Após a revitalização da praça cívica Ulisses Guimarães, localizada na região do Parque Dom Pedro, centro da cidade de São Paulo, no dia 26/6, problemas como falta de sinalização, segurança, limpeza, manutenção e até banheiros e bebedouros sem água persistiam e se tornaram algumas das principais reclamações do púbico frequentador.
O espaço possui 42 mil m² e recebeu na sua reinauguração pistas de skate e de corrida, equipamentos de ginástica, quadras poliesportivas, playground e um campo de futebol. Sem placas de identificação e orientação, era possível notar que uma das quadras estava inacabada, já que possuía somente as traves.
O 32xSP esteve no local no dia 3/7 e conversou com a população que, consciente dessas falhas, estava aproveitando e ocupando o espaço de maneiras diferentes. Cosme Ferreira, 29, por exemplo, é manobrista e morador do bairro da Bela Vista, vizinho ao local. Ele estava passeando com a filha na praça. “Passamos ontem por aqui e a Ana Clara [a filha] me pediu para vir hoje. Estamos aqui há mais de duas horas e ela gostou muito do escorregador e do balanço”, disse.
O lugar também havia se tornado um espaço para a prática de esportes. Paulo Sérgio Ferreira, 50, aposentado e morador nas imediações, passou a frequentar a praça após a sua revitalização. “Antes, fazia as minhas atividades no Parque da Aclimação e no Ibirapuera”, afirmou.
De acordo com os dados do Observatório Cidadão, da Rede Nossa São Paulo, entre os anos de 2010 e 2014, o distrito da Sé, no qual a praça está inserida, não contemplava equipamentos esportivos. Ao contrário dos vizinhos Santa Cecília, Bom Retiro e Consolação, que também fazem parte da subprefeitura da Sé.
Conhecida como Marina do Brás, Atsuko Ueno, 78, é moradora da região há quase 30 anos e também é uma liderança local. “Sempre levo os moradores nas audiências públicas para solicitarem as suas próprias reivindicações”, esclareceu. Um exemplo é Sueli Marques Cândido, 58, que acompanhou o processo de revitalização da praça. . “Fui muitas vezes à subprefeitura da Sé para levar abaixo-assinados que pediam a melhoria do espaço. O local ainda precisa de policiamento constante”, comentou Sueli. Marina do Brás acredita que é preciso formar um conselho gestor para que possa continuar a preservação da Ulisses Guimarães.
O problema apresentado por Sueli também está presente no Observatório Cidadão. Em 2014, a subprefeitura da Sé registrou 39 óbitos por homicídio. Considerando que a população total naquele ano era de 449.968 moradores na região, chega-se a 0,86 homicídios para cada 10 mil habitantes. Mesmo assim, não é um dos índices mais altos da capital.
Em geral, as queixas dos moradores reafirmam a nota dada ao indicador Revitalização e Conservação de parques, praças e várzeas existentes, da 7ª edição da pesquisa IRBEM, realizada em dezembro de 2015 pela Rede Nossa São Paulo e pelo Ibope, que analisa a satisfação geral com áreas relacionadas à qualidade de vida em São Paulo. Em 2015, a nota diminuiu três décimos em comparação a 2014, saindo de 4,5 para 4,2.
A nota para o indicador Segurança na Cidade, em 2009 estava em 3,8. Já em 2015 passou para 3,2. Esse dado revela a insatisfação dos paulistanos com a política pública de segurança em São Paulo.
Em nota, a subprefeitura da Sé informou que em nenhum momento foi levantado pelos frequentadores a questão das placas de identificação, mas essa demanda será avaliada. Já em relação à segurança, a subprefeitura afirmou que a GCM (Guarda Civil Metropolitana) tem feito ronda diariamente no local, porém existem fatores que podem deixá-lo momentaneamente sem a guarda, já que existe a troca de turnos e os deslocamentos da viatura por conta de ocorrências que aconteçam no local.
Praça de todos os povos
Várias nacionalidades têm frequentando a Praça Cívica Ulisses Guimarães. A boliviana Blanca Patxi Vargas, 21, estudante e moradora do bairro Carandiru, está no Brasil há 3 anos, e estava acompanhada de suas amigas e suas cunhadas. “Agora temos um espaço para brincar e jogar futsal”, disse Vargas.
Peruanos, chilenos e africanos também escolheram a praça para se encontrar. O local se tornou um ótimo espaço para eles organizarem as partidas de futebol. Mas, não só os imigrantes jogam. O zelador Pedro Matias Vasconcelos, 43, mora na Baixada do Glicério e também é um amante do esporte. “Como não temos um espaço na região onde moramos, escolhemos aqui para o nosso futebol”, disse ele acompanhado de amigos.
Outro esporte praticado na Ulisses Guimarães é o boxe. Marcelo Campelo, por exemplo, mora entre os bairros do Brás e da Mooca, na zona leste, mas prefere a praça para treinar os seus alunos. Segundo ele, o motivo é a estrutura e a facilidade no acesso. “Aqui é um local fácil para se chegar”, disse.
*Alexandre Ofélio colaborou com a reportagem