Em menos de quatro meses, políticos de cidades da Grande São Paulo devem investir mais por voto do que os candidatos da capital para buscar se eleger nas eleições municipais. É o que indica o limite de gastos que será aplicado pela primeira vez na disputa deste ano.
A reforma política, aprovada ano passado, determinou que os candidatos poderão gastar no máximo 70% do maior custo da última disputa, com objetivo de reduzir o abuso do poder econômico. O período de campanha foi reduzido para 45 dias e não será permitido o financiamento por empresas.
Para se ter uma ideia, enquanto em São Paulo, o prefeito Fernando Haddad (PT) teve uma campanha que despendeu R$ 7,88 por possibilidade de voto, nas eleições de 2012, o valor chegou a R$ 35 na região metropolitana.
Em valores gerais, um candidato em São Paulo poderá gastar até R$ 34 milhões no primeiro turno, mas em uma cidade que tem 8 milhões de eleitores. Nas outras 38 cidades, boa parte tem menos de 500 mil eleitores, mas os candidatos a prefeito de 14 delas poderão gastar mais de R$ 1 milhão.
A Mural — Agência de Jornalismo das Periferias — realizou um levantamento para mostrar quais foram as eleições mais caras nas cidades da Grande São Paulo e quais serão os limites estipulados para as eleições deste ano, seguindo a nova norma. Confira na tabela abaixo:
CAMPEÃ DE GASTOS
O principal destino dos recursos de campanha são destinados para as propagandas eleitorais e a cidade que deve liderar em despesas eleitorais na região metropolitana é Guarulhos, com um limite de 3,4 milhões. No município, as últimas eleições foram marcadas por protestos pelo excesso de materiais espalhados pelos bairros. Eleitores irritados com o lixo acumulado juntaram o material e devolveram na porta da Câmara Municipal.
Para Renato Condez, 26, morador da região, é preciso mudar. “Aproveitando a inclusão digital na cidade, deveriam proibir esses santinhos. Na próxima eleição queremos manter a cidade limpa”, afirma.
Na sequência de Guarulhos, onde Sebastião Almeida (PT) foi reeleito com mais de R$ 6 milhões de despesas em dois turnos, os municípios da Grande São Paulo que poderão ter campanhas mais caras são Santo André e São Bernardo do Campo, por conta das campanhas dos também reeleitos Carlos Grana (PT) e Luiz Marinho (PT) — foram R$ 4,9 mi declarados e serão R$ 3 mi em 2016.
A quarta colocada no indicador é Barueri, com 211 mil eleitores na época. O limite em 2016 será de R$ 2,5 milhões, por conta da campanha de R$ 3,7 milhões do então candidato Carlos Zicardi, apoiado pelo ex-prefeito Rubens Furlan, ambos na época no PMDB. O gasto por chance de voto foi de R$ 17,52, valor cerca de 122 % maior do que na capital (R$ 7,88).
Os dados foram declarados pelos candidatos na prestação de contas.
OS EXCESSOS DOS VEREADORES
A eleição para vereadores seguirá a mesma norma dos limites de gastos. Guarulhos lidera novamente o ranking com limite de R$ 460 mil (70% dos gastos de um candidato que colocou R$ 657 mil em 2012). Osasco é a segunda com limite de R$ 265 mil. No entanto, outras cidades menores aparecem na sequência e as campanhas mais turbinadas de 2012 foram a de vereadores que devem concorrer ao cargo de prefeito neste ano.
Cotia será a terceira em gastos para a Câmara com campanhas de até R$ 241 mil, apesar do município ser apenas o 14º em número de eleitores. O teto foi estipulado por conta dos gastos do vereador Rogério Franco, de R$ 344 mil. O parlamentar trocou o PMDB pelo PSD e é pré-candidato a prefeito.
Em Embu das Artes, com menos de 200 mil eleitores, o limite será de R$ 222 mil, ocupando o quarto lugar na lista de custos. Isso porque há quatro anos, quando 210 candidatos disputaram 15 vagas, o hoje presidente da Câmara Ney Santos (PRB) despendeu R$ 318 mil.
A população ainda se recorda do excesso de propaganda. “Minha caixa de correio enchia todas as semanas com panfletos e santinhos dos principais candidatos”, comenta a operadora de telemarketing Diane Freitas, 20, moradora do Jardim Santo Eduardo, zona leste da cidade.
O gerente de loja Antônio Carlos Constantino, 56, morador do Engenho Velho, na região central, também destaca a movimentação eleitoral da cidade. “Cerca de um mês das eleições recebi ligações dos partidos e vi muitas passeatas com fogos de artifícios. Em toda a cidade o movimento foi o mesmo. Os candidatos precisam mesmo é trabalhar para atender as demandas da população”, diz Constantino.
DINHEIRO X VITÓRIA
A cidade de Juquitiba viveu uma eleição diferente em 2012. Enquanto quem investiu mais se elegeu em um terço das cidades da Grande São Paulo, o município teve no ‘lanterninha’ o maior gasto com a eleição. Na época a candidatura de Selmo dos Santos Pereira (PRP) teve despesas declaradas de R$ 800 mil, 13 vezes mais que o candidato eleito Francisco Júnior (PPS). Apesar do valor investido, Pereira recebeu apenas 43 votos. Por conta dele, o limite neste ano será de R$ 560 mil.
No geral, apenas 13 municípios tiveram a vitória de políticos que gastaram menos, como em Itaquaquecetuba, marcada por um período eleitoral conturbado que levou à vitória de Mamoru Nakashima (PTN) com despesas de R$ 398 mil, abaixo do candidato apoiado pelo governo Rogério Tarento (PR), com mais de R$ 1 milhão.
Em 2012, o ex-prefeito Armando Tavares Filho, o Armando da Farmácia (PR), completava seu segundo mandato e, como não poderia disputar o pleito, indicou Tarento, seu secretário de Indústria e Comércio, para a vaga. Tarento fez uma campanha com despesas declaradas de R$ 1,4 milhão — valor superior a três vezes mais que o oponente. Na disputa de 2016, os candidatos poderão despender até R$ 1 milhão.
Contudo, a campanha de Nakashima ganhou mais prestígio, após uma polêmica com os cabos eleitorais do adversário, acusados de agredir sua equipe a pedradas, com agressões até contra o próprio candidato. O fato repercutiu e ele foi eleito com mais de 53% dos votos.
Paulo Talarico, Jéssica Souza, Lucas Landin e Silvia Martins