Casas de palafitas são mostradas na tela larga do celular: dezenas de barracos erguidos sobre o Córrego do Bispo, no Jardim Peri, no extremo do distrito da Cachoeirinha, na zona norte da capital. Quem desliza o dedo pelo smartphone é Paulo Cahim, 61, o gestor da Prefeitura Regional da Casa Verde.
O local possui casas em alta situação de vulnerabilidade, segundo ele, inclusive com 50 pontos para locação ou venda dentro de uma área de preservação ambiental. Após fazer uma visita aos bairros da Casa Verde, pouco mais de um mês depois de assumir a gestão, Cahim garantiu que as periferias da região terão prioridade em seu mandato, que deve ser “criativo” – adjetivo usado pela maioria dos colegas gestores.
“Vamos tentar a implantação do Parque Córrego do Bispo. Isso significa que precisamos tirar de lá as pessoas dessa situação, com intervenção da Secretaria do Verde e Meio Ambiente, Secretaria de Habitação e GCM (Guarda Civil Metropolitana), para eliminar o foco de comercialização dos barracos”, destaca o prefeito local, também advogado e corretor de imóveis.
“Pela minha experiência e visão política, e também com a própria orientação do prefeito João Doria (PSDB), vejo que temos que encurtar as distâncias sociais”, diz Cahim, que, da teoria à prática, revela ter realizado ações no Jardim Peri e Jardim Planalto, bairros pobres no extremo da Cachoeirinha.
“Já fizemos a ‘Operação Cidade Linda’, no final da avenida Inajar de Souza, lá na Vila Nova Cachoeirinha, uma área que necessita de muitas coisas. Falta muito, mas toda semana estamos fazendo intervenções nessas áreas”, assegura.
Considerada uma das principais vias da Casa Verde, o prefeito regional pretende atuar em parceria com a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) no combate à feira do rolo – ponto de comércio ilegal de produtos – e transformá-la em um espaço cultural. “A feira é emblemática, ocupa quase 1 km do canteiro da Inajar. Temos um projeto de fazer uma ação integrada para limpar a área, promover zeladorias e implantar uma ciclofaixa. A população reconhece e pede que isso seja feito”.
Nascido e criado no bairro do Limão, Cahim não nega o desafio de administrar os 28 km² do território que se estende até a Serra da Cantareira e é composto pelos distritos da Casa Verde, Cachoeirinha e Limão. “É um desafio importante porque ser morador te leva a identificar os problemas com mais facilidade, mas também com maior responsabilidade. Vou à feira, sou consultado, cobrado, intimidado e elogiado. Todos os predicados. Os favoráveis e os desfavoráveis”, afirma.
Com proporções de uma cidade média, com 330 mil habitantes, e contrastes evidentes, os distritos do Limão e da Casa Verde, por exemplo, se destacam pela vida boêmia. Um dos maiores atrativos são as escolas de samba, enquanto na Cachoeirinha se encontram bairros pobres, como o Jardim Peri e Antártica.
“Como morador, eu tinha a visão das dificuldades. Agora, estou do lado da realidade, ou melhor, das soluções. É uma equação difícil porque a cidade é muito grande. Um universo. Você tem que administrar com o que você tem”, diz Cahim.
Para este ano, houve um congelamento de 20% no orçamento. A previsão inicial, de R$ 28 milhões, caiu para R$ 21 milhões. Investimento bem menor do que no ano passado, de R$ 35 milhões. “É um orçamento totalmente irrisório para o grau das exigências da Casa Verde. A nossa área é muito desproporcional e essa é uma questão que precisa ser revista para o ano. Iremos revisar, com a atual contingência econômica do país, conforme a arrecadação”, explica.
Preocupação ambiental
Presidente da Associação Parque Itaguaçu da Cantareira, no Jardim Peri, Paulo Cahim afirma que desenvolve há quatro anos um trabalho de reflorestamento na região.
“É um trabalho legal, com um grupo de moradores, no qual plantamos uma árvore por dia. Conseguimos reflorestar e recuperar o Parque Itaguaçu, onde está o Rodoanel, e que havia sido desmatado”, diz ele, que inclusive cobra da DERSA (Desenvolvimento Rodoviário S/A) a realização de compensação ambiental na região.
Outra demanda verde do gestor se refere ao Sítio Morrinhos, no Jardim São Bento, distrito da Casa Verde. “O sítio possui um acervo da história arqueológica muito rico. É uma história fantástica da colonização da cidade, em 1822. Da nossa parte, queremos ajudar na limpeza, adequação e divulgação para a comunidade, para uma melhor condição de visitação, em uma ação interativa com a Secretaria de Cultura”, finaliza.
Foto: Prefeitura Regional da Casa Verde