O Jardim Maria Rosa, em Taboão da Serra, é conhecido pela paixão pela música, sendo um dos pontos de referência carnavalesca no município da Grande São Paulo. A relação dos moradores com o ritmo é tão estreita que a cidade acabou ganhando um espaço de resistência, a Praça do Samba, que originalmente se chama José Salvador Silva.
Em meados dos anos 1980, com a falta de locais para celebrar a cultura do carnaval no município, criou-se um movimento de moradores que inicialmente frequentavam eventos na região para que pudessem assistir a apresentações no espaço público.
Foi então que em 1984, Luizão, Fram, Bola e Nery iniciaram o projeto “Na Praça do Samba”, que tinha como proposta realizar encontros quinzenais para convidar os adeptos do ritmo a participarem de uma roda.
O projeto, realizado de forma independente, se tornou uma referência e incentivou os moradores a terem apreço para cuidarem do espaço público. Essa tradição seguiu por décadas, mas “esfriou” em 2016. A situação ficou assim até 2018, quando alguns amigos retomaram a ação.
“Nos juntamos para resgatar a Praça do Samba como projeto com esses encontros um domingo no mês e fazíamos ali nossas apresentações com a ideia da aproximação do bairro com os espaços públicos”, afirma o músico Marcus Vasconcellos, 42, morador do bairro e um dos idealizadores do projeto.
Além de Marcus, Luciano Oliveira, Alexandre Cotrim, Wagner Tomás, Carlos Boris, Rodrigo Palito Inácio, entre outros, fizeram parte dessa retomada.
Já Oseas dos Santos, 43, costuma trazer as filhas para brincar quando é possível. Participou das rodas de samba algumas vezes e relembrou como era divertido poder estar presente.
Mas a cultura tem sido o ponto mais visado do espaço e a iniciativa já foi palco de vários artistas. “Muitos começaram a relação com o ritmo ali na praça e depois seguiram sua carreira musical”, conta o músico Luciano Oliveira, 43.
‘Já vi muitos jovens serem salvos pela continuidade dos encontros e pela proximidade com a música. Por isso a importância de acontecer eventos culturais nesses espaços públicos’
Luciano Oliveira, morador de Taboão da Serra
Mudança de layout
No início, a Praça do Samba era composta por dois espaços, o coreto e um estacionamento, que muitas vezes eram utilizados por moradores como abrigo para altas temperaturas e chuva.
Hoje, após uma reforma, o espaço conta com uma estrutura oval, gramado, árvores, bancos, o lago das carpas, brinquedos e uma pequena área utilizada para as crianças jogarem bola.
Após a alteração, problemas com zeladoria começaram a aparecer, por conta da necessidade de jardinagem contínua no local. Além disso, o lago das carpas está bastante poluído, cestos de lixo revirados, bitucas de cigarro e outros.
Morador da região, João Fernando, 57, guarda boas lembranças das rodas de samba. No entanto, expressou uma certa insatisfação sobre os materiais de construção deixados nos interiores do local. “De vez em quando eles costumam vir limpar aqui, mas agora estou aguardando tirar aquele entulho ali”, completa.
Margarida Silva da Fonseca, 58, mora na região desde a infância. Ela ressalta a falta de cuidado com a reforma da estrutura que necessita de atenção constante. “Quando a praça foi construída eu tinha apenas 7 anos e me lembro como costumava ser linda quando tinha o coreto que destruíram e enterraram aqui mesmo”, afirma a moradora.
“Hoje, eles fizeram essa mudança e não cuidam, porque pra ter uma jardinagem assim precisa estar sempre olhando”, ressalta.
“É preciso que o patrimônio da cidade seja protegido por lei e que aconteçam projetos culturais em cada um desses pontos para que seja incentivado o uso da praça e também a sua preservação”, afirmou Luciano Oliveira.
Segundo a Secretaria de Serviços e Manutenção de Taboão da Serra, os cuidados estão sendo realizados na praça constantemente para garantir a conservação do patrimônio público.
A área é uma zona de preservação e suas águas são oriundas de uma nascente da Mata Atlântica. Sendo assim, é fundamental que a comunidade local entenda sobre a relevância de preservar não apenas o espaço de lazer, mas o ecossistema presente.
Fim de ano
Todo fim de ano é organizada uma grande comemoração chamada “Natal na Praça do Samba” que são entrega brinquedos para as crianças, além da doação de alimentos para famílias que necessitam.
Luciano Oliveira diz ainda que os encontros na Praça do Samba são tanto culturais quanto sociais. “Todo ano realizamos os encontros para celebrar o ano que passou. Entregamos brinquedos de boa qualidade para toda comunidade. É muito legal ver um sorriso no rosto de uma criança que muitas vezes fica sem nada.”
A equipe organizadora de “Na Praça do Samba” prevê que a próxima edição do evento deve acontecer em dezembro, mas ainda não há data marcada. É possível acompanhar todas as atualizações pela página do projeto.
Segundo os idealizadores, a ideia não é apenas manter viva a tradição, mas também criar identificação entre as gerações, incentivando o cuidado com os espaços públicos e a história da cidade.
“Muitas dessas pessoas não entendem o significado do nome e nem a particularidade que cada bairro possui”, diz Marcus. “A música sempre esteve presente. Pensa, você escolhe comprar um apartamento num local chamado Praça do Samba e se incomoda com o barulho do som tocando?”, questiona.