De três a quatro vezes por semana, Eliana Rodrigues dos Santos Gama, 41, e o filho Levi, 4, saem do Jardim Danfer, no distrito de Cangaíba, na zona leste, e vão ao Ibirapuera, na zona sul, onde o garoto faz tratamento.
“Quando dou sinal para um ônibus ou lotação, o motorista me vê com a cadeira de rodas e já faz cara feia. Já chorei tanto por causa disso”, diz.
“Eles acham ruim ter que descer do carro e acionar o elevador para o meu filho poder subir. Percebo que fazem com pressa e mal a gente se ajeita, ele começa a correr para recuperar o tempo perdido”, reclama a técnica de enfermagem.
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Eliana conta que na hora de desembarcar é difícil. “Quando está próximo do metrô Patriarca, onde desço, peço para pararem próximo à rampa — onde o piso é rebaixado para facilitar o desembarque. Eles falam que não podem parar porque é via dupla, que não tem sinalização etc. Sempre falo que tem lei para isso e os passageiros me ajudam”.
Segundo a SPTrans, as empresas que operam no sistema estão treinando gradualmente todos os 52 mil operadores: motoristas, cobradores e fiscais.
De acordo com a empresa, a capacitação tem seis horas e meia de duração e inclui atendimento a idosos, pessoas com deficiência e com mobilidade reduzida, além de frisar a importância do uso dos equipamentos durante o embarque e desembarque.
A SPTrans, em parceria com as empresas de ônibus e a Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência (SMPED), realizou, em junho, a ação “Inversão de Papéis – Desafio da Acessibilidade”.
“Motoristas de ônibus assumiram o papel de passageiros e fizeram uma viagem no transporte público simulando a rotina de idosos e pessoas com deficiência, na intenção de sensibilizar os funcionários e melhorar o atendimento ao público”, explica o secretário municipal da Pessoa com Deficiência, Cid Torquato.
Procurada, a SPTrans informa que, atualmente, 95% da frota de ônibus da cidade é acessível e que todos os ônibus novos incorporados ao sistema de transporte público municipal já saem de fábrica atendendo às exigências da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) e às especificações da SPTrans para acessibilidade.
Sobre os pontos de ônibus, a SPObras afirma que todos os 6.500 abrigos de ônibus e 12.500 totens são acessíveis e contêm espaço destinado a cadeirantes.
Apenas 1%, aproximadamente, não possui piso tátil por conta da inviabilidade técnica de instalação, tendo em vista a dimensão das calçadas.
Outras 2.000 paradas de coletivos existentes na capital paulista não foram incluídas na licitação, realizada em 2012, para concessão de instalação de abrigos e totens em pontos de ônibus. E apenas 1% não possui piso tátil por conta da inviabilidade técnica de instalação, tendo em vista a dimensão das calçadas.
A empresa prepara licitação para a manutenção dessas paradas, na qual a instalação dos pisos táteis será incluída.
Moradora da Vila Olímpia, na zona sul, Marília Gentile Pereira Rebello, 34, psicóloga clínica, desistiu de ir trabalhar de ônibus.
“Tenho uma paralisia na perna direita e manco bastante. Sempre preciso de muita ajuda para subir e descer, o ônibus precisa parar perto da calçada para facilitar. Por duas vezes, o motorista não me viu descer, arrancou e eu caí. Por isso parei de andar de ônibus, faz seis meses que aconteceu. E agora uso aplicativos de táxi”, explica.
Moradora do Grajaú, na zona sul de São Paulo, Ana Angélica Moreira Silva, 29, atravessa a cidade várias vezes por semana para ir ao médico. Ela usa transporte público com o filho Esdras, 5, cadeirante, e reclama não só do carro, mas também do ponto de ônibus.
“Os elevadores dos ônibus quase sempre estão quebrados, acho um descaso. Já fiz várias reclamações na SPTrans, mas nunca muda. Precisa melhorar o espaço para o cadeirante e o acompanhante. É necessário também conscientização dos passageiros, porque muitas vezes o lugar prioritário está ocupado. As calçadas precisam ser adaptadas para que a gente consiga subir e descer com segurança”, alerta.
De acordo com a SPTrans, foram revitalizados 6.200 m² de calçadas na rota acessível dos hospitais que ficam nas proximidades da rua Pedro de Toledo, na região da Vila Mariana. O projeto faz parte da rota de acessibilidade do PEC 2008 (Plano Emergencial de Calçadas) e continua em execução.
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Este plano determina a realização das obras necessárias à reforma ou à construção de passeios e/ou calçadas que não atendam às normas previstas na legislação municipal pertinente. A Prefeitura de São Paulo está fazendo um levantamento relacionado a essas rotas de acesso.
De acordo com Torquato, faltam melhorias na cidade para melhorar a vida das pessoas com mobilidade reduzida.
“É necessário a revisão de prioridades nas políticas públicas em relação às calçadas, entendendo que a calçada, além de direito constitucional da cidade (direito de ir e vir), é também uma questão de saúde pública devido ao grande número de acidentes por ela causados.”
https://32xsp.org.br/2018/12/04/pessoas-com-deficiencia-em-sao-paulo/