Instruir a população sobre onde descartar cada tipo de lixo, eletrônico ou reciclável, é uma medida importante para o meio ambiente, mas é fundamental que o poder público garanta a existência e o funcionamento de locais apropriados para o descarte correto de materiais. Essa é a opinião do biólogo Renan Farias Soares, da Vila Gomes, zona oeste da capital paulista, frente a uma realidade que parece seguir na contramão do necessário.
A quantidade de Pontos de Entrega Voluntária de materiais recicláveis, os chamados PEVs, é consideravelmente inferior nas periferias em comparação às zonas centrais ou nobres, segundo o Mapa da Desigualdade de 2023. Algumas quebradas, inclusive, não possuem nenhum PEV.
Os PEVs são contêineres para entrega de resíduos recicláveis secos, distribuídos pela cidade de São Paulo para ampliar a coleta de recicláveis.
A pesquisa levantou a quantidade de PEVs (Pontos de Entrega Voluntária) nos 96 distritos da capital paulista e dividiu o número pela população total do distrito, calculando a quantidade de pontos por pessoa.
A Barra Funda é o distrito com maior número de PEVs per capita, cerca de quatro por pessoa (4,22). Alto de Pinheiros vem em segundo lugar, com quase três pontos por pessoa (2,72), seguido por República (2,42). No ranking dos seis distritos que somam ao menos dois pontos de coleta por habitante, apenas um distrito é periférico, Socorro, na zona sul, com 2,24.
Na outra ponta, três distritos não possuem nenhum PEV: Marsilac, na zona sul, São Domingos, na zona norte e Jardim Paulista, zona leste. Os cinco distritos seguidos com o menor volume de pontos são também periféricos.
“Por diversas vezes, trabalhando com educação ambiental na região do Jardim Paulistano e Brasilândia, me deparei com a população reclamando que não havia PEV nas proximidades e tampouco coleta seletiva. Isso acaba favorecendo o descarte irregular”, pontua Soares, que é professor.
Falta coleta, sobram problemas
A falta de pontos adequados para descartar determinados tipos de lixo traz uma série de problemas para a população local e para toda cidade, na opinião do biólogo e professor Soares. Um dos mais graves é o descarte irregular, sobretudo do lixo orgânico, que pode atrair pragas e animais peçonhentos como escorpiões, e pragas urbanas como ratos e baratas.
Outro problema é o acúmulo de lixo, uma vez que grande parte dos materiais descartados não são degradados pela natureza ou, quando são, deixam resíduos microscópicos e substâncias tóxicas no local, causando impactos negativos à natureza e à saúde humana.
“Esse acúmulo de lixo pode entupir bueiros e provocar alagamentos. Além disso, os resíduos se acumulam no solo ou são levados pela água das chuvas para rios e lagos, alterando toda a dinâmica natural, afetando o equilíbrio ambiental e resultando em impactos negativos para todo o ecossistema”, conclui Soares.
Esta reportagem foi produzida com apoio da Report For The World