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Projeto quebra tabus sobre menstruação e incentiva autocuidado feminino em Itapuã

Empreendedoras promovem encontros entre gerações para falar sobre o uso de ervas, plantas medicinais e saúde menstrual

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Divulgação/Jefferson Dias

Por: Gabrielle Guido

Notícia

Publicado em 11.06.2021 | 11:28 | Alterado em 23.11.2021 | 19:00

Tempo de leitura: 3 min(s)
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Laura Daltro, Júlia Morais e Alana Santana, criadoras do projeto Akuaba @Divulgação/Jefferson Dias

Menstruação ainda é um tabu no país onde cerca de 713 mil meninas vivem sem acesso a banheiro ou chuveiro em seu domicílio e mais de 4 milhões não têm acesso a itens mínimos de cuidados menstruais nas escolas. Os dados são do relatório “Pobreza Menstrual no Brasil: desigualdade e violações de direitos”, da Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), lançado no fim do mês passado. 

De olho na importância de se falar sobre o tema e dos cuidados íntimos da mulher de forma aberta e respeitosa, três empreendedoras de Itapuã criaram o projeto Akuaba – Resgatando Práticas e  Memórias Antigas, voltado exclusivamente para mulheres do bairro.

Os primeiros encontros coordenados pelas criadoras Júlia Morais, 25, Alana Santana, 32, e Laura Daltro, 27, ocorreram on-line, entre os dias 24 e 25 de abril, e reuniram 60 mulheres. 

Para Júlia, criadora da empresa Flor de Maio, doula, terapeuta em ginecologia natural e cineasta, a iniciativa foi uma forma de fortalecer a comunidade onde nasceu e foi criada. “Itapuã é um cenário muito identitário, sentia falta de falar sobre isso para a minha comunidade.” 

Para ela, o projeto não tem a função de ensinar, mas sim de resgatar experiências que muitas vezes se perdem entre as gerações. Além disso, se conecta com Itapuã, que carrega em sua história gerações de benzedeiras, ganhadeiras e conhecimentos populares. 

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Produtos distribuídos no kit para 30 participantes do encontro @Gabrielle Guido/Agência Mural

Kit entregue continha absorventes ecológicos, óleos, hidratantes e sabonetes para o autocuidado @Divulgação/Jefferson Dias

Oficinas reuniram 60 mulheres no fim de abril @Divulgação/Gabriela Brito

As reuniões proporcionaram trocas de saberes ancestrais entre mulheres de diferentes gerações sobre temas como ciclo menstrual, chás, beberagens, garrafadas e óleos utilizados nos cuidados femininos.

“O objetivo das oficinas é resgatar memórias, trazer os conhecimentos mais atuais e integrá-los aos conhecimentos antigos. A gente entende esses saberes que salvaram e curaram muitas pessoas”, afirma Júlia. 

Ela ressalta o exemplo dado sobre formas de lidar com cólicas, sobre o feitio das garrafadas medicinais e os cuidados com o corpo através da saboaria natural.

O nome Akuaba se refere às bonecas ou estátuas da fertilidade do povo Ashanti que viveu em um período pré-colonial onde hoje é Gana, país da África Ocidental. A palavra está ligada ao mito de Akua, mulher que era infértil e conseguiu engravidar ao receber uma boneca de madeira de um dos sacerdotes de seu povo. 

Laura Daltro, doula, aromaterapeuta e terapeuta em ginecologia natural e uma das idealizadoras do projeto, afirma que a primeira oficina virtual foi um espaço também para sanar dúvidas sobre a saúde íntima e menstrual. Além disso, 30 delas receberam um kit com absorventes ecológicos, óleos, hidratantes e sabonetes para o autocuidado.  

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“Elas acessaram o conteúdo de forma mais profunda, abrindo um leque de possibilidades para elas descobrirem e destrincharem seus ciclos menstruais: como funciona? Como deixar certos dias mais leves? Foi o momento para compartilharmos formas de ter um ciclo menstrual mais saudável”, diz Laura.

O projeto Akuaba foi aprovado no Programa de Recuperação Econômica de Pequenos Negócios de Empreendedoras Negras, pelo fundo Baobá, possibilitando a gratuidade total da oficina. No futuro, as criadoras pretendem realizar novas edições virtuais e presenciais, assim que possível.

Para Aline Nascimento, 39, mestranda em geografia que participou dos encontros com a namorada, foi um momento de grandes aprendizados e descobertas. 

“Uma das coisas mais marcantes pra mim foram as conversas e receitas das garrafadas para limpeza uterina e cólicas. Só de ouvir uma mulher mais velha falando: ‘olha, o que eu vou ensinar pra vocês aqui é uma garrafada da minha família”, já é um baque!”, relembra. 

“Fiquei muito atenta a isso, sobre as receitas das nossas mais velhas, das receitas que são daquela geração”, destaca. 

Aline afirma esperar por novos encontros presenciais fora do contexto da pandemia. “O projeto foi muito potente, espero que elas alcancem ainda mais mulheres. Um dos diferenciais é que não foi somente para mulheres da minha idade. Imagina isso presencialmente? quero fazer novamente!”. 

A importância de falar abertamente sobre a saúde feminina vai da menarca (primeira menstruação) à menopausa. Alana Santana, que trabalha com relações públicas e empreende com sua marca de cosméticos naturais Pedra da Lua, comenta os resultados desse encontro de gerações.

“Algumas mais velhas tinham dúvidas com as questões da menopausa. Foi interessante essa troca de experiências entre mulheres que estão encerrando e iniciando seus ciclos menstruais.” 

Além do projeto, as coordenadoras mantêm os diálogos sobre a saúde íntima por meio de consultorias e dos produtos naturais que desenvolvem especialmente para saúde e bem-estar feminino.

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Gabrielle Guido

Comunicadora, produtora cultural e programadora na Agência Mural. É cofundadora da Entre Becos. Escreve sobre o dia-a-dia e cria imagens.

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