A região norte da Grande São Paulo chegou a quase mil casos de Covid-19 nesta quinta-feira (14) e os casos se espalharam para mais de 100 bairros em três municípios.
Composta pelas cidades de Caieiras, Cajamar, Franco da Rocha, Francisco Morato e Mairiporã, a região tem enfrentado dificuldades para que a população adote o distanciamento social.
Em Francisco Morato, por exemplo, o isolamento tem sido cumprido por menos da metade dos 170 mil habitantes até terça-feira (22). Por lá morreram 33 moradores e são 264 casos.
“A população ainda não se conscientizou de que é uma doença grave”, diz a professora Fabiana Maria da Silva, 40, moradora do município e que teve o diagnóstico de Covid-19 confirmado.
“Uma semana antes [do teste] eu senti uma falta de ar. Fui na UPA e o médico tirou chapa do pulmão, me deu inalação e um antibiótico para tomar por 5 dias porque eu tinha tido febre baixa”, explica.
BAIRROS COM MAIS CASOS EM FRANCISCO MORATO (Até 15 de maio)
">Bairro de residência | ">Casos confirmados | ">Óbitos |
">Jardim Vassouras | ">20 | ">4 |
">Jardim Alegria | ">13 | ">1 |
">Bairro não informado | ">12 | ">0 |
">Parque 120 | ">12 | ">3 |
">Recanto Feliz | ">12 | ">2 |
">Belém Capela | ">11 | ">1 |
">Jardim São José | ">11 | ">1 |
">Jardim Rosas | ">10 | ">0 |
">Jardim Silvia | ">10 | ">2 |
">Jardim Nossa Senhora Aparecida | ">9 | ">0 |
">Centro | ">8 | ">2 |
">Jardim Nova Belém | ">8 | ">1 |
">Jardim Professor Francisco Morato | ">8 | ">0 |
Silva só descobriu que poderia estar com a doença quando fez um teste rápido no hospital do Servidor Público, em São Paulo. “Acordei novamente de madrugada com uma falta de ar muito ruim, mas não tive febre, eu só tinha muita dor no corpo, tive uma dor de cabeça e essa falta de ar. Fui direto para o servidor”, completa.
Silva sofreu um enfarte há 10 anos e trata de uma anemia severa. Embora faça parte do grupo de risco, foi enviada para casa porque não necessitava de internação e ficou em isolamento por 15 dias. Hoje está bem.
A preocupação em Morato, assim como nas demais cidades da região metropolitana, é a capacidade hospitalar para atender o aumento dos casos. Um hospital de campanha foi montado na cidade com 35 leitos, dos quais 14 estavam com pacientes do Covid-19.
CAIEIRAS
Em Laranjeiras, bairro do município de Caieiras, o engenheiro de segurança do trabalho Denis Fumagali, 48, soube de seis mortes por coronavírus.
“As pessoas têm uma falsa sensação de que a Covid-19 não chegará em seus lares, e boa parte dos moradores de Caieiras se sentem imunizados e que não precisarão do sistema de saúde”, afirma.
Com pouco menos de 100 mil habitantes, Caieiras registra uma das maiores taxas proporcionais de vítimas na Grande São Paulo. São 24 mortes. Apenas Osasco e Barueri tiveram mais perdas por 100 mil habitantes. Na capital paulista, são 21.
Fumagali conta que as medidas de contenção tomadas pelo município ficaram mais efetivas depois que passou a vigorar o decreto do Estado de SP, que obriga a utilização de máscaras nas ruas de toda a população, em 7 de maio.
“A adesão sem decreto era muito baixa. O distanciamento social em Laranjeiras sempre esteve muito aquém do desejável, frente a quantidade de mortes”, comenta.
O bairro Laranjeiras é o mais afetado da cidade. Eram 27 casos e seis mortes só na região. É nele que fica o hospital de campanha Centro Médico de Combate ao Coronavírus para atendimento de pacientes com a Covid-19.
Segundo a prefeitura do município, do total de 32 leitos disponíveis na rede municipal, nove estavam sendo ocupados até quinta-feira (7).
No entanto, Caieiras não tem leitos de UTI para atendimento de casos de alta complexidade, há apenas leitos semi-intensivos. Pacientes que precisem de tratamento intensivo são direcionados aos hospitais estaduais ou à rede de saúde privada, com quem as prefeituras têm feito parceria.
BAIRROS COM MAIS CASOS EM CAIEIRAS (Até 12 de maio)
">Bairro | ">Casos confirmados | ">Óbitos |
">Laranjeiras | ">27 | ">6 |
">Serpa | ">18 | ">3 |
">Jardim Nova Era | ">16 | ">1 |
">Centro | ">15 | ">5 |
">Nova Caieiras | ">13 | ">1 |
">Jardim Marcelino | ">8 | ">2 |
">Vila Rosina | ">8 | ">1 |
">Jardim Vitória | ">7 | ">0 |
">Jardim dos Eucaliptos | ">6 | ">1 |
A região dos cinco municípios tem apenas dois hospitais públicos com leitos de alta complexidade para o tratamento de pacientes com a Covid-19. O Hospital Estadual Albano, em Franco da Rocha, e o Hospital Estadual Lacaz, em Francisco Morato, ambos são administrados pelo Governo do Estado de SP.
O primeiro estava com 93% dos leitos de UTI ocupados até sábado (9), enquanto o Lacaz estava com 100% dos leitos de alta complexidade ocupados até quarta-feira (13).
FRANCO DA ROCHA
Moradora do bairro Pouso Alegre, a dona de casa Priscila da Silva Caviglioni, 34, conta que no bairro onde mora não há aglomeração de pessoas e os comércios têm respeitado as determinações da administração pública, mas o mesmo não ocorre no centro da cidade.
“Tive que ir no banco na semana passada e, além de estar lotado, o pessoal não fica distante [na fila]. No mercado é a mesma coisa”, diz. “As pessoas precisam entender que é para ficar em casa. Hoje fui no centro e parecia tudo normal, as lojas estão trabalhando via delivery, mas tem umas com meia porta”, comenta.
Morando com os pais idosos e o filho de 3 anos, Caviglioni tem que redobrar o cuidado em casa. “Meu pai de 71 anos se curou de um câncer e tem alzheimer. Minha mãe de 67 anos teve um AVC e um enfarte, por isso não fala e anda com dificuldade. Também sou do grupo de alto risco porque tenho hipertensão” explica.
Na rede municipal, Franco da Rocha tem 36 leitos de baixa e média complexidade e 13 são ocupados com doentes da Covid-19. O hospital de campanha, funcionando desde 7 de abril, tem 40 leitos de enfermaria e 22 estavam ocupados na última semana.
BAIRROS COM MAIS CASOS EM FRANCO DA ROCHA (Até 12 de maio)
">Bairro | ">Casos Confirmados | ">Óbitos |
">Parque Vitória | ">27 | ">3 |
">Bairro não informado | ">24 | ">0 |
">Lago Azul | ">18 | ">1 |
">Vila Bela | ">17 | ">1 |
">Monte Verde | ">16 | ">2 |
">Vila Lanfranchi | ">15 | ">1 |
">Jardim União e Jardim Santa Filomena | ">12 | ">1 |
">Vila São Benedito e Cia Fazenda Belém | ">11 | ">1 |
">Jardim Progresso | ">10 | ">0 |
">Vila Palmares | ">9 | ">0 |
">Centro | ">7 | ">1 |
">Jardim Luciana | ">7 | ">2 |
MAIRIPORÃ
Em Mairiporã, Gabriela Figueiredo, 34, também tem adotado um cuidado redobrado em casa para evitar o risco de contaminação da doença.
Dos cinco municípios da região, a cidade é a que tem a melhor taxa de distanciamento, estando entre os 10 primeiros dos 645 municípios do Estado. Apesar disso, Figueiredo diz ter percebido um relaxamento, por parte da população, em relação ao distanciamento social.
Ela mora com o marido e dois filhos pequenos, de 1 e 4 anos, no bairro Parque do Moinho. “Na primeira semana de abril, o distanciamento funcionou muito bem, mas de duas semanas para cá, você vê maior movimentação”, conta. Apesar disso, vê o aumento no uso de máscaras.
Mairiporã também não tem leitos de UTI na rede municipal. Segundo a prefeitura, a cidade conta com 30 leitos de baixa e média complexidade e dois leitos semi-intensivos no hospital de campanha.
Por conta do problema, o Cimbaju (Consórcio Intermunicipal da Bacia do Juquery), que reúne as cinco prefeituras, fez uma parceria para a compra de EPIs para os profissionais de saúde no valor de R$ 700 mil. Além disso, prevê a realização de 3 mil testes do tipo PCR (que faz a detecção direta do vírus), e a contratação de 28 leitos de UTI da rede hospitalar privada da região.
A contratação dos leitos é financiada pelo governo federal e estadual e terá duração de três meses para atendimento exclusivo dos pacientes do coronavírus e os testes estão disponíveis desde o dia 30 de abril.
Ainda em Mairiporã, um hospital de campanha foi montado dentro da estrutura do hospital Anjo Gabriel.
CAJAMAR
O técnico em eletrônica, Alexandre Rodrigues de Oliveira, 28, tem percebido que, pelo menos no Portal dos Ipês, bairro onde mora, as pessoas têm seguido as orientações para combater a Covid-19.
Oliveira conta que os restaurantes, pizzarias e algumas sorveterias estão funcionando apenas por delivery e que os únicos comércios abertos em Cajamar são os supermercados, farmácias, padarias e mecânicas de automóveis.
CENÁRIO DA REGIÃO
">Cidades | ">População | ">Casos confirmados | ">Óbitos |
">Cajamar | " data-sheets-numberformat="[null,2,"#,##0",1]">76.801 | ">174 | ">13 |
">Caieiras | " data-sheets-numberformat="[null,2,"#,##0",1]">101.470 | ">160 | ">24 |
">Francisco Morato | " data-sheets-numberformat="[null,2,"#,##0",1]">175.844 | ">264 | ">33 |
">Mairiporã | " data-sheets-numberformat="[null,2,"#,##0",1]">100.179 | ">78 | ">9 |
">Franco da Rocha | " data-sheets-numberformat="[null,2,"#,##0",1]">154.489 | ">314 | ">24 |
" data-sheets-numberformat="[null,2,"#,##0",1]" data-sheets-formula="=SOMA(R[-5]C[0]:R[-1]C[0])">608.783 | " data-sheets-formula="=SOMA(R[-5]C[0]:R[-1]C[0])">990 | " data-sheets-formula="=SOMA(R[-5]C[0]:R[-1]C[0])">103 |
Até sexta-feira (8), Cajamar tinha apenas dois leitos ocupados por pacientes de Covid-19 no Hospital Municipal Enfermeiro Antônio Policarpo de Oliveira que conta com 50 leitos de enfermaria e 10 leitos de UTI.
Além disso, foi montado um hospital de campanha, em funcionamento desde o dia 30 de março, com 28 leitos de retaguarda e quatro leitos de emergência, segundo informações da prefeitura.
Por outro lado, a situação poderia ser mais confortável. Uma outra unidade de saúde, um hospital no bairro da Vila União está com as obras paradas.