Com a retomada das atividades presenciais, o fluxo de pessoas que buscam transporte público em Barueri, na Grande São Paulo, voltou à normalidade. No entanto, passageiros reclamam que a frota de ônibus na cidade está reduzida, por isso, é comum encontrar pontos de ônibus lotados durante os horários de pico.
Moradores ouvidos pela Agência Mural dizem que as paradas estão frequentemente lotadas e que os ônibus que antes passavam com intervalos mínimos de 10 minutos agora não cumprem os horários ou estão em atraso, superlotados e não comportam a quantidade de pessoas que estão esperando.
A professora Aline Tentoni, 33, conta que já chegou a esperar uma hora para embarcar no coletivo que usa diariamente, o ônibus T651, que vai do bairro Engenho Novo até o Jardim Mutinga, passando por Alphaville e Tamboré.
Em uma ocasião, Aline lembra que para não se atrasar mais e perder o benefício do DSR (Descanso Semanal Remunerado), ela e outros colegas de serviço dividiram um carro por aplicativo e tiveram que desembolsar um valor superior à passagem paga pela empresa.
O percurso feito pela professora do Jardim São Luís, em Barueri, até a escola onde trabalha leva cerca de uma hora. Além disso, essa é a única linha de ônibus que atende Aline até o local de trabalho.
“Não tenho muita opção para ir ao serviço, já que a linha T253-Parque Imperial passa por cima do Jardim Mutinga e eu teria que andar cerca de 20 minutos a pé”, diz a professora.
O promotor de mercado Jozias C*, 36, enfrenta diariamente os mesmos problemas que Aline. Ele utiliza o ônibus T253 que sai do Jardim Líbano com destino ao Parque Imperial e também passa por Alphaville.
Para o promotor, os ônibus estão sempre em atraso no horário que ele embarca, às 7h da manhã, e também na volta para casa entre, às 17h ou 18h. “O problema do transporte de Barueri está na mobilidade de tráfego. Tem locais em que os ônibus ficam muito tempo parados.”
Além disso, segundo ele, o ônibus citado passa pelo terminal rodoviário no centro da cidade antes de chegar ao destino no Parque Imperial. Por esse motivo, algumas vezes não segue viagem, obrigando o passageiro a esperar o próximo.
Outra reclamação dos passageiros é a falta de segurança nos coletivos. Há relatos de motoristas que dirigem em alta velocidade. E também o péssimo estado de conservação dos ônibus, com goteiras em dias de chuvas, vidros quebrados e outros problemas mecânicos.
Jozias lembra de um acidente no Jardim Mutinga em janeiro deste ano, provocado por um ônibus que perdeu o controle. O local do acidente foi próximo a FIEB (Fundação Instituto de Educação Barueri) e também foi comentado pela professora Aline.
A empresa que administra os ônibus em Barueri, a Benfica BBTT, diz que durante a pandemia houve uma pequena diminuição da frota, já que a demanda diminuiu naquele período. A empresa afirma que está ciente da situação e atualmente está retomando a quantidade da frota anterior a pandemia, sem dar detalhes da quantidade.
Em nota enviada à Agência Mural, a Benfica BBTT conta ainda que está passando por um período de falta de trabalhadores, até por essa razão está intensificando a comunicação sobre vagas para motoristas.
Atualmente as linhas municipais da Benfica atendem os seguintes bairros: Antônio João, Chácara Marcos, Engenho Novo, Vale do Sol, Alphaville, Jardim São Silvestre, Tupancy, São Luiz, Califórnia, Gabriela, San Diego, Maria Helena, Audir, Mutinga, Maria Cristina, Líbano, Belval, Aldeia de Barueri e da Serra.
Outra empresa do mesmo grupo econômico, a Ralip Transporte, atende os bairros: Aldeia da Serra, Engenho Novo, Jardim Tupancy, Califórnia, Bairro dos Altos, Graziela, Mutinga e a região central.
Linhas intermunicipais
A cuidadora Kelly Alessandra Rodrigues da Silva, 43, que mora no Jardim Boa Vista, perdia o horário do trabalho por conta do atraso do ônibus. Ela utiliza a linha 246, administrada pela EMTU (Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos de São Paulo) que sai de Barueri, no Jardim São Luís, até o município de Santana de Parnaíba.
De acordo com ela, o percurso é feito em 30 minutos, de sua casa até o destino, mas sofre atrasos frequentes. “O ônibus nunca passa no horário. Com a pandemia, em vez de aumentarem a quantidade, diminuíram”, desabafa Kelly.
Segundo a cuidadora, o ônibus que utiliza passa com intervalo de uma hora, contrariando os horários descritos na página da empresa. No site da EMTU, o cálculo entre um ônibus e outro é de cerca de 20 minutos. Os atrasos já a prejudicaram a ponto de perder o emprego anterior.
“Fui demitida do meu último emprego devido aos atrasos”
Kelly Alessandra Rodrigues da Silva, 43
Procurada pela reportagem, a EMTU respondeu que “desde o início da pandemia realiza uma operação monitorada para acompanhar e analisar diariamente o atendimento das linhas e, quando consta necessidade, ajustes são realizados para adequar a oferta de viagens à quantidade de passageiros”.
Além disso, afirma que os atrasos nas linhas metropolitanas são em decorrência de congestionamento no trajeto. Conta ainda que em abril, a linha 246, utilizada pela Kelly, registrou atrasos devido às manifestações – na Rodovia Castelo Branco, por exemplo –, obras e congestionamento.
Atualmente os passageiros de Barueri têm à disposição 81 linhas metropolitanas gerenciadas pela EMTU, entre as quais cruzam o município ou o tem como destino final.
*O nome completo do entrevistado foi ocultado a pedido dele por receio de represálias.