Construída sobre um piscinão modelado para retenção de cheias, a recém-inaugurada praça comunitária Lígia Maria Salgado Nóbrega, na Cidade Ademar, zona sul da cidade, tem seis mil metros quadrados, 3.800 m² de área gramada, academia de ginástica e recebeu também o plantio de 67 árvores.
Uma realidade ainda distante para o restante do bairro, que faz parte da subprefeitura de mesmo nome.
Com aproximadamente 30,7 km² de área verde e aproximadamente 421 mil moradores, a subprefeitura Cidade Ademar, que atende os distritos Cidade Ademar e Pedreira, está entre as que possuem menor índice de área verde por pessoa, conforme dados do Observatório Cidadão.
Quem mora na região desfruta de apenas 0,7 m² de área verde, número bem abaixo do recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que sugere 12 m² por pessoa. Em comparação com subprefeitura vizinha, Jabaquara, o número sobe para 4,6 m², no entanto também está abaixo do recomendado.
Esse cálculo envolve tanto áreas para uso de lazer e contemplação, como parques urbanos, praças e Unidades de Conservação de Proteção Integral, aquelas de uso restrito, apenas para pesquisas, o que deixa a situação ainda mais grave.
Conforme pesquisa mais recente do IRBEM (Indicadores de Referência de Bem-Estar no Município), em uma escala de 1 a 10, quando perguntados qual o nível de satisfação com quantidade de áreas verdes na cidade, os moradores da zona sul, onde está localizada a subprefeitura, deram nota 4,5.
No quesito “proximidade a parques e áreas verdes”, apenas 9% dos moradores deram nota entre 9 e 10, enquanto na zona oeste, região que abriga as subprefeituras do Butantã e de Pinheiros, o índice é de 12%.
Com pouca alternativa, a praça comunitária Lígia Maria Salgado Nóbrega, construída sobre o piscinão RCO – 02, registra movimento intenso aos finais de semana.
“Não temos muitas opções por aqui, ou viemos para cá ou para o Parque Nabuco”, diz Joyce Lima, 22, em referência ao parque que está a quatro quadras da praça e é administrado pela Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente.
A auxiliar de limpeza, mãe de três filhos – Júlia, de 3 meses, Laura, de 2 anos, e Maria, de 5 anos – tira os dias livres para levar as filhas para brincar na praça. “Aqui [em Cidade Ademar] falta muita coisa. Essa praça é boa, mas não tem outras como ela, então fica lotada. Em duas semanas já levaram um brinquedo porque estava quebrado”, completa.
A ausência de banheiros e bebedouros foi outra reclamação recorrente ouvida pela reportagem. “Quem veio de longe tem que gastar dinheiro para ir ao banheiro e beber água, se não tiver trazido a garrafa de casa”, diz Pâmela Anjos, 23, mãe de Isabeli, de 6 anos.
Não é a primeira vez que se implanta praças em cima de piscinões na cidade de São Paulo. Segundo a SIURB (Secretaria de Infraestrutura Urbana e Obras), responsável pelas obras do piscinão e da praça comunitária, o mesmo ocorreu com a Praça Charles Muller, que foi reconstruída exatamente como era antes da execução de um piscinão no local, na década de 90.
O modelo também está previsto em outras partes da cidade, como no fechamento do piscinão do córrego Paciência, na zona norte.
Outra praça nos mesmos moldes deverá ser entregue até o fim deste ano na Cidade Ademar, agora, em cima do piscinão RCO – 03, que já está em fase de execução do paisagismo, conforme adiantou o órgão.
Segundo a Subprefeitura da Cidade Ademar, responsável pela manutenção da praça, há outros vinte equipamentos esportivos e de lazer distribuídos na região, mas não confirma novos investimentos para este ano.