Cinco meses após a suspensão das aulas presenciais para conter a transmissão do coronavírus, alunos e professores têm buscado outras formas de abordagens na educação.
Enquanto as dúvidas sobre às voltas aulas presenciais prosseguem e estudantes vivem dificuldades para ter aula em casa com as dificuldades de acesso à internet, alguns educadores e alunos têm buscado formas de apoio.
Mônica Cíntia Nascimento, 35, é professora de educação digital na escola municipal Henrique Felipe da Costa, no Itaim Paulista, extremo leste de São Paulo. Ela encontrou uma forma de continuar a ensinar à distância com a produção de vídeos tutoriais.
Desde o começo, o acesso às atividades era por meio de uma plataforma virtual, mas gerava muitas dúvidas. “Passava o dia todo respondendo perguntas e auxiliando estudantes e familiares de como usar”, diz Mônica.
Por conta da dificuldade, a professora sugeriu a gravação de tutoriais. Pediu ajuda dos estudantes do Imprensa Jovem – um projeto da Secretaria Municipal da Educação, em que alunos fazem entrevistas e vídeos.
Os alunos ficaram responsáveis por ajudar os demais colegas e familiares a realizarem o acesso à plataforma. Os tutoriais são rápidos e objetivos para não consumir os dados de internet dos estudantes.
Foi elaborado um roteiro com as informações que não podem faltar nos vídeos; os alunos realizam as gravações de casa, e Mônica finaliza com as edições.
Luckas Lopes, 14, Davi, 13, e Ricardo Santiago, 14, participam da produção. “Os tutoriais ajudaram muito, principalmente, os pais que não tem o costume de mexer na internet e também os estudantes que não tem acesso ao computador”, conta Luckas.
Na escola municipal Gilmar Taccola, na Vila Carrão, zona leste, a professora Giovanna Oliveira, 36, também teve a mesma iniciativa com os vídeos tutoriais. Carlos Costa, 13, e Carolina Novaes, 12, são responsáveis pela produção de conteúdo na escola.
“Quando outros alunos tem alguma dúvida, eles me chamam no Whatsapp e nós auxiliamos. Gravamos um vídeo sobre o coronavírus para ajudar os professores na aula e também os moradores do bairro”, contam os estudantes.
OBRAS DE ARTE
No caso das professoras de artes Maria Conceição, 57, e Silene da Silva, 50, a ideia foi criar uma atividade com os alunos em que foram recriadas obras de arte famosas à distância por meio de fotografias.
“Os alunos já estavam acostumados a fazer releitura de obras usando materiais de desenho, pintura e até com pequenas esculturas, mas essa didática era toda presencial”, conta Silene.
Além da atividade prática, as aulas exploram o conceito do que é releitura, quais são os elementos objetivos (ao olhar uma imagem) e subjetivos (que dependem da interpretação individual) de uma obra de arte, além da iniciativa de se reinventar.
As professoras contam que se surpreenderam com a experiência, principalmente, com as crianças do ensino fundamental. Desde a preparação da aula até os resultados apresentados. “Eles estavam fantásticos. O melhor foi que as famílias também interagiram com a atividade”, ressalta Silene.
Elas explicam que qualquer pessoa pode encenar uma pintura. Pois assim é possível trabalhar questões da obra, da criatividade, ao utilizar o que tem dentro de casa, além da própria expressão corporal.
“Para encenar uma obra do Romero Britto eu falei para o meu filho usar um pijama colorido. Ele adorou a ideia e o resultado ficou fantástico”, conta Elaine Caramelo, 40, mãe do Enzo, 8. “Depois da foto feita, meu esposo foi o responsável por modificar o fundo para que ficasse o mais parecido possível”.
Quem também usou de um recurso digital para fazer a obra foi o Yan Felipe Miyamoto, 12, com a releitura da obra O Grito de Van Gogh. “Usei uma camiseta marrom, fiz a pose do personagem e meu pai alterou o fundo”.
Sobre a participação da família na releitura isso foi o que mais animou a aluna Débora Silva de Jesus, 11, com a obra Madona do Peixe de Rafael Sanzio. Ela teve ajuda dos irmãos e pais.
Na obra renascentista, a aluna está usando um vestido da mãe, com uma boneca na mão, ao lado está o irmão com uma barba falsa e uma bíblia, que encena o livro da obra e a sua irmã que está a sua frente.
“Gostei muito de fazer, pois todo mundo participou. Foi bem legal. Se as professoras pedissem pra fazer mais eu faria”, diz Débora Silva.