Movimentos sociais do ABC marcaram para esta quinta-feira (18) uma manifestação contra o aumento no preço dos ônibus municipais. Anunciados no fim do ano passado, as tarifas tiveram alta em São Bernardo do Campo e Santo André, onde se aproximaram dos R$ 6 – mais de R$ 1,50 acima do cobrado na capital.
São Bernardo foi a primeira a aumentar o valor, que foi de R$ 5,75 para R$ 5,95, um reajuste de 3,47%, e a mais cara da região e de toda Grande São Paulo, com exceção de cidades que cobram mais para o uso de vale-transporte. Em Santo André, a tarifa paga pelo passageiro com dinheiro ou cartão aumentou de R$ 5 para R$ 5,70 – 14% a mais.
Para completar, as linhas do Corredor ABD, popularmente chamados de trólebus, subiram de R$ 5,10 para R$ 5,80 – 13,64%. Mantidas pela EMTU (Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos), do governo estadual, os trólebus cruzam os municípios e integram à região as linhas de trens e metrô.
O protesto foi marcado para a Concha Acústica, no centro de Santo André. No mesmo dia, também haverá um ato na capital por conta do aumento nos preços dos trens e metrô.
Moradora do Montanhão, bairro periférico de São Bernardo, desde a infância, a estudante de licenciatura em ciências humanas, Kananda Alves, 22, utiliza com frequência o transporte público da região. Na rotina dentro dos ônibus costuma ficar entre 50 minutos a 1h20.
Ela é integrante do comitê regional do Movimento Passe Livre ABC. “Estamos participando das mobilizações, tanto a nível estadual quanto regional e municipal. Nós não vamos descansar”, diz a estudante.
Alves faz estágio em comunicação e tem direito ao passe livre, mas há um limite de quatro passagens por dia e não é possível utilizar no fim de semana.
“Tenho atividades, tanto do trabalho quanto da universidade para realizar nos fins de semana, mas ele (passe livre) não funciona. Aí preciso pagar a passagem”, conta a estagiária de comunicação que precisa tirar do bolso R$ 200 por mês para a condução.
A estudante destaca que o comitê regional do ABC entrou com um ofício no Consórcio Intermunicipal do ABC, no ano passado, contra o aumento para R$ 5,75, porém ainda aguardam retorno. Também cobram a ampliação do passe livre.
Morador do centro de São Bernardo há três anos, Murilo Alfredo Garcia, 42, conta que, quando chegou na cidade, a passagem era R$ 5,10. Antes ele residia em São Paulo e percebeu a diferença na modalidade de transporte no município.
“Aqui a frota é pequena e dependendo do horário os ônibus estão sempre cheios. Alguns têm ar-condicionado e o motorista tem dupla função de dirigir e cobrar o valor da passagem.”
Para ele não há justificativa de ter essa alta no preço sem oferecer um transporte de qualidade para os passageiros. Como está desempregado, às vezes precisa ir em alguns lugares andando cerca de 20 minutos, uma forma de economizar.
‘Se fosse pegar os ônibus todos os dias seria quase R$ 12 ida e volta, dá quase R$ 300 no mês. Um valor inviável para o bolso do trabalhador, ainda mais na minha situação de desempregado’
Além disso, Murilo diz que há poucos locais para recarga do o Cartão Legal (utilizados nos ônibus municipais) e ele diz que já teve problemas por conta da demora para o saldo aparecer no bilhete.
Santo André
Em Santo André, onde a tarifa chegou a R$ 5,70 para os passageiros em geral e R$ 7 para quem usa o vale-transporte, as reclamações são semelhantes. O artista visual Diogo Mendes da Silva, 32, diz que essa alta inviabiliza o acesso da população aos serviços essenciais como direito à saúde e cultura, cujos equipamentos estão concentrados na região central do município.
“É uma questão extremamente importante que sempre vejo jogada de lado, o direito de ir e vir. Esses espaços públicos estão distantes das periferias”, conta.
Mendes mora no Parque João Ramalho há 21 anos e pega todos os dias o transporte público para as locomoções que precisa fazer como trabalho e outros compromissos.
‘Tem algumas linhas de ônibus que passam por aqui, mas no horário de pico estão sempre lotados e o intervalo demora. Além disso a frota há alguns que circulam sem ar-condicionado.’
O artista vai participar do ato no dia 18 contra o aumento das tarifas, pedir a revogação do reajuste e reivindicar o passe livre.
Prefeituras
A Agência Mural questionou as duas gestões sobre a alta.
A Prefeitura de São Bernardo afirmou sobre “o reajuste foi adotado pelo índice inferior ao acumulado do IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor), que foi de 4,84% entre dezembro de 2022 e novembro de 2023.”
Segundo o Diário Oficial do município, a elevação ocorreu devido “a constatação de aumento nas despesas que compõem os principais insumos relativos aos custos operacionais desse serviço público essencial”.
A gestão diz não pagar subsídios às empresas de transporte público, ou seja, que as despesas das empresas são pagas exclusivamente por meio das tarifas. Subsídio é um valor extra pago por algumas prefeituras, como a da capital, para manter o preço da tarifa.
Diferente de outras cidades, o valor de R$ 5,95 é único e se refere à passagem na catraca, para o Cartão Legal e vale-transporte.
No caso da Prefeitura de Santo André, por meio da secretaria de transporte,a gestão diz que o reajuste ocorreu com o objetivo de repor a inflação, em especial do óleo diesel, acumulada nos últimos anos.
“Destacamos que não é a cidade com a tarifa mais cara da região metropolitana. Em São Bernardo do Campo, por exemplo, a tarifa subiu de R$ 5,75 para R$ 5,95 no início do ano”, diz a pasta.
Além disso, nos últimos anos, a gestão alega que as empresas responsáveis pelo transporte coletivo de Santo André investiram mais de R$ 70 milhões para a melhoria do serviço.
Outras cidades do ABC
Diadema e Mauá a alteração no pagamento na modalidade vale-transporte passa de R$ 6 para R$ 7.
Ribeirão Pires manteve o valor de R$ 5,50 para pagamentos no cartão transporte e em dinheiro. Manifestantes fizeram um ato no dia 15, contra a tarifa e os intervalos do transporte público.