As favelas e periferias têm estética própria: escadões, blocos laranjas, vielas estreitas. Mas para Victória Castellon, 22, não é muito comum ver cores.
Estudante de artes visuais e relações públicas e moradora no Jardim Capelinha, zona sul de São Paulo, ela criou com um grupo de amigos o Favelinda, iniciativa que busca revitalizar espaços públicos por meio da arte, pintando principalmente casas e vielas.
Victória se interessou por arte aos 10 anos, após ter oficina de artes visuais na Fábrica de Cultura do Jardim São Luís, recém inaugurada.
“A arte tem disso de encher os olhos, então eu me apaixonei. Ali foi o primeiro grande passo, pois alguém acreditou em mim naquele momento”, conta.
Victoria compartilhou com os amigos a vontade de criar um projeto e ficou decidido que o grupo iria devolver algo para o lugar onde eles cresceram. “Era uma vontade que eu já tinha, de fazer um projeto vinculado à arte. Sentia que deveria devolver para as pessoas o que a arte fez comigo”.
Foi assim que nasceu o Favelinda, em abril deste ano. Desde então, oito ações já foram realizadas pela capital e em outras cidades da Grande São Paulo.
A primeira dela foi no Jardim Vaz de Lima, na zona sul. “Foi onde pintamos a primeira viela, as pessoas começaram a falar ‘ah, você vai naquela rua?’ Então você vai cruzar a viela pintada e virar à esquerda. Uma casa que era só de tijolinho agora tem cor”.
Os desenhos feitos pelo grupo são bem coloridos e circulares, utilizando sempre tons vivos para trazer impacto e uma sensação de fluidez. “A pessoa saiu para trabalhar e a viela estava de um jeito, mas quando ele volta, está de uma outra forma”.
A ideia inicial era de fazer uma ação por mês, iniciando nos bairros da zona sul, mas surgiram convites de instituições para ir a outras regiões.
“Um bairro está muito envolvido com outro. Não queremos que o projeto fique só conosco, queremos deixar ele pronto e compartilhar, fazendo com que outros jovens apliquem em outras regiões, apenas seguindo o passo-a-passo.”
APOIO DAS CRIANÇAS
Antes da revitalização, que conta não só com a pintura, mas também com a limpeza do local, os voluntários visitam a região e conversam com todos os moradores para explicar o projeto e pedir autorização para pintar o muro das casas. Também aproveitam a oportunidade para convidar as crianças para participarem da ação.
“Existem moradores que não autorizam que pintem a casa. Seja por motivo religioso, ou por achar que iríamos pedir dinheiro, ou achar que não ia servir para nada, mas 90% das vezes somos bem recebidos. Já ganhamos até pamonha!”, comenta alegre.
Para a artista, as pessoas têm muito a ensinar nas periferias, principalmente as crianças, por isso elas são peças fundamentais no dia da ação. “Sempre senti que os principais telespectadores da arte eram as crianças”.
O grupo separa um muro exclusivo para elas e como forma de agradecer a participação, é desenhada uma árvore com um detalhe: em vez de folhas, são pintadas as mãos das crianças.
“É uma forma da criança saber que ela participou de algo no local em que ela mora. Ficamos muito felizes com a possibilidade de criar essa memória afetiva para elas com o bairro.”
Victoria conta que quem participa acaba se tornando ouvinte de quem mora no bairro e diz que as pessoas acabam contando histórias muito tristes. Para ela, o Favelinda funciona como um novo horizonte, levando alegria e um novo olhar para aquele lugar.
As ações são divulgadas previamente no Instagram do projeto. Para se tornar voluntário, o primeiro contato é feito via rede social.