A 1ª edição da Parada LGBTQIA+ de Suzano, município da Grande São Paulo, foi realizada no último domingo (24) e reuniu centenas de pessoas. Com o tema “Existência e Resistência”, o evento teve início na rua Abdo Rachid e se encerrou na avenida Senador Roberto Simonsen, região central da cidade.
Durante a manifestação, os participantes questionaram o pedido de cancelamento do evento feito pela gestão municipal à Justiça.
Faltando dois dias para realização do encontro, a Prefeitura de Suzano protocolou uma liminar para suspender a Parada, alegando que o evento causaria obstrução no trânsito e prejudicaria a entrada e saída de pacientes do Hospital Auxiliar de Suzano, localizado na rua Prudente de Morais.
O documento ainda previa a utilização da força policial para a dispersão do encontro, caso fosse necessário.
No entanto, a Justiça negou o pedido e afirmou que o direito de reunião em via pública está garantido na Constituição Federal (inciso 16 do artigo 5º). Dessa forma, o juiz apenas solicitou que os organizadores da Parada definissem o trajeto da marcha junto com as forças de segurança pública presentes no dia.
Rafael Yamauchi é advogado e faz parte da Frente LGBTI+ de Suzano. Ele foi um dos organizadores do encontro e lamentou o posicionamento da Prefeitura.
“Fica uma posição bastante difícil pra gente, pois nunca pedimos apoio financeiro dos órgãos municipais, apenas solicitamos banheiros químicos e agentes de trânsito para garantir a segurança dos participantes. Mas até nisso sofremos resistência”, afirma.
Segundo Yamauchi, o ofício inicial para a realização do encontro foi protocolado em fevereiro, porém somente no dia 19 de julho que eles receberam a resposta negativa. “Nos pegaram de surpresa”, comenta.
Apesar da situação, a 1ª Parada LGBTQIA+ ocorreu com sucesso, segundo os organizadores. Um dos principais objetivos da manifestação era justamente exigir mais políticas públicas municipais voltadas para a comunidade. “Daqui para frente, vamos tentar organizar mais eventos como esse periodicamente para reivindicar os nossos direitos”, relata o advogado.
O estudante Kenny Freitas, 27, reside em Taubaté, no interior paulista, mas nasceu e cresceu em Suzano. Ele faz parte do coletivo Família Stronger, uma rede de apoio formada por pessoas LGBTQIA+ que lutam por direitos, e foi um dos organizadores do ato. Para ele, a manifestação é um marco.
“Foi nessa cidade que apanhei, que sofri preconceito e passei por diversas situações humilhantes. Me sinto honrado de voltar aqui e participar da 1ª Parada. É uma vitória para mim”
Kenny Freitas, 27, estudante
Além da Família Sronger, a Frente LGBTI+, Coletivo Periférico A Casa de João, o Núcleo Transmasculinidades, a Associação Brasileira de Diversidades Periféricas, Teatro Contadores de Mentira e o Fórum LGBT de Mogi das Cruzes participaram da organização do ato.
A realização da parada também foi vista como uma ação de representatividade em uma cidade considerada mais conservadora.
De acordo com os dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), nas eleições de 2018, 52% dos suzanenses votaram no presidente Jair Bolsonaro (PL), que frequentemente se posiciona contra o avanço de pautas relacionadas aos direitos dos grupos LGBTQIA+. A cidade é governada pelo prefeito Rodrigo Ashiuchi que é do mesmo partido do presidente.
A DJ Mirella Stronger Uzumaki, 22, tocou na abertura do evento. “Todos nós sabemos que, tanto Suzano quanto Mogi das Cruzes (cidade vizinha), são municípios bem conservadores. Precisamos mudar isso, nós só queremos respeito e igualdade”, conta.
Mateuz Aliy, 26, é artista drag queen e compartilha a mesma opinião. Ele também reside no município e sente políticas públicas voltadas para as pessoas LGBTQIA+. “Estou amando participar da Parada. Suzano carece muito de eventos como esse”, conta.
A marcha
A concentração ocorreu na rua Abdo Rachid, às 11h30, onde DJs fizeram apresentações e líderes dos movimentos pronunciaram publicamente sobre a luta. Durante a tarde, os participantes marcharam pela rua Campo Sales, região central de Suzano, até a avenida Brasil.
Elvis de Souza, 35, faz parte do grupo Família Stronger e foi um dos idealizadores do evento. Ele se surpreendeu com a quantidade de pessoas que participaram da marcha. Segundo ele, o número passava de 2.000 participantes.
Após passar pelo centro de Suzano, o grupo encerrou o encontro na avenida Senador Roberto Simonsen com apresentações de drag queens.
“A Parada é um marco na cidade. É um momento histórico que simboliza nossa luta contra o preconceito”
Elvis de Souza, 35, do grupo Família Stronger
Lílian Santos, 41, faz parte do coletivo Frente LGBTI+ de Suzano e também foi uma das organizadoras do evento. Ela explica a importância da manifestação. “Lutamos pelo nosso direito de forma democrática e com um evento dessa magnitude mostramos a nossa força”, afirma.
Resposta
Em nota, a Prefeitura de Suzano afirma à reportagem que não tentou impedir a realização da 1ª Parada LGBTQIA+ da cidade, destacando que o pedido foi indeferido por conta de diferenças de rotas e horários na solicitação feita pelos organizadores.
“O que foi identificado é que existem duas instituições, aparentemente antagônicas, que disputavam judicialmente a realização do evento, o que causou confusão para o entendimento da organização da iniciativa”, aponta.
Segundo a gestão, outras exigências da solicitação, como a disponibilidade de agentes de trânsito, de segurança e da Secretaria Municipal de Cultura para atuar no evento pelo período superior de 12 horas, não poderiam ser atendidas.
“Buscando manter a ordem, a administração municipal sugeriu parques e locais apropriados para abrigar o direito constitucional de reunião pacífica das entidades representativas”, continua.
“É válido destacar que, ao longo do ano, a gestão também indeferiu pedidos para realização de outras manifestações, como Carnaval, Marcha para Jesus e Marcha para os Trabalhadores”, comenta.
A Prefeitura de Suzano finaliza dizendo que “é a favor de toda e qualquer manifestação e da promoção da diversidade sexual e de gênero” e que “em suas ações, a atual gestão demonstra atenção a este público”.