Dos dez deputados federais mais votados nas periferias na última eleição, todos foram eleitos. Entre os partidos, o PT conta com três representantes, Republicanos, União Brasil e PL contam com dois cada um e o PSDB com uma deputada. No caso dos estaduais, a distribuição entre esquerda e direita é equilibrada. O PT conta com quatro representantes, o União Brasil conta com dois deputados e o PRTB, PSOL, Republicanos e PP contam com um parlamentar cada um.
Na disputa presidencial, o presidente Jair Bolsonaro (PL), venceu em 27 das 33 zonas eleitorais das periferias da cidade de São Paulo no segundo turno de 2018, de acordo com dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Isso significa que as periferias são conservadoras?
Para o mestre em ciências sociais Renato Almeida, pesquisador do CEP (Centro de Estudos Periféricos) da Unifesp (Univeridade Federal de São Paulo) não. Ele avalia que a eleição dos deputados federais e do presidente alinhados a pautas conservadoras tem relação com o ambiente do período e não com uma mudança de percepção.
“É um equívoco fazer a leitura que a população periférica se tornou conservadora em 2018”, afirma o pesquisador que é de Guaianases, zona leste de São Paulo. “O que houve foi uma consolidação da direita o que acabou convencendo pessoas indecisas e fez com que o congresso e o executivo mais conservador se estabelecesse”, defende.
Ele argumenta que o contexto de 2018 levou as periferias a votar em candidatos de direita. O antipetismo, acirrado pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e a prisão do ex-presidente Lula (PT) pesaram no período.
Havia também o desejo de alternância de poder exposto nas manifestações de 2013 e o alto índice de abstenção nas eleições contribuíram para a eleição de um Congresso Nacional mais conservador. De acordo com dados do TSE, a abstenção no estado de São Paulo chegou a 21,18% nas eleições de 2018.
Outro fator considerado, o crescimento da população evangélica nas periferias não é um argumento válido para a eleição de representantes conservadores, questiona Almeida.
Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 22% da população brasileira segue religiões evangélicas. Na capital, a Agência Mural mostrou que o número de novas igrejas se multiplicou por todos os cantos da cidade.
“O mundo evangélico é bastante plural, é muito diverso, você vai encontrar igrejas bastante progressistas, mas as igrejas com maior alcance representam pensamentos muito conservadores”, debate o sociólogo.
Eleições 2022
Para as eleições deste ano, Renato vê um cenário distinto do de 2018. A avaliação sobre o atual presidente da república Jair Bolsonaro, a maior presença dos jovens no eleitorado e a participação feminina nas eleições podem colaborar com a eleição de deputados federais mais progressistas.
As mulheres são 53% do eleitorado do estado de São Paulo, já os jovens entre 16 e 17 anos são mais de 358 mil pessoas – o número é mais do que o dobro de 2018, segundo dados do TSE.
“É fundamental a gente escolher candidatos que conheçam as periferias, que viveram e que circulam e dialogam com as comunidades”, defende o pesquisador.
Ele cita que os projetos de lei, por exemplo, não surgem do nada, mas a partir de vivências dos políticos.
“Um deputado para elaborar um projeto de lei que vá de encontro com as demandas da população é alguém que está em contato constante e conhece a vida do povo”
Renato Almeida, pesquisador do CEP (Centro de Estudos Periféricos)
Para as eleições, o pesquisador do CEP avalia que a polarização entre esquerda e direita pode refletir na escolha dos eleitores. “A periferia vai responder com um desejo de mudança nas eleições, mas o acirramento ainda deve seguir por um bom tempo, seja na política ou nos almoços de domingo.”