estação de trem Vila Olímpia. Em dias de trânsito complicado, ela leva mais de 2h no trajeto de ida e no de volta, assim como 16% dos paulistanos.
No dia em que Aline foi acompanhada, a viagem durou 1h e 24 minutos sem tráfego intenso e sem problemas no trem. O que não mudou naquela manhã foram os vagões muito lotados. Foram necessários alguns esforços para que ela conseguísse entrar. Há dias nos quais é preciso esperar o próximo trem. Para a recepcionista, essa rotina cansa mais que o próprio trabalho. “Se o intervalo entre os trens fosse menor seria melhor. Não teria esse tanto de gente assim”, completa. Em alguns momentos a super lotação também atinge o primeiro transporte usado por ela. “Quando as peruas demoram, passam aqui cheias e eu tenho que entrar pela porta de trás”, explica. A questão dos transportes cheios também influencia no tempo de viagem, pois causa demora nas paradas nos pontos de ônibus e nas plataformas do trem.
Em outra situação está o analista de marketing Leonardo Cruz, 29. Ele mora na Aclimação e trabalha na região de Pinheiros. Demora em média 30 minutos para chegar ao trabalho de metrô e no emprego anterior demorava apenas 20 minutos caminhando. Esta rotina começou há quase 10 anos quando ele e a então namorada decidiram se mudar de São Mateus, zona leste, distrito no qual Cruz viveu por 19 anos. Antes da mudança, Cruz demorava pelo menos duas horas e meia para chegar ao trabalho na Vila Olímpia. Na época, dependia de ônibus, metrô e trem. A volta para casa acontecia da faculdade, que ficava na Barra Funda, zona oeste, e demorava em média 1h e 40 minutos. Segundo cruz, algumas das grandes vantagens da mudança foram: ter mais saúde e ficar mais calmo.
Todavia, a fase de transição foi bem difícil para o casal. “O aluguel levava quase todo o nosso salário. Mas, no tempo que a gente ganhou de deslocamento, fazíamos frila”, relata Cruz. O analista pensa que é importante melhorar e aumentar a malha de transporte, mas não é o suficiente. Para ele, é preciso descentralizar o mercado de trabalho, pois as oportunidades nas áreas periféricas são poucas. “Acho que devem levar empresas para a periferia. Não vejo sentido em empresas de telemarketing ficarem no centro, por exemplo, se a maioria dos funcionários moram longe”, argumenta Cruz. “Quem mora em São Mateus não tem a mínima chance de chegar ao trabalho em 40 minutos”, complementa.
De acordo com a pesquisa sobre mobilidade urbana da Rede Nossa São Paulo e IBOPE Inteligência, publicada em setembro de 2016, 33% dos paulistanos gastam entre 1 e 2 horas por dia em deslocamentos para a realizar a atividade principal do cotidiano, considerando ida e volta. 30% levam pelo menos duas horas. 12% demoram até 30 minutos e 13% mais de três horas. A média de tempo para 2016 é 2h e 21 minutos. Este número aumentou em relação aos dois anos anteriores, em 2014 e 2015, a média se manteve em 1h e 44 minutos.
Quando a questão muda para o tempo médio gasto no trânsito para realizar todos os deslocamentos diários, é indicado que 52% dos paulistanos gastam pelo menos 2 horas por dia em locomoção e 16% mais de 4 horas. Assim, a média de 2016 é 2h e 58 minutos. Em 2015 e 2014, respectivamente, foi 2h e 38 minutos e 2h e 46 minutos.
Foto: Priscila Pacheco