A auxiliar administrativa Jennifer Gomez Villalba, 21, mora no Parque Recreio, em Parelheiros, extremo sul da cidade de São Paulo, desde que nasceu. Próximo dali, no Jardim das Fontes, em Marsilac, mora a estudante Mariana Vasques Vicente, 36. As residências das duas têm algo em comum: a falta de acesso à rede de esgoto.
O que parece estranho em uma metrópole como São Paulo é comum nos últimos distritos da zona sul. De acordo com o Mapa da Desigualdade da Primeira Infância, da Rede Nossa São Paulo, apenas 36,75% dos domicílios de Parelheiros têm acesso à rede de esgoto. Em Marsilac, o número é irrisório: 0,81%.
Quem mora em áreas sem acesso ao sistema de esgoto precisa construir fossas sépticas para captação da água que sai da pia da cozinha e do banheiro. Esse sistema era comum na cidade de São Paulo até a década de 1970, quando foi criada a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) e elas passaram a ser substituídas.
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Essa troca nunca chegou em algumas casas do extremo sul e nem sempre os moradores cobram os órgãos responsáveis em relação a isso. “Meu pai nunca entrou em contato com a prefeitura [para reclamar]”, afirma Mariana, que mora há 36 anos em Marsilac.
“Nossa casa não possui esgoto porque o terreno é muito alto, mas na rua ao lado, onde é mais baixo, o saneamento chega”, diz Jennifer, cujos pais moram em Parelheiros há três décadas.
A fossa utilizada na casa de Jennifer foi construída há 15 anos e tem 10 metros de profundidade. “Exala um mal cheiro quando está para chover, mas em dias normais o cheiro não é muito forte”, explica a jovem.
Segundo ela, a fossa nunca precisou passar por manutenção porque até hoje chegou à capacidade máxima. Quando enche, um caminhão é chamado para fazer a limpeza e deixar o local sem nenhum resíduo.
Apesar de estar acostumada com o uso da fossa, Mariana acredita que falta vontade por parte do poder público para que o sistema de esgoto chegue em Parelheiros e em Marsilac.
“Nem cascalho nas ruas eles jogam”, diz ela, que mora em uma rua de terra com apenas quatro chácaras. “[Aqui] é um lugar esquecido do mundo”, finaliza.
OBRAS EM MARSILAC
A prefeitura regional de Parelheiros, que engloba os dois distritos, ocupa uma área de 353,50 km² e tem apenas 139 mil habitantes. A densidade demográfica é de apenas 394 moradores por km². O verde que predomina na região impede que ações mais incisivas sejam feitas.
Em nota, a prefeitura regional afirma que as regiões de Parelheiros e Marsilac são áreas de proteção ambiental. “As intervenções nestes locais devem respeitar as Leis nº 13.706/2004 e nº 14.162/2006, que determinam o zoneamento geo-ambiental”, explica.
De acordo com a Secretaria de Saneamento e Recursos Hídricos (SSRH), estão sendo investidos R$ 3,1 milhões em obras para instalação de biorreatores, responsáveis pela captação e tratamento de esgoto, em Marsilac. As obras devem ser concluídas em fevereiro de 2019 e atenderão 240 residências – ou aproximadamente 1.000 moradores.
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“No projeto está incluído o controle da qualidade das águas dos poços e córregos da região do entorno. Também já está em processo a ampliação do projeto com a inclusão de novas residências”, explica a secretaria. A reportagem do 32xSP questionou os órgãos sobre projetos no distrito de Parelheiros, mas não há nenhum em andamento no momento.
DIFERENÇAS
A comparação com outros distritos mostra como Parelheiros e Marsilac estão aquém no quesito rede de esgoto. Terceiro pior no ranking, o Grajaú, também na zona sul, tem 70,57% das casas com acesso ao sistema de efluentes.
O melhor distrito da capital paulista, República, na região central, chega a 99,87% de cobertura. Com as obras em Marsilac, a região deve saltar de 0,81% para mais de 13% das residências atendidas pela rede de esgoto. Uma boa evolução, mas ainda longe do ideal.
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http://32xsp.org.br/2017/05/22/patrimonio-ambiental-parelheiros-possui-cratera-geologica-habitada/