Há 80 anos, 11 mil pessoas moravam no que hoje é o município de São Bernardo do Campo, maior cidade do ABC paulista. A cidade que comemorou aniversário nesta terça-feira (20) vivia um período em que havia sido rebaixada de cidade para distrito da vizinha Santo André, situação que permaneceria até 1945.
Em uma imagem aérea da época, é possível ver a diferença. Havia muito verde no principal núcleo urbano, cortado por uma via principal. A foto aérea faz parte de um acervo mantido pelo IGC (Instituto Geográfico e Cartográfico), órgão do governo do estado que trabalha com informações sobre a organização do estado de São Paulo.
Com base no acervo do instituto, a Agência Mural separou imagens disponibilizadas pela entidade sobre o ano de 1939. São aeorofotos tiradas em sobrevoo realizado pelo estado. Selecionamos as imagens de bairros das periferias e comparamos com a evolução dessas regiões nos dias de hoje.
CARAPICUÍBA
Região do Parque Santa Terezinha em Carapicuíba mantém características @Instituto Geográfico e Cartográfico
Uma das mais populosas cidades da Grande São Paulo, Carapicuíba se tornou município em 1965. Na época da imagem, contudo, o local ainda estava muito longe de ser alçado a cidade. Em 1939, o local fazia parte do distrito de Barueri, que ainda era parte de Santana de Parnaíba.
Primeiro Barueri se emancipou e, anos depois, foi a vez dos carapicuibanos brigarem pela autonomia. A imagem mostra a região do Santa Terezinha, onde fica a associação que leva o mesmo nome e fundada em 1923.
Hoje a região conta com uma estação de trem e quem desembarca por ali vê a igreja no topo do morro. Em 1939, há um leve traçado de onde passaria a avenida Deputado Emílio Carlos, que cruza a cidade e onde é esperado o Corredor Oeste.
ITAPEVI
Itapevi ainda era uma região pertencente a Cotia em 1939 @Instituto Geográfico e Cartográfico
Onde fica uma das últimas estações da linha 8-diamante da CPTM, Itapevi ainda era um bairro de Cotia quando as aerofotos foram registradas em 1939. Atualmente, com 220 mil moradores, o entorno da estação foi tomado pela região central.
A imagem foi feita em uma época que menos de 3 mil pessoas habitavam o distrito e mostra um pouco da antiga estrada de Itu, que vinha de São Paulo e por toda a região oeste da Grande São Paulo.
COTIA
Região do Centro Urbano de Cotia em 1939 @Instituto Geográfico e Cartográfico
Uma das mais antigas cidades da Grande SP, Cotia tinha 11 mil habitantes em 1940, perto da época em que foi feita esta imagem do centro urbano.
A cidade ainda sofreria mudanças com o desmembramento de Itapevi. Ainda não havia a rodovia Raposo Tavares na época, mas parte do traçado da estrada que leva a Pinheiros, na zona oeste de São Paulo, já era existente. Essa rota comercial era utilizada para levar produtos da região à capital.
Outra região de Cotia, Caucaia do Alto tinha estação de trem em 1939 @Instituto Geográfico e Cartográfico
O distrito de Caucaia do Alto possui uma estação de trem, da linha que liga o porto de Santos a cidade de Mairinque, no interior de São Paulo. Trens de carga ainda circulam pelo local.
GUARULHOS
Guarulhos se tornou a maior cidade da região metropolitana depois da capital @Instituto Geográfico e Cartográfico
Em 1939, ainda não existiam alguns dos principais marcos atuais de Guarulhos: o Aeroporto de Cumbica (a Base aérea de São Paulo chegaria cinco anos depois, e o aeroporto apenas em 1985). E as principais rodovias da região ainda não eram a Dutra, nem a Fernão Dias, nem a Ayrton Senna.
As principais vias eram estradas como a da Conceição, que ia até Santana, a Estrada Geral, que ligava ao Vale do Paraíba e Rio de Janeiro, ligando também a Penha de França, e a Guarulhos-Nazaré, que corta as antigas lavras de ouro e ainda hoje sobe a Serra do Itaberaba em direção ao interior.
Ao norte da cidade já circulava também o ramal Guarulhos do trem da Cantareira, que impulsionou a região da Vila Galvão e Cumbica.
Na imagem aérea é possível ver ainda poucas ruas do que hoje é o centro de comércio popular de Guarulhos, como a Dom Pedro II, em frente a Catedral de Nossa Senhora da Conceição, a Sete de Setembro (ainda praticamente desabitada), a Capitão Gabriel e a Felício Marcondes, com destaque para o cemitério São João Batista.
Na época, estima-se que apenas 13 mil habitantes viviam em Guarulhos. É difícil imaginar que a cidade chegaria ao posto de segunda maior do estado, mas uma conjunção de fatores, como a grande área, a boa localização para indústrias e a migração em massa levaram a cidade a se expandir.
ITAPECERICA DA SERRA
Cidade de Itapecerica da Serra, no sudoeste da Grande São Paulo @Instituto Geográfico e Cartográfico
A Itapecerica da Serra de 1939 ainda era um território extenso que, décadas mais tarde, foi dividido ao emancipar mais cinco cidades: Embu das Artes, Taboão da Serra, Juquitiba, Embu-Guaçu e São Lourenço da Serra.
Foi em 1906 que Itapecerica passou a ser considerada cidade, no dia 19 de dezembro. Sua origem é um aldeamento indígena criado pelos Jesuítas, instrumento usado para a catequização e controle desses povos. Diversas regiões de São Paulo surgiram assim.
Região onde hoje está Embu das Artes; em 1939, o local pertencia a Itapecerica @Instituto Geográfico e Cartográfico
Na década de 1930, a economia da cidade começou a se expandir por causa da construção da Estrada de Ferro Mairinque-Santos (Sorocabana), que passa pela cidade atravessando o bairro da Aldeinha.
Itapecerica é uma palavra que se origina na língua tupi antiga e significa “pedra achatada escorregadia”. Em 1944, a cidade passou a chamar-se Itapecerica “da Serra” para diferenciar-se de uma cidade homônima nas Minas Gerais e por estar na região de Paranapiacaba.
ITAQUAQUECETUBA
Município de Itaquaquecetuba era um bairro de Mogi das Cruzes @Instituto Geográfico e Cartográfico
Nessa época, Itaquaquecetuba era um distrito rural de Mogi das Cruzes. Mesmo após a emancipação, continuou possuindo um núcleo urbano muito pequeno. Ao receber as primeiras indústrias, na década de 1970, o município viu a população explodir a partir de ocupações, impulsionadas pela vinda dos migrantes mineiros e nordestinos.
Na imagem, é possível ver o cruzamento das avenidas Alberto Hinoto e Liberdade, além da praça Padre João Álvares, a Igreja Matriz e a avenida Emancipação. Também é visível o Rio Tietê e a mata nativa em sua várzea, que foi desmatada, e hoje é ocupada pela Vila Maria Augusta.
MAIRIPORÃ
Mairiporã ainda não tinha esse nome em 1939; imagem do núcleo urbano @Instituto Geográfico e Cartográfico
Em 1939, Mairiporã ainda não existia, pelo menos não com o mesmo nome.
A cidade era sede de um extenso município chamado Juqueri, que englobava também as áreas atuais de Caieiras, Franco da Rocha e Francisco Morato, uma região que tem hoje mais de meio milhão de habitantes, mas que não passavam de pequenos povoados ao norte da capital até então.
Na região da imagem é possível ver as duas ruas que são até hoje as principais vias de comércio de Mairiporã (XV de novembro e Coronel Fagundes), destaque também para a Igreja Matriz de Nossa Senhora do Desterro.
Logo atrás da igreja está a área onde 7 anos depois seria inaugurado o primeiro e único hospital da cidade, em operação até os dias atuais.
Hospital do Juqueri onde hoje é Franco da Rocha @Instituto Geográfico e Cartográfico
O forte de Juqueri naquela época era a agricultura, puxada pela enorme quantidade de imigrantes japoneses, a terceira mais antiga colônia do país. Plantava-se gengibre, uva, batata, hortaliças e variedades de flores. Este também era o início da chamada era das olarias no município, que chegaram a ser mais de 400 apenas vinte anos depois.
A região era cortada ainda pela linha de trem Santos-Jundiaí, o que já impulsionava a futura Franco da Rocha, que se emanciparia apenas cinco anos depois.
MOGI DAS CRUZES
Mogi das Cruzes é a maior cidade do Alto Tietê @Instituto Geográfico e Cartográfico
A imagem mostra o distrito-sede de uma Mogi das Cruzes que já não existe mais. Em 1939, Mogi ocupava praticamente todo o território da região do Alto Tietê, numa faixa de terra extensa que fazia fronteira com a capital e o litoral paulista.
O distrito-sede é atualmente o centro comercial de Mogi. O traçado das ruas, herdado da época colonial, ainda permanece praticamente o mesmo. Na foto, é possível ver a avenida Voluntário Fernando Pinheiro Franco, e as ruas Ipiranga, Ricardo Vilela, e Coronel Cardoso de Siqueira.
Também se destaca a linha da Estrada de Ferro Central do Brasil, que ligava São Paulo ao Rio de Janeiro, passando por Mogi.
Poá fazia parte de Mogi @Instituto Geográfico e Cartográfico
Nessa época, o município tinha sob seus domínios as atuais cidades de Itaquaquecetuba, Suzano, Poá, Ferraz de Vasconcelos e Biritiba-Mirim.
OSASCO
O começo de Osasco se deu ao redor da estação central @Instituto Geográfico e Cartográfico
Em 1939, Osasco ainda era uma vila de São Paulo e a região central era a principal área povoada. Atualmente, são 700 mil moradores no município que se emancipou em 1962. O centro nasceu ao redor da antiga indústria Hervy, fundada no final do século passado e que permaneceu até os anos 1990, quando foi desativada.
Foi ali que o italiano Antônio Agu deu início a vila que levou o mesmo nome da cidade na Itália, de onde veio. No início do século 20, a região era habitada majoritariamente por imigrantes.
Atualmente, nessa região está sendo construída a sede da futura prefeitura. Também é ali onde está a estação central e onde se consolidou a rua Antonio Agu como principal centro comercial da cidade.
SANTO ANDRÉ
Núcleo urbano de Santo André; na época, cidade havia incorporado São Bernardo @Instituto Geográfico e Cartográfico
As décadas de 1930 e 1940 foram agitadas na região de Santo André, no ABC paulista. Na época da imagem, os andreenses haviam conseguido o status de município. A região inicialmente pertencia a São Bernardo, mas uma articulação política e a ideia de que Santo André concentrava a economia da região, a sede foi transferida.
São Bernardo foi rebaixado a categoria de distrito, mas não duraria muito tempo e anos depois voltaria a se emancipar.
São Bernardo do Campo durante o final dos anos 1930 e início dos anos 1940 foi um bairro de Santo André @Instituto Geográfico e Cartográfico
O nome Santo André foi o primeiro a ser usado na região de São Paulo. João Ramalho fundou Santo André da Borda do Campo, em uma região em que alguns apontam ser o ABC paulista, mas não há consenso sobre o local exato. A vila, contudo, foi transferida depois para a região do Piratininga, onde nasceria a capital.
De todo modo é dessa época que as duas cidades do ABC começam a contar seu aniversário.
SANTANA DE PARNAÍBA/PIRAPORA DO BOM JESUS
Pirapora do Bom Jesus é o berço dos romeiros @Instituto Geográfico e Cartográfico
Cidade de menos de 20 mil habitantes, Pirapora do Bom Jesus já tinha em 1939 boa parte das características do atual centro histórico. Na época, a região era um bairro de Santana de Parnaíba, uma das mais antigas cidades do estado, fundada em 1580.
Pirapora se notabilizou pelo turismo religioso com romeiros de todo o estado passando pela região. A principal estrada para chegar à região é justamente a Estrada dos Romeiros. Além disso, Pirapora também é considerada o berço do samba.
SÃO PAULO/SANTO AMARO
Região de Santo Amaro na zona sul de São Paulo @Instituto Geográfico e Cartográfico
Santo Amaro já era uma região populosa em 1939 e vivia poucos anos da reincorporação à capital. A região se tornou cidade em 1832 e chegou a ter 27 mil habitantes. Tinha um amplo território que abrangia praticamente toda a zona sul de São Paulo, além de alguns municípios vizinhos. No entanto, em 1935, se tornou um distrito de São Paulo, época em que houve a construção do aeroporto Congonhas.
CORRIGIMOS
O texto dizia que Caucaia do Alto, na cidade de Cotia, possuía uma estação de trem. A estação ainda existe. A informação foi corrigida no dia 27 de agosto de 2019, às 20h.
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