O Dia da Consciência Negra é visto de forma diferente em cada uma das cidades da região metropolitana. Das 39 cidades que compõem a Grande São Paulo, 24 decretaram feriado por conta do 20 de novembro. Outras 14 têm o dia em seus calendários oficiais, mas com funcionamento normal dos serviços.
Criado em 2003, o Dia da Consciência Negra só foi oficializado nacionalmente em 2011. Porém, a adoção da data como feriado até hoje fica a critério de cada município por meio de legislação votada pelas Câmaras de Vereadores.
Alguns estados como Rio de Janeiro, Amazonas e Alagoas possuem decreto estadual que determina o feriado em todos os municípios.
Mesmo sem o feriado, muitas cidades adotam como ponto facultativo, caso de Cajamar e de Taboão da Serra. A maioria também recebe eventos durante a semana do dia 20, exemplo de Osasco e do Arujá (as duas cidades possuem em suas leis a Semana da Consciência Negra).
É o caso também de Mairiporã, onde não há feriado nem ponto facultativo, mas a data faz parte do calendário de eventos desde 2007.
Embora marque a ocasião da morte de Zumbi dos Palmares em 1695, o significado para muitos vai além de relembrar a vida do maior líder quilombola brasileiro, servindo também de palco para inúmeras discussões sobre memória e igualdade racial.
“Acredito que [o feriado] deveria ser geral pelo significado que este dia traz, para que cada vez mais se discuta essa temática e que, quem sabe um dia, o preconceito existente não seja tão grande”, opina a auxiliar de educação Renata Pereira Guimarães de Freitas, 28.
Renata trabalha na prefeitura de Franco da Rocha, onde a folga do feriado foi adiantada para quinta-feira (14) de maneira a coincidir com o feriado de Proclamação da República, na sexta-feira (15).
Esse tipo de alteração causou polêmica em Guarulhos, município com mais de 1 milhão de habitante. Lá o dia 20 é feriado desde 2013, mas a prefeitura decidiu criar uma emenda para os funcionários públicos no dia 18.
Por outro lado, o feriado foi mantido para quem trabalha nas empresas privadas. Entidades da cidade criticaram a medida e apontaram desrespeito.
ORGULHO NEGRO
“Pela importância e significado da data, deveria ser feriado nacional”, é o que afirma também a assistente social Lourdes Toledo dos Santos, 60.
Desde 2009, Lourdes é uma das responsáveis pelo Movimento Orgulho Negro Mairiporã, criado em parceria com a amiga Rosa Marina Costa durante uma Conferência de igualdade racial na cidade de Guarulhos.
“Nossa luta é diária contra a violência, o preconceito e o racismo. Lutamos também pelo bem querer e pelo bem viver de nosso povo”, afirma.
Mesmo sem a existência de um feriado propriamente dito, as duas, aliadas a outros agentes culturais, organizam eventos anualmente no dia 20 de novembro e também em outras datas temáticas como 13 de maio (Abolição da escravatura) e 25 de julho (Homenagem a Mulher Negra Latino Americana e Caribenha).
Elas fazem palestras, oficinas, atividades culturais e artísticas. A programação deste mês iniciou com uma caminhada no dia 16 e as atividades seguem até o dia 26.
MEMÓRIAS DA ESCRAVIDÃO
A história negra em Mairiporã tem sido pesquisada pelo grupo. Um dos principais ponto são materiais sobre a região da Mata Fria, no limite entre Mairiporã e a cidade de São Paulo.
Neste local, encravado nos altos da Serra da Cantareira, viveram muitos escravos alforriados, que receberam a área para viver por meio de uma doação ainda em 1866.
O mais famoso deles, Amaro Bento Luiz, chegou a criar um quilombo na região e ainda hoje possui muitos descendentes.
“Mairiporã foi palco de pessoas escravizadas durante todo o período da escravidão. Muitas pessoas sequer tinham conhecimento de que eram descendentes quilombolas”, conta Lourdes, que tem feito pesquisas sobre o quilombo da Mata Fria.
“A cidade precisa e merece resgatar sua história”, diz Lourdes. “A consciência negra é a identificação da causa e luta dos nossos ancestrais por liberdade e igualdade, mas é também o resgate, valorização e preservação das raízes culturais, religiosas, tradições e costumes de nossos antepassados”, completa.
Cidades onde a Consciência Negra é feriado na Grande SP: |
Barueri |
Caieiras |
Carapicuíba |
Diadema |
Embu das Artes |
Ferraz de Vasconcelos |
Francisco Morato |
Franco da Rocha |
Guarulhos* |
Itapecerica da Serra |
Itapevi |
Jandira |
Juquitiba |
Mauá |
Pirapora do Bom Jesus |
Ribeirão Pires |
Rio Grande da Serra |
Santa Isabel |
Santo André |
São Bernardo do Campo |
Salesópolis |
São Caetano do Sul |
Suzano |
São Paulo |
*Cidade adiantou a data para os servidores públicos |