Enquanto a vacinação contra a Covid-19 avança na Grande São Paulo, os planos de reabertura do comércio e dos restaurantes são colocados em prática. O problema é que, na região metropolitana, apenas 31% da população está com a imunização completa (com as duas doses ou a dose única no caso da Jansen).
Por isso, neste momento, a necessidade de proteção segue sendo uma medida necessária, enquanto governos federal e estadual anunciaram uma terceira dose para setembro.
Se, no começo da pandemia, acreditávamos que álcool gel e máscara eram a fórmula da blindagem contra o coronavírus, hoje sabemos que não é exatamente assim. As máscaras de pano convencionais nem sempre vedam todo ar que sai e entra da boca e do nariz, além de serem facilmente danificadas.
Por isso, a difusão do uso das máscaras PFF2 (Peça Facial Filtrante) é uma boa alternativa para sair de casa. Biólogas do Embraza Ciência, Rafaela Ruthes e Suellen Paiva explicam as diferenças.
“As máscaras PPF2 (ou N95) possuem uma tecnologia diferente com filtros que funcionam de forma semelhante a uma teia de aranha, prendendo as partículas de vírus no seu tecido, enquanto as de tecido funcionam de forma semelhante a peneiras, segurando menos as partículas menores.”
As duas responderam em conjunto à Agência Mural por email. O Embraza tem como objetivo discutir ciência de forma clara para todos os públicos, e faz ações de distribuição de máscaras PFF2 nas periferias da Grande São Paulo.
Apesar da menor efetividade, em termos de acesso, as máscaras de pano ganham de lavada. Elas estão à venda em pontos de ônibus, camelôs, farmácias, mercados e até em casa, se você tem alguma costureira na família. Com R$ 10 é possível conseguir uma proteção de rosto que ainda combina com sua roupa.
Enquanto isso, as máscaras PFF2 são mais difíceis de encontrar. Na internet, é possível comprá-las a partir de R$ 2 em sites como Shopee ou Mercado Livre. Quem não tem familiaridade com o comércio online, deve ir atrás de lojas especializadas em EPIs (Equipamentos de Proteção Individual), em materiais cirúrgicos ou de construção.
QUANTO CUSTA A PFF2?
Uma busca pela máscara PFF2 nos sites de vendas revela a discrepância grande nos preços entre os vendedores. Nas lojas físicas, não é diferente. Entramos em contato com 44 estabelecimentos espalhados pelas periferias da Grande São Paulo e o preço da peça mais barata variou de R$ 1,90 até R$ 25 no varejo. A média de custo nestas lojas foi de R$ 5,48.
Considerando trocar de máscara duas vezes ao dia e reutilizá-las a cada 72 horas de descanso, uma pessoa precisa de 12 peças. Na média, o investimento fica em R$ 66. Uma ideia para baixar o custo é buscar mais pessoas interessadas e fazer uma compra em grupo, no atacado. Maiores quantidades também reduzem ou zeram o frete de lojas online.
PODE REUTILIZAR PFF2?
A boa notícia é que, mesmo que as embalagens indiquem que são descartáveis, esses equipamentos podem ser reutilizados. Segundo as biólogas Rafaela e Suellen, a utilização repetida da PFF2 ocorre porque estamos em uma situação de alta demanda. Neste caso, são necessários alguns cuidados.
- Não molhar ou dobrar, o que pode afetar as fibras do tecido da máscara
- Esterilizar, deixando a máscara em um lugar ventilado, na sombra, por 72 horas
- Não usar spray de álcool ou álcool em gel, pois também pode afetar as fibras do tecido
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PFF2 PARA TODOS
Na pandemia da desigualdade, quem mais se arrisca ao coronavírus são pessoas que não têm a possibilidade de trabalhar em casa. Caixas de mercado, cobradores de ônibus e faxineiros, por exemplo, não puderam ficar em casa enquanto a Covid-19 se alastrava.
“Existem algumas questões que influenciam na escolha das máscaras, algumas envolvem a crise econômica que vivemos. Muita gente está usando a mesma máscara desde o início da pandemia”, pontuam as biólogas do Embraza Ciência.
O projeto nasceu diante do debate sobre o papel da ciência que se proliferou com o coronavírus. “A ciência é produzida por pessoas que têm interesses, há uma disputa de narrativa e de espaço dentro dela. Negar isso e colocá-la acima de tudo é contraproducente e elitista”, explicaram Rafaela Ruthes e Suellen Paiva.
Como uma forma de colocar a missão em prática, o Embraza Ciência decidiu distribuir máscaras PFF2 em alguns locais da cidade, principalmente as periferias de São Paulo. “Falamos sobre a importância das máscaras, as formas de uso e as dificuldades de adaptação”, contam.
Segundo as entrevistadas, o poder público deveria fazer o papel de disponibilizar estes equipamentos para a população em postos de saúde, como se faz com as camisinhas. “Sem uma política séria de controle de pandemia que viabilize a distribuição das PFF2 não faz sentido ofender as pessoas que ainda usam as máscaras de pano”, finalizam.