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Repórteres falam sobre a importância de humanizar histórias

Entre os dias 28 e 30 de junho, São Paulo sediou o 13º Congresso de Jornalismo Investigativo. Acompanhei o evento e agora falo um pouco sobre o painel “Mulheres, violência e a sensibilidade para contar as histórias”.

Apesar de a Agência Mural não noticiar atos violentos, os materiais apresentados possuem semelhanças ao trabalho que desenvolvemos nas periferias da Grande São Paulo. Afinal, a Mural, iniciada em 2010, também surgiu como uma crítica à forma como algumas histórias são contadas na mídia: no nosso caso, a maneira como as periferias são retratadas.

#UmaPorUma, JORNAL O COMMERCIO

Em 2016, mais de 4,6 mil mulheres foram assassinadas no Brasil, uma média de 4,5 brasileiras mortas para cada 100 mil habitantes. Em Pernambuco, no nordeste do país, a taxa de homicídios de mulheres por morador é ainda maior, 5,8 pernambucanas mortas a cada 100 mil. Foi olhando para esses números e cansadas de ver o problema ser menosprezado, que as jornalistas Ciara Carvalho e Julliana de Melo resolveram dar início a um novo projeto: o #UmaPorUma.

“O projeto nasceu de um incômodo; de contar todo dia uma morte, ter 25 linhas e aquilo não te levar a nada, a nenhum tipo de reflexão”, explica Ciara.

Com um espaço próprio no NE10, portal pernambucano do Jornal do Commercio, o #UmaPorUma apresenta as histórias de todas as mulheres mortas no ano de 2018 em Pernambuco. A ideia era transformar notícias trágicas em uma reflexão maior sobre o contexto que produz as violências contra o público feminino.

No site, as histórias são acompanhadas de informações sobre a tipificação do crime, a situação do processo e o nome do principal suspeito, além de estatísticas contextualizadas sobre o assunto. De janeiro a maio, o projeto contabilizou 110 homicídios, entre eles 27 feminicídios.

As jornalistas acreditam na importância da humanização no jornalismo para estimular o debate (Alice Vergueiro/Abraji)

Para Ciara e Julliana, humanizar os dados mostrando quem são essas mulheres é essencial para o debate sobre este tipo de violência, e sobre a maneira de se fazer jornalismo. “Esse projeto é também para olhar para nós enquanto jornalistas. A gente tenta corrigir algumas coisas que são erros nossos, da forma de fazer jornalismo e da pressa de fazer jornalismo. É como se fosse uma janela: nesse aqui a gente vai tentar fazer diferente”, explica Ciara.

O fazer diferente se reflete desde a maneira como as repórteres trabalham até o produto final apresentado para o leitor. Na contramão das matérias factuais dos jornais diários, a equipe do #UmaPorUma rastreia semanalmente a evolução da investigação policial, além de entrevistar as famílias e visitar o local do crime. O acompanhamento dos processos gera pressão para que os casos sejam investigados até o final, explica Ciara: “A gente tem que pensar que não tá divulgando a morte de Marielle [vereadora do Rio de Janeiro morta em março de 2018], que tá toda a imprensa acompanhando. A gente tá divulgando mortes anônimas. São pessoas que são invisíveis”.

Atualmente, o #UmaPorUma reúne quase 30 repórteres, que também têm o auxílio de fotógrafos e ilustradores do Jornal do Commercio.

“As Minas de Minas”, REVISTA AzMina

As jornalistas Carolina Oms e Amanda Célio, da Revista AzMina, também participaram do painel “Mulheres, violência e a sensibilidade para contar as histórias”. Elas apresentaram “As Minas de Minas”, reportagem que narra a história de exploração sexual de crianças e adolescentes nas rodovias de Minas Gerais.

A dupla destacou a importância da sensibilidade dos repórteres no momento de escrever matérias sobre pessoas em situações de vulnerabilidade, um cuidado quecomeça na preservação das pessoas entrevistas: “As pessoas vêm antes das histórias”, fala Amanda. 

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