O manobrista Carlos Eduardo Freitas, 47, trabalha há 25 anos na Praça do Forró, em São Miguel Paulista, na zona leste de São Paulo. No começo do mês de agosto a principal praça do bairro ganhou um novo componente: uma placa turística para o Autódromo de Interlagos.
“Nunca vi placa de Interlagos por aqui. Faz mais de um mês que colocaram essa. Colocaram aqui, no Itaim Paulista, em Guaianases. Tem em tudo quanto é lugar. Se [o autódromo] fica na zona sul… Até a zona sul é chão”, comenta Carlos.
É muito chão. Da Praça do Forró até o Autódromo de Interlagos são 35 quilômetros em linha reta e 65 quilômetros seguindo por ruas e avenidas da cidade. Com essas distâncias seria possível alcançar a estratosfera, a segunda camada da atmosfera terrestre, onde fica a camada de ozônio.
Enquanto a região ganhou essa sinalização, moradores da zona leste apontam falhas nas placas que indicam pontos que fazem parte da região ou informam sobre segurança no trânsito.
“A prefeitura poderia colocar placas onde precisa e melhorar o estado de conservação. Você anda por aí e sempre vê falhas. Placa torta, suja e árvores na frente”, argumenta o taxista Márcio Batista, 56.
Ele atende há cinco anos no ponto de táxi próximo ao mercado municipal de São Miguel Paulista. Em todo esse tempo, nunca fez uma corrida do bairro para Interlagos.
O manobrista Carlos Eduardo mora no Jardim Lapena, próximo à estação São Miguel da linha 12-safira da CPTM e reclama do estado de conservação das placas no bairro. “As placas no Lapena estão todas tortas, mal pintadas. Tem placas escondidas em árvores também”, afirma.
É possível encontrar placas sem conservação próximas à Praça do Forró e ao mercado Municipal de São Miguel e ao longo da Radial Leste.
O bartender Samuel Evangelista, 22, mora no bairro Jardim Santo André, em São Mateus, e também reclama da situação de placas em mal estado ou vandalizadas.
‘Com esse dinheiro [aplicado nas placas novas] a prefeitura podia ter feito quadras e parques, porque lá no Jardim Santo André está abandonado. Podiam arrumar para que as pessoas pudessem aproveitar no final de semana’
Samuel Evangelista, morador do Jardim Santo André, na zona leste
Samuel utiliza a Radial Leste para chegar ao trabalho na Mooca. O jovem é contra a instalação das placas indicativas ao autódromo. “São desnecessárias. Tem gente que vem de longe, pega a Aricanduva, vê a placa e fica sem entender, porque está muito longe. Vi essas placas na Aricanduva, em Cidade Tiradentes, só que é longe, muito longe do autódromo”, contesta.
Várias placas estão inclinadas após terem sido atingidas, e ficam pouco visíveis @Matheus Oliveira/Agência Mural
A diarista Elvira de Morais, 49, vê as indicações nas avenidas Aricanduva e Radial Leste e questiona a necessidade de instalá-las. “Eles podiam investir esse dinheiro em saúde, condução, remédio”, pondera Elvira.
De acordo com a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) da cidade de São Paulo, há cerca de 400 placas indicativas ao Autódromo de Interlagos em 30 avenidas por toda a cidade. A implantação segue o Programa de Orientação de Tráfego Turístico, de 2008, parceria entre a CET e a SPTurismo.
Como justificativa para a instalação de placas indicativas para o Autódromo de Interlagos, a companhia argumenta o aumento de eventos no local. “A instalação leva em consideração a presença de um grande contingente de pessoas de fora da cidade, do estado e do País, que vem para São Paulo com destino ao Autódromo de Interlagos, um grande polo de eventos esportivos e culturais”.
No começo de setembro, o Autódromo de Interlagos foi palco para a primeira edição do The Town. A prefeitura investiu cerca de R$ 190 milhões em obras no autódromo e espera uma movimentação de R$ 1,7 bilhão com o festival de música.
A CET não informou quanto foi gasto para a instalação de novas placas indicando o Autódromo de Interlagos.
Sobre a manutenção das outras placas, a CET rebate que já instalou ou consertou 59 mil placas por toda a cidade ao longo deste ano e argumenta que “centenas de placas depredadas ou abalroadas são reaproveitadas resultando em maior economia e melhor utilização dos recursos. São Paulo tem mais de 500 mil placas de trânsito existentes em seu sistema viário.”