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Moradoras da Vila São Pedro investem em salões de beleza como principal fonte de renda

Por: Maria Eduarda Silva

“Aprendi a não competir, mas ter parceria”, afirma Francisca Gonçalves Dantas, 51, ou Fran, como é conhecida. Dona de um salão de beleza, na Vila São Pedro, em São Bernardo do Campo, ela encara assim o crescimento de concorrentes na região. “Quando uma colega de profissão monta um salão próximo ao meu, encaro como uma parceria, uma forma de trocar e não de competir”.

De acordo com dados da Receita Federal, há 35.720 mulheres cadastradas como MEI (Microempreendedor individual) abertos no município do ABC Paulista.

As atividades econômicas que mais se destacam são: cabeleireiros, com 3.829 MEIs; preparação de documentos e serviços especializados de apoio administrativos não especificados, com 2.670, e comércio varejista de artigos do vestuário e acessórios, com 2.393.

A Vila São Pedro é a 17º maior favela do Brasil e a 3º maior do estado de São Paulo. De acordo com o censo, são 28.466 moradores na Vila. É nessa comunidade que muitas mulheres começaram o próprio negócio.

Francisca Gonçalves é moradora da Vila há 26 anos e montou o próprio negócio em 2016 @Maria Eduarda Silva/Agência Mural

Francisca é natural de Vargem Alegre, no Ceará. Chegou na Vila São Pedro em 1999, quando o bairro tinha 12 anos. “Quando vim morar aqui as ruas eram de terra e não tinha ônibus. Vi a Vila crescer e hoje fico impressionada em ver o quanto evoluiu”.

Fran conta que o desejo de montar o próprio negócio partiu da necessidade de ter mais tempo para o cuidado com o lar.

‘Comecei por necessidade. Tinha três filhos e nunca tinha tempo para cuidar deles e da casa, então eu tive a ideia de fazer o curso para depois montar o meu próprio negócio’

No caso de Fran, o salão começou pequeno, mas hoje ganha novas formas. Antes de montar o próprio negócio, Fran trabalhava como cuidadora. Primeiro fez o curso de técnica de enfermagem, mas depois descobriu no ramo da beleza a verdadeira vocação.

Ela começou fazendo apenas unha, mas hoje, nove anos depois, oferece outros serviços. “Em 2016, quando saí da empresa que trabalhava e montei o salão, comecei fazendo só unha. Depois passei a me especializar em outras áreas e hoje faço unha, cabelo, maquiagem e design de sobrancelha”.

Ana começou no mercado da beleza depois de encontrar dificuldades no mercado formal @Maria Eduarda Silva/Agência Mural

Com trajetórias diferentes, mas profissão compartilhada, Ana Cleide Absolon, 46, também trabalha na Vila São Pedro. Natural do Piauí, Ana começou a mostrar os primeiros traços da profissional que se tornaria ainda na adolescência. “Aos 12 anos, eu já cortava o cabelo do meu irmão mais novo. Nessa época eu morava com a minha avó, no Piauí”.

Apesar de a habilidade ter despertado cedo, foi só em 2005 que Ana começou o curso de cabeleireiro. Sem dinheiro para pagar a formação, ela contou com a ajuda de um primo do marido para pagar o curso. Ela relata que nunca foi um sonho abrir o próprio negócio.

“Comecei para ter renda. Eu não conseguia outro emprego, porque não tinha terminado a escola. Então como já tinha o curso, comecei a trabalhar e hoje sou apaixonada pela profissão. Em 2017 consegui terminar a escola”.

Em 2008, abriu o próprio salão e trabalhou no mesmo ponto por 15 anos. Há dois anos, fechou o salão e voltou a trabalhar em sociedade com outra cabeleireira:

“Durante esse tempo, a minha maior dificuldade era manter uma equipe, porque as pessoas que vinham sempre queriam um trabalho registrado e eu não conseguia oferecer isso.”

Vista da Vila São Pedro, em São Bernardo do Campo. Cidade tem maior parte dos MEIs no serviço de cabeleireiro @Maria Eduarda Silva/Agência Mural

Uma pesquisa realizada em 2022 pela ABSB (Associação Brasileira de Salões de Beleza) mostrou que durante a pandemia cerca de 375 mil salões de beleza fecharam as portas.

Para os pequenos negócios, o impacto se tornou ainda maior quando era necessário decidir entre correr o risco ou ganhar o sustento.

“Se eu precisasse atender, já estaria colocando a minha família em risco, já que o salão é na garagem da minha casa; mas não atender também não era uma possibilidade, já que o sustento da minha família vinha do salão”, relata Fran, ao destacar que a pandemia foi o momento mais difícil que já vivenciou na profissão.

Depois de fechar o salão, Ana se dividia entre dois trabalhos: fazer freela em uma rede de salão e atender alguns clientes na garagem de casa. Terça, quarta e quinta, ela se dedicava a essa rede, já na sexta e no sábado, atendia em casa. Foi assim que ela se manteve nos últimos dois anos, antes de começar a atuar no salão que está hoje.

Fran busca se especializar mais na área @Maria Eduarda Silva/Agência Mural

Em um bairro tão grande e tão cheio de profissionais da mesma área, Fran destaca que o mais importante é criar parcerias.

Ana continua sonhando. Tem o desejo de fazer uma graduação para se especializar cada vez mais. “Quero fazer graduação em tricologia e um curso de estética, mas como não tem aqui (em São Bernardo) vou começar a tirar minha habilitação para ir para São Paulo. Esse é o meu sonho”, destaca.

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