As quedas nos vãos das estações de trem da Grande São Paulo alcançaram a menor marca desde 2010, mas ainda somam quase uma queda por dia. No ano passado, as cinco linhas operadas pela CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) e as duas operadas pela empresa ViaMobilidade somaram 301 acidentes, pouco mais de um terço do registrado em 2012, quando foram somadas 1.136 ocorrências em seis linhas (ainda não havia sido inaugurada a linha 13-Jade).
A Agência Mural acompanha os números de quedas nos vãos entre o trem e a plataforma desde 2017, quando solicitou via LAI (Lei de Acesso à Informação) a quantidade de casos desde 2010. Naquela época, entre 800 e 1.100 pessoas caíam nesse espaço durante o ano.
Após a revelação feita pela Mural de que havia vãos com mais de 40 cm, os números caíram para 782 em 2018 e 2019, e depois para pouco mais da metade durante os anos de 2020 e 2021. A redução ocorreu após investimentos da CPTM para reduzir o tamanho dos vãos, além da queda na quantidade de passageiros por conta da pandemia do Covid-19.
Em 2022, houve uma nova alta, chegando ao total de 409. Contudo, a quantidade caiu novamente em 2023, alcançando a menor marca da série, com 301 acidentes. Chama a atenção o número informado pela ViaMobilidade nas linhas 8-Diamante e 9-Esmeralda: apenas 14 acidentes.
A reportagem questionou a empresa se houve alguma mudança na metodologia da contagem de quedas e pediu para especificar em quais estações foram colocados redutores de vãos, mas até a publicação deste texto não obteve resposta sobre isso.
A empresa respondeu apenas que desde que assumiu, em janeiro de 2022, “vem investindo fortemente na melhoria da prestação dos serviços aos passageiros”.
“A concessionária está investindo em redutores de vão nas plataformas, orientações por meio de campanhas de segurança, avisos sonoros, além de monitoramento e orientação constante dos AAS (Agentes de Atendimento e Segurança) em pontos de maior movimento nas plataformas”, informou a empresa.
Na linha 8-diamante, que opera entre as estações Julio Prestes e Itapevi, o número caiu de 34 ocorrências em 2022 para apenas seis no ano seguinte, uma redução de cerca de 83%.
Já a linha 9-esmeralda, que opera entre as linhas Bruno Covas-Mendes/Vila Natal até Osasco, a redução foi de 88,5%. Foram 69 quedas no vão entre a plataforma em 2022 e somente oito em 2023.
As linhas operadas pela CPTM mantiveram números semelhantes ao período pandêmico. A linha 11-coral foi de 104 acidentes em 2021 para 88 em 2022 e 78 em 2023. O gráfico é semelhante ao da linha 12-safira, cuja circulação também é na zona leste, onde o número de casos saiu de 80 em 2021 para 92 em 2022, e de 92 para 72 em 2023.
Já a linha jade, que atende as estações Engenheiro Goulart, Guarulhos-CECAP e Aeroporto-Guarulhos, viu o baixo número de ocorrências cair pela metade entre 2022 e 2023, indo de oito para quatro.
As linhas 7-rubi e 10-turquesa, que desde 2021 fazem uma operação conjunta, indo de Rio Grande da Serra à Jundiaí, foram as únicas que apresentaram aumento no número de quedas no vão.
A linha turquesa registrou apenas 29 quedas em 2021 e viu o número subir para 58 e 57, respectivamente, nos anos seguintes. Já a Rubi foi de 48 em 2021 para 60 em 2022 e depois para 76 em 2023.
A linha 7-rubi foi concedida no começo de março para o consórcio C2 Mobilidade Sobre Trilhos, que assumirá a operação a partir do final de junho. Após a concessão, a operação conjunta com a linha turquesa será descontinuada e o ponto final da rubi será na estação Barra Funda, não mais na estação Brás.
A CPTM também informou que realizou investimentos em “implantação de ferramentas para dirimir os acidentes de passageiros no vão entre o trem e a plataforma”, destacando a “redução de 6,2% nas ocorrências deste tipo nas cinco linhas da companhia, na comparação com o ano de 2022”.
“Uma das medidas adotadas foi a implantação de estribos em toda a frota. O aparelho é um extensor instalado nas portas dos trens, que tem o objetivo de reduzir a distância entre o vão e a plataforma”, diz a companhia.
“As vias e plataformas também foram adaptadas, com a instalação de borrachões de proteção em algumas plataformas das estações Luz, Tatuapé, Palmeiras-Barra Funda, São Miguel Paulista, Santo André, Brás, Ferraz de Vasconcelos e Engenheiro Goulart.”
Sobre o aumento de ocorrências na linha 7-rubi, a assessoria diz que há a impossibilidade da redução do tamanho dos vãos por conta do compartilhamento dos trilhos com trens de carga, que são mais largos que os de passageiros. Para resolver essa questão, a companhia tem investido nos “borrachões”.
“O borrachão foi projetado exclusivamente para a CPTM de modo a permitir também a passagem dos trens de carga. O transporte ferroviário de cargas que hoje passa por dentro da cidade de São Paulo utiliza 161,88 km das vias por onde transitam os trens de passageiros, sendo 61,08km somente na linha 7-rubi”.
A CPTM informou também que as estações Capuava, Prefeito Saladino, Utinga e São Caetano, todas da Linha 10-Turquesa, passam por reformas visando a adequação permanente da via e colocação de borrachões.
As estações Engenheiro Manoel Feio e Aracaré, da linha 12-Safira, também estão com obras que incluem “redução do vão entre o trem e a plataforma, de acordo com a Norma ABNT”.
De acordo com a ABNT, a distância máxima entre o trem e a plataforma deve ser de 10 cm. Contudo, um levantamento feito pela Agência Mural em 2017 indicava que havia estações na Grande São Paulo com vãos que chegavam a acima dos 40 cm.