Em barcos grafitados, juventude veleja por represa Billings e reconhece importância do local: “Queremos aproveitar a represa. Olhar com carinho para ela”
Nascido no Grajaú, zona sul de São Paulo, o arte-educador Franz Thomas de Oliveira, 21, começou a velejar aos 10 anos de idade na Billings, represa que cerca o distrito. A atividade era oferecida por uma organização social que atuava perto da casa de Oliveira, mas ela fechou as portas há mais ou menos quatro anos. Todavia, a paixão pela vela fez com que o rapaz e outros participantes da antiga ONG criassem o próprio projeto. Assim, nasceu Navegando nas Artes que teve a primeira ação aberta ao público no último domingo de julho.
Oliveira conta que o projeto recebeu o nome Navegando nas Artes por querer unir a prática do esporte náutico e a valorização do graffiti, arte muito disseminada na região e que decorará os barcos. “Convidamos grafiteiros do Grajaú para pintar as velas”, comenta. A pintura será realizada no decorrer das atividades. Além disso, Navegando nas Artes nasceu com o desejo de estimular os participantes a terem um olhar cuidadoso em relação a represa.
Para tirar a ideia do papel e colocar os barcos na água, Oliveira e outros velejadores do Grajaú concorreram ao edital do VAI (Programa para a Valorização de Iniciativas Culturais). O valor arrecadado permitirá que as atividades aconteçam por pelo menos oito meses. “A gente pretende buscar outros meios para continuar o projeto, porque a náutica é muito cara. A manutenção dos barcos é cara”, comenta o rapaz.
No último domingo (28), foi apresentado o primeiro barco grafitado pelo artista Mauro Neri, também nascido no Grajaú e que grafita por toda a São Paulo. Inclusive, ele é o criador do termo “Veracidade”, que vemos em diversos locais da capital.
A empolgação pelo projeto contagia. O técnico de iluminação Fabiano Souza, 25, começou a velejar aos 15 anos de idade e agora é instrutor de vela no Navegando nas Artes. Ele saiu chamando toda a garotada do Cantinho do Céu, bairro do Grajaú onde mora, para aprender a velejar. “É um sonho. Tirar essa molecada da rua por algumas horas para praticar um esporte é muito bom”.
Um dos convidados de Souza é o estudante Thiago da Silva. O garoto de 16 anos de idade e morador do Cantinho do Céu comenta que no começo ficou com um pouco de medo de entrar na água, mas sentiu segurança por causa do equipamento. “A represa é um negócio perigoso. No barco a gente está seguro. Tem o colete salva-vidas e o Fabiano no bote acompanhando”. Além do bote motorizado que circula pela represa, os novatos são acompanhados por velejadores experientes no mesmo barco a vela.
Silva também chama a atenção para o fato de o esporte ser uma possibilidade de tirar o pessoal da mesma idade que ele da rua. “A galera fica muito na rua. Fica sem fazer nada ou só soltando pipa”. A preocupação com o local onde as crianças e adolescentes ficam parece ser algo recorrente no diálogo com os moradores do Grajaú. Taís Santos, 20, foi outra que fez questão de dizer que o esporte é uma forma de tirar os jovens da rua e até de afastar do mundo do crime.
“É bom velejar. A gente vai aproveitar o máximo que puder”, completa o auxiliar mecânico Jonatas Ribeiro, 22, nascido no Grajaú e instrutor de vela no projeto.
As primeiras atividades aconteceram na área da Billings que banha o Jardim Gaivotas, bairro do Grajaú. Entretanto, o plano é velejar em diferentes pontos da represa. Também vão fazer mutirões de limpeza nas margens. “Queremos aproveitar a represa. Olhar com carinho para ela”, finaliza Oliveira.
Priscila Pacheco é correspondente do Grajaú
priscila@agenciamural.org.br